Serra discursa na Sociedade de Cardiologia do Estado de SP

Governador: Queria dar o meu doa noite a todos e a todas. Cumprimentar o prefeito (Gilberto) Kassab (de São Paulo). Queria cumprimentar muito especialmente o ministro (Adib) Jatene, que vai […]

sex, 01/05/2009 - 23h00 | Do Portal do Governo

Governador: Queria dar o meu doa noite a todos e a todas. Cumprimentar o prefeito (Gilberto) Kassab (de São Paulo). Queria cumprimentar muito especialmente o ministro (Adib) Jatene, que vai ser homenageado no dia de hoje. Queria prestar minha homenagem particular a ele, lembrando que o Adib Jatene, além de ser um grande cirurgião e pesquisador, tem outros atributos que o diferenciam dentro da área médica. Primeiro, porque é um homem público, tem uma preocupação com o conjunto do País, e prestou serviços muito importantes na área pública da Saúde. Segundo, porque é um organizador do setor – a prova é a fundação desta sociedade (Socesp – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo). Terceiro, porque também é um bom sociólogo. É dele o pensamento de que o problema do pobre não é ser pobre, é só ter amigos pobres – o que dificulta muito a solução dos seus problemas. Em quarto, também é um bom economista, tem conhecimento suficiente para não ser enganado pelos economistas.

Queria cumprimentar também o Alberto Beltrame, o Secretário de Atenção à Saúde do Ministério (da Saúde), que representa o ministro (José Gomes) Temporão, e foi da minha equipe no Ministério (da Saúde). Fausto Feres, presidente do Congresso de Cardiologia de São Paulo. O Ari Timerman, que é o presidente da Sociedade de Cardiologia, a Socesp. O Antonio Carlos Chagas, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O Raul Dias dos Santos Filho, coordenador científico do Congresso de Cardiologia. A Amanda Guerra de Moraes Rego Sousa, diretora-geral do Instituto Dante Pazzanese, que representa o nosso secretário (da Saúde, Luiz Roberto) Barradas. O maestro João Carlos Martins, regente dessa formidável orquestra. E os presidentes das associações, conselhos, sindicatos médicos, estudantes de medicina, congressistas e expositores.

Eu fiz questão de vir aqui hoje para expressar a satisfação do Governo de São Paulo com o avanço da disciplina de Cardiologia no Estado de São Paulo e no Brasil. Nós temos aqui grandes hospitais – o InCor (Instituto do Coração), o Dante Pazzanese e outros. Eles se destacam não apenas pelas ações – seja nas consultas, seja nas cirurgias – mas também na pesquisa, que é um fator crucial no tratamento dos problemas cardiológicos. E nisto, inclusive, seria interessante que tivéssemos mais tempo para mencionar tudo aquilo que já foi feito em matéria de pesquisas por nossos hospitais, nossas instituições, e o que está sendo feito hoje também – que sem dúvida configura uma espécie de círculo virtuoso no atendimento médico na área da cardiologia, em São Paulo e no Brasil.

Círculo virtuoso é quando realmente se cria um processo de melhora contínua, que caminha praticamente sozinho, com apoio institucional. Tem aquela massa crítica de conhecimento de pesquisadores que permite que os avanços não se detenham nunca. E eu sempre tive como orientação, como pensamento em relação à área da Saúde, que nós temos que fazer com que o sistema público caminhe sobre duas pernas: a da prevenção e da atenção básica.

A prevenção o Brasil faz muito bem. É um dos países que melhor faz vacinação no mundo. Eu me lembro de quando nós introduzimos a vacina da gripe. Já no primeiro ano conseguimos uma cobertura para o público-alvo que era igual ou superior à que os Estados Unidos tinham, mesmo tendo introduzido a vacina na área pública, gratuita, para alguns setores, muitos anos antes. Nós conseguimos rapidamente, instantaneamente, cumprir a meta. O que mostra como o País é preparado para este tipo de ação. E, ao mesmo tempo, a outra perna é a da medicina de ponta, onde nós temos tido também um excelente desempenho. Não há contradição entre ambas, embora tenha gente no mundo que pensa que sim.

Havia as teses de que medicina pública tem que ser medicina para pobre. Tanto a esquerda quanto a direita, desde a época de Banco Mundial, tinham aquela perspectiva de que Saúde Pública é para cuidar da saúde dos pobres. E medicina para pobre é uma má medicina, até porque a boa medicina é para todos.

Eu sou daqueles que defendem o caráter universalizante das políticas sociais. Portanto, eu sempre vi, com muito agrado, e sempre dei o apoio, nos lugares onde estive, ao avanço pelas duas pernas: pela área do que tem de mais moderno e avançado, e pela área do que tem de mais básico e necessário. Não foi por menos, aliás, que na nossa época no Ministério promovemos um enorme aumento nas equipes de Saúde da Família, que foram desenvolvidas principalmente pelo Jatene. Conseguimos praticamente aumentar nove vezes o número de equipes de Saúde da Família em todo o Brasil, e triplicar o número de agentes de saúde.

Eu vejo São Paulo como o lugar que talvez mais sintetize o caminhar conjunto destas duas necessidades do sistema de Saúde brasileiro.
E quero também dizer que, fora da área de cardiologia, nós criamos no ano passado o Instituto do Câncer, que tende também a ser vanguarda. É o maior do Brasil, o maior da América Latina em número de leitos, vai concentrar uma grande parte do nosso esforço na pesquisa de medicamentos de tratamento. Essa é uma das áreas mais promissoras da medicina, que é o tratamento, que é a questão dos remédios e das imagens e da radioterapia, da medicina nuclear voltada para o câncer. É também um instituto de excelência, que vem se somar a outros existentes aqui em São Paulo.

Nós vamos ter, em junho, uma programação feita em parceria com esta sociedade, que é um mutirão. Neste ano, vão ser 150 mil pessoas no mutirão de consultas para diagnosticar e para detectar problemas, que vão mobilizar cerca de 500 unidades (de Saúde) no Estado. Eu quero dizer que o mutirão tem uma utilidade extra, que às vezes é pouco levada em conta. Algumas pessoas criticam para dizer que são ações tópicas, que o sistema, como um todo, deveria funcionar tão bem que não houvesse necessidade de mutirões. Também estou de acordo, mas como não funciona tão bem na rapidez, é muito importante fazer mutirões para avançar. Muitas vezes setorialmente, não só naquela área.

Mas o mutirão também tem outra importância. É que, em geral, oferece como contrapartida mais equipamentos – como foi o caso da oftalmologia. Nos mutirões de catarata, nós equipamos praticamente todos os hospitais do Brasil. Os que tinham o setor de oftalmologia ganharam novos equipamentos. O mutirão também se voltou para o olho diabético. Na verdade, terminou sendo uma ação de formação de recursos humanos no setor e de equipamento, além de conscientização da sociedade. E este (próximo) mutirão vai ser, na verdade, um plano piloto, uma experiência piloto para, no ano que vem, fazermos com um milhão (de atendimentos), ou seja, fazermos 10 vezes mais aqui no Estado de São Paulo.

Na época em que eu estive no Ministério, quero assinalar, nós demos passos importantes nesta área. Por exemplo: a portaria que criou mecanismos para a organização e implantação das redes estaduais de assistência cardiovascular; o estabelecimento de normas de classificação e cadastramento de centros de referência da área; e a aprovação de diretrizes para a implantação dos famosos stents (tubos colocados nas artérias para evitar principalmente as cirurgias de colocação de “pontes”, em conseqüência de insuficiência coronária), que eu acho uma técnica admirável. Espero nunca ter necessidade, mas que sei que se um dia tiver, em vez de ponte de safena põe-se um stent. Está certo?

Voltando aos mutirões, outro importante também foi o de cirurgias cardiovasculares. Pusemos dinheiro extra do SUS (Sistema Único de Saúde) mediante a criação de um fundo estratégico de alta complexidade (FAEC – Fundo de Ações Estratégicas e Compensação, criado em agosto de 2004). Para vocês terem uma ideia, de 1997 a 2002 o gasto anual com cirurgias cardíacas, implantação e substituição de marcapassos e angioplastias cresceu no Brasil 70%. Sem falar no aumento das cirurgias cardíacas e de outros procedimentos. São 200 mil, 300 mil procedimentos complexos. Muita gente que fala mal do SUS não tem idéia de todas as coisas que são feitas no âmbito do sistema, e com profissionais altamente qualificados. Medicina no Brasil, a medicina de ponta, é muito bem qualificada. Mandei fazer uma pesquisa recentemente a respeito do atendimento aqui em São Paulo. Como insisti muito para que o (Gilberto) Kassab fizesse no ano passado. Não só porque ia servir para a campanha dele, mas porque efetivamente era relevante. É a análise do desempenho do sistema feito com pessoas atendidas pelo SUS. Porque, em geral, as pesquisas entrevistam gente que não é atendida pelo SUS. Que ouve falar, e ouve falar mal.

