Serra discursa durante assinatura de contrato entre DF e Alstom

São Paulo, 23 de julho de 2009

qui, 23/07/2009 - 23h00 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Eu queria aqui cumprimentar os ministros Márcio Fortes (das Cidades) e Miguel Jorge (do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior); o governador que nos falou, José Roberto Arruda (do Distrito Federal); os deputados federais Paulinho da Força Sindical e o Carlos Zarattini; o presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho; o prefeito Gilberto Kassab; o presidente da Alstom Brasil, Philippe Delleur. Queria também saudar o Cláudio Prado, vereador (em São Paulo); o Antônio Neto, presidente da CGT (Central Geral dos Trabalhadores) do Brasil e os diretores, funcionários, dirigentes sindicais e trabalhadores aqui da Alstom.

Eu estava dizendo para o (José Roberto) Arruda que, quando eu era garoto, a Vila Leopoldina era mato. Hoje é uma região quase central. Hoje eu moro aqui perto e é uma região já… o primeiro círculo concêntrico de São Paulo. E é realmente uma coisa auspiciosa ver essa fábrica produzindo, abastecendo – e pensar também… lembrar que isso aqui era a antiga Mafersa, que quebrou. Não porque era uma empresa ineficiente – quebrou pelas vicissitudes da economia, inclusive, pela retração dos investimentos. Na época eu era ministro do Planejamento, de quem dependia o BNDES. E nós fizemos um movimento para salvar a Mafersa – não por conta disso, porque já não dava mais, mas para que ela continuasse funcionando e trabalhando. É uma das coisas que eu me orgulho na vida pública de ter viabilizado na época, a continuidade da empresa.

Agora, queria também dizer que sinto muito aqui a ausência do presidente Lula. Eu, na hora que eu posei com o helicóptero, o piloto disse: “Daqui não se sai mais”. E provavelmente era a hora que ele iria sair de lá, da avenida Paulista. Então, realmente, o obstáculo de vir por terra da avenida Paulista até aqui… ele ainda não teria chegado. Portanto, é uma ausência involuntária, que nós lamentamos e, ao mesmo tempo, agradecemos, porque, bem ou mal, de fato, essa operação de crédito aqui hoje é feita graças ao impulso que o presidente Lula deu nessa área, tanto ao Ministério do Desenvolvimento, quanto ao Ministério das Cidades e ao BNDES, em particular.

E quero fazer aqui… Todo o Brasil sabe que eu tenho divergências com a política econômica do Governo Federal. O seu conjunto tem partes corretas e partes erradas. A parte errada é a política monetária de câmbio que, aliás, prejudica a atividade da produção de bens e equipamentos, porque a indústria se torna pouco competitiva. O estrangeiro, cada vez mais, pode vender mais barato para o Brasil, porque o dólar tem um valor irreal, e isso está acontecendo de novo. Agora, tem o lado certo da política econômica do Governo (Federal) – e um desses aspectos é a política do BNDES. Eu queria publicamente aqui me congratular com ação que o Banco vem fazendo sobre a presidência do Luciano Coutinho. E não estou dizendo isso não porque o Luciano é meu amigo, meu colega da Universidade (Estadual) de Campinas (Unicamp), estudou até nos Estados Unidos, na mesma universidade que eu… mas não estou dizendo por causa disso. Estou fazendo aqui uma homenagem que eu faria a uma pessoa, mais como homem público, pelo trabalho que vem fazendo.

Bem, são 12 trens. O Arruda botou 48 carros. Quer dizer: quatro carros para cada trem. Isso vai significar emprego. É uma cooperação de Brasília com São Paulo. Brasília gasta… porque o dinheiro é do BNDES… mas quem vai pagar o empréstimo? É Brasília. Não é de graça. E os empregos são aqui gerados. Isso é normal. Também porque São Paulo é o lugar onde a União… Se vocês pegarem impostos no sentido mais amplo, incluindo PIS, COFINS, Fundo de Garantia, etc., São Paulo e a União arrecadam entre 45 (%) e 50% de toda a sua arrecadação. E, portanto, isso beneficia todo o Brasil, por causa dos mecanismos de Fundo de Participação – e, inclusive Brasília, pela a fatia que tem, o que é justo, e que assim seja, do Governo Federal na manutenção de muitos dos seus serviços. Portanto, nós temos aí uma interação positiva.

Quero dizer também que no começo eu era cético sobre o metrô de Brasília – eu estou dizendo final dos anos 80, e estava dizendo isso para o Arruda – e verifiquei ao longo dos anos como eu estava enganado, como realmente estávamos subestimando a projeção de demanda, a ponto de que hoje o metrô lá está congestionado. Aliás, para vocês terem uma idéia de como é isso, eu estive outro dia em Nova Iorque, olhando o metrô de lá e obras. E pude verificar, aliás, que nós temos uma tecnologia de construção de metrô mais avançada do que tem Nova Iorque. Porque eu entrei no túnel lá, para olhar – e inclusive eu não estou falando mal, porque são amigos nossos em Nova Iorque – mas a limpeza, a organização do metrô de São Paulo que eu conheço aqui, subterrâneo, tem uma tecnologia muito mais moderna de construção do que lá.

Mas vejam a diferença: o metrô de Nova Iorque tem quatrocentos e cinqüenta quilômetros (de extensão), quatrocentos e cinqüenta, mais de sete vezes o metrô de São Paulo – e transporta, (José Roberto) Arruda – um bilhão e cem milhões de passageiros/ano, um bilhão e cem milhões! O de São Paulo tem sessenta e um quilômetros (de extensão), e transporta um bilhão (de passageiros) por ano. É incrível isso. Agora, não é só gente amassada não. É também porque tem mais racionalidade na exploração das linhas e nos próprios trens, eficientes. E nós estamos mudando todo o equipamento que vem dos anos (19)70. A nossa compra de trens para o Governo de São Paulo é de 107 trens na (atual) gestão. Cento e sete trens daria, na conta do Arruda, 428 carros – é o maior projeto de expansão já feito na história. Voltado a quê? Àquela que é uma necessidade crucial do trabalhador na região da Grande São Paulo, que é o transporte coletivo, que nós sabemos que é a coisa mais difícil que tem e que só tem solução estrutural.

A gente está fazendo rodoanel, uma nova marginal etc. e tal, mas realmente a questão está nos trilhos. O ministro (das Cidades) Márcio Fortes falou de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, popularmente conhecido como Pré-Metrô). O projeto do (Gilberto) Kassab para (o bairro paulistano) a Cidade Tiradentes são 22 quilômetros (de extensão) de uma modalidade de VLT, pode ser pneu ou trilho, mais provavelmente trilho – mas é uma nova modalidade que vai ser revolucionária. Nós vamos introduzir isso para (acesso ao Aeroporto de) Congonhas, para várias outras linhas. Quando o volume de passageiros é menor, as distâncias são menores e tem que ter mais paradas, aí o VLT funciona muito bem.

Mas, como eu disse, estamos turbinando a demanda. Houve uma concorrência maior, que quem ganhou foi a CAF (Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles), uma empresa espanhola. Mas nós colocamos como condição que produzisse no Brasil, porque era com financiamento externo – e quando é financiamento externo as fontes exigem uma participação mais aberta. E aí eles abriram uma fábrica em Hortolândia, no (interior do) Estado de São Paulo, muito importante. Nós fomos lá verificar e, para vocês terem uma ideia, eu tive a ideia, isso está funcