Serra discursa na inauguração do laboratório de bioetanol em Campinas

Governador José Serra: Queria dar o meu boa tarde a todos e a todas. A criação do CTBE (Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol), este laboratório, para nós de […]

sex, 22/01/2010 - 16h32 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Queria dar o meu boa tarde a todos e a todas. A criação do CTBE (Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol), este laboratório, para nós de São Paulo é uma noticia muito grata. Há uma grande convergência de prioridades entre este campus todo, que reúne 3 laboratórios de grande capacidade, de grande prestígio, com as ações que o Estado vem desenvolvendo. E, na pratica, nós já temos uma parceria com o CTBE. Começa que o CTBE funciona em terreno do Governo do Estado – não é pouco, são 390 mil metros quadrados em uma área valorizada. Mas o comodato expirou, e eu quero aqui anunciar publicamente que nós vamos renovar, por um tempo muito grande, a cessão de uso, no dia de hoje. O que eu vou pedir depois, para o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) não é troca não. Mas vamos fazer essa cessão porque, inclusive… os prédios da União, quando não está a cessão regularizada, não podem ser registrados em nome da União, é uma complicação.

Além disso, os três diretores dos institutos – um é da USP (Universidade de São Paulo) e dois da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)… isso mostra uma integração já orgânica acadêmica – e a FAPESP, a Fundação do Amparo a Pesquisa, que é a instituição da qual os paulistas mais se orgulham… A FAPESP, na verdade, tem um dinheirão, porque ela recebe 1% da arrecadação tributária de São Paulo. Nós pensamos, às vezes, de até pedir empréstimo para fechar as contas no fim do ano para a FAPESP. A FAPESP também participa aqui – inclusive aquela sala que nós visitamos, de plasmas para processamento de celulose, conta com financiamento da FAPESP. E, portanto, pelo objeto da pesquisa, pela integração de recursos humanos e pela parte material, nos consideramos participantes desse centro e queremos ter uma proximidade cada vez maior.

São Paulo é a terra do etanol – e é verdade. Aqui nós baixamos a participação do petróleo na matriz energética, de 60 para 33%, graças ao etanol. E, olha, o etanol brasileiro deu certo não foi por sorte, não. Foram subsídios de 30 bilhões de dólares, desde os anos (19)70. Mas o fato é que, hoje, os subsídios são zero – portanto, é um projeto que venceu. Foi subsidiado, como não tem nenhum erro subsidiar indústrias nascentes, a gente sabe disso. O importante é que depois possam caminhar pelas próprias pernas. Agora… e também não foi só dar certo do ponto de vista da adoção, mas também do ponto de vista de custos.

Como resultado de pesquisas públicas, em São Paulo, da área privada e da área governamental, a produtividade por hectare da cana aumentou 40% desde os anos 70. E pode ainda crescer bastante mais. Isso mostra o papel que têm a inovação e as novas práticas de produção. Na verdade, quando a gente olha a planta da cana, a gente vê que apenas um terço da energia que tem nessa planta é utilizada com eficiência. No fundo, no fundo, o que este centro vai fazer, e o que nós também estamos desenvolvendo, é maximizar a eficiência dos outros dois terços. E nós queremos chegar – isto incluindo todas as etapas de produção, a começar pela própria cana – nós queremos ter no futuro uma espécie: em vez de cana de açúcar, açúcar energia. Disso é que se trata e somos muito otimistas a respeito das perspectivas de avanço nessa área.

Agora, nós, no âmbito do Governo do Estado, é importante que se diga, assinamos um convênio entre a FAPESP e as três universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e UNESP), que são mantidas também com recursos tributários do Governo, mas que têm autonomia, para a implantação de um Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, que vai nascer sócio, irmão deste centro. Este centro vai privilegiar, evidentemente, as tecnologias, não só de segunda e terceira, mas também de primeira geração, bem como o conhecimento dos impactos econômicos, sociais e ambientais da produção e uso de bioenergia. E nós vamos ter, para este centro, mais de 150 milhões de reais.

Eu, no caso do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, do IPT, eu quero aqui, porque é uma rara oportunidade, como dizia o ministro (da Ciência e Tecnologia) Sérgio Rezende, de ter a comunidade científica tão bem representada aqui. Nós estamos fazendo uma revolução no IPT. O IPT se confunde com a industrialização brasileira e com a indústria da construção civil. Mas nós resolvemos dar um salto muito grande no IPT, com investimentos que se acercam a 190 milhões de reais. Desses investimentos, é interessante que se diga, o Governo Federal é parceiro, através da Petrobrás, através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e através da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), mais ou menos metade. Para ver como as parcerias… eu não sabia que havia essa parceria. Eu tinha o dado agregado do IPT, não sei se o ministro Sérgio sabe, mas essa parceria nasce naturalmente, pela própria comunidade científica. E, no caso do IPT, nós estamos fazendo também uma verdadeira revolução em bionanotecnologia – materiais leves de estruturas pesadas, indústria naval – preparando o IPT para as novas etapas do desenvolvimento brasileiro, inclusive com o envio de dezenas de bolsistas para o exterior, que é um grande investimento sempre a ser feito.

No caso do IPT, o que nós estamos pleiteando do BNDES é um financiamento que, eu reconheço, é bastante volumoso, de mais de 100 milhões de reais, para gaseificação da biomassa. Este é um investimento que vale a pena fazer. E o IPT, como a FAPESP, são símbolos de instituições de qualidade em São Paulo e no Brasil. Mas, no caso ainda da FAPESP, vale a pena ressaltar as parcerias que, junto com o CNPq, a FAPESP está fazendo, com o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas. Vão investir cerca de 63 milhões de reais, ambas instituições, aos quais se somarão 8 milhões de reais vindos de parceiros (privados) como a Braskem, a Dedini e a Oxiteno . Nós estamos fazendo também parcerias com as grandes empresas privadas, inclusive da área da química – eu diria, agora, da alcoolquímica. Ou com indústrias produtoras de equipamentos, como é o caso da Dedini. Portanto, estamos inteiramente voltados ao espírito que preside a criação deste centro.

Quero dizer também que esses recursos que nós estamos investindo no IPT, recursos que estamos investindo no novo Centro Paulista de Bioenergia, eles não vêm de nenhuma folga orçamentária não – nós não estamos nadando em dinheiro. Isto foi fruto da venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil. Quando nós vendemos, separamos um montante e dissemos: isto vai para ciência e tecnologia aqui no Estado de São Paulo. Nós estamos trocando a natureza do capital. O que era capital de um banco comercial, estamos transformando em um capital de infraestrutura, em outras coisas, e no capital que é o mais importante de todos, que é o da inovação, é da ciência e da tecnologia. Portanto, este centro nasce com o signo da parceria, com o signo do progresso, com o signo do avanço.

No caso em particular de São Paulo, nós não queremos mais terras plantadas de cana de açúcar, já tem 4 milhões e 200mil hectares. Sabe, presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva), que a maior parte disso era queimada na colheita? São Paulo queimava 2,5 milhões de hectares – como deve ter uns 25 milhões de hectares de tamanho, era 10% do território. Nós fizemos um protocolo com o setor que está reduzindo drasticamente as queimadas. Não tem remédio aí, tem que mecanizar e abrir oportunidades de emprego na cadeia produtiva – até porque o emprego na colheita de cana é dos piores em matéria de saúde, de preservação física. Mas é um plano que vem dando certo com protocolo, não precisou fazer lei. Claro que se a indústria não fizesse nós faríamos a lei, mas com o protocolo tem funcionado muito bem.

Mas, eu dizia, nós não temos mais interesse em aumentar a área plantada. O que nós queremos é aumentar a produção via tecnologia, eficiência, produtividade. E este centro vai contribuir muito para isso, não só para São Paulo, para todo o Brasil, porque nós vivemos em um País inteiramente integrado nessa matéria. Dizia o ministro Sérgio que em Pernambuco há uma inovação em matéria de plantação de cana que, se der certo, vai ser uma revolução, não apenas em Pernambuco, mas também em todo o nosso País. E eu quero lembrar também que no dia que as pesquisas derem certo, que tiverem sucesso em matéria da exploração econômica da celulose e do etanol, a cana-de-açúcar vai manter a sua vantagem comparativa. Ela é craque, é melhor, inclusive, na produção de álcool pela celulose. Portanto, ela vai ter um papel muito a longo prazo no Brasil e se Deus quiser no mundo.

Meus parabéns ao Governo Federal. Meus parabéns à comunidade científica. Meus parabéns a todos nós, a Campinas, e a todos nós por mais essa iniciativa para a qual nós já estamos colaborando e vamos colaborar cada vez mais.

Muito obrigado!