Eu me lembro que, na época do Ministério, devíamos ter uns 6 mil hospitais da rede SUS. Se 1% deles tiver algum problema, são 60. Isso dá um Fantástico (programa dominical da Rede Globo) por semana – e ainda ficam alguns de reserva pra mostrar nos outros programas. Mas é assim, não é uma crítica à imprensa. No mundo inteiro é assim. Noventa e nove por cento pode ir bem, mas o pessoal se fixa no 1%. Isso acontece em todos os países. Eu considero o sistema canadense de Saúde o melhor do mundo. Eles conseguem ter um sistema melhor que o norte-americano gastando metade do que os Estados Unidos gastam, em proporção do PIB (Produto Interno Bruto). É um sistema estatal.

Pois bem, um dos melhores filmes que eu vi nos últimos tempos foi “Invasões Bárbaras” (do diretor canadense Denys Arcand), que se dedica a espinafrar o sistema de Saúde canadense. Em toda eleição é o problema número um, embora seja o melhor sistema do mundo. Porque a Saúde deve ser o único produto que sustentadamente, permanentemente, a demanda cresce acima do crescimento da economia. Pode ter ondas, como computador, celular, mas isso acaba com o tempo. Na Saúde, não. Na Saúde é permanente. No caso dos EUA, a demanda cresce 2% a cada 1% que o PIB aumenta. Realmente isso mostra como é forte a demanda pela Saúde, e também a responsabilidade que nós temos de baratear custos, micro e macroeconômicos, dentro do setor.

Mas eu dizia que fizemos agora uma pesquisa sobre o atendimento no Estado (de São Paulo), com os usuários. Os resultados são extraordinários. Ouviu pessoas atendidas efetivamente, não são nem familiares dos atendidos, são as pessoas efetivamente atendidas. Aliás, fizemos também uma pesquisa de satisfação. Enviamos correspondências para uns 200 mil, 300 mil pacientes por mês do SUS, em São Paulo, conferindo se foram bem atendidos, se tiveram que pagar, o que é irregular… Foi para detectar irregularidades e tudo mais.

Aproveitamos e fizemos uma pesquisa, que fez uma distribuição estatística mais apropriada, junto a 60 mil usuários, sobre quais eram os principais hospitais de São Paulo, no ângulo de quem está sendo atendido. Claro que o Hospital do Rim ganhou, porque a pessoa vai lá, eu não quero relativizar a vitória do Hospital do Rim, troca o rim e então aquilo para ele é (o máximo)… As notas foram altíssimas. Mas o Dante Pazzanese pegou que lugar? Quinto lugar. Entreguei o prêmio para vocês. É interessante registrar que as pesquisas de qualidade mostram algo que recompensa realmente o trabalho que é feito. O que não significa que as coisas sejam fáceis, que não haja problemas, que não é preciso ainda fazer muita coisa. Particularmente, Beltrame, o pessoal do Dante Pazzanese está querendo muito que o Ministério acelere a introdução no SUS dos stents farmacológicos.

Quero dizer, para concluir, que nós estamos fazendo muitos investimentos em São Paulo, seja no InCor, seja no Dante Pazzanese – que é um hospital menos conhecido, mas que hoje tem um número de leitos próximo do InCor, e terá mais quando forem concluídos os investimentos. Como sempre acontece, eles atendem muita gente de outros Estados. A gente anda pelo InCor e encontra não só pacientes como médicos que vêm lá fazer estágio. No Dante Pazzanese é a mesma coisa – o que sublinha o caráter nacional desse trabalho, mais do que qualquer outro indicador.

Claro, uma boa pesquisa serve para todos, mas não é apenas isso. É no atendimento direto, e na formação de recursos humanos, e isso nos deixa particularmente gratificados. Como gratificante foi poder ter vindo aqui para ter esse contato com vocês todos.

Muito obrigado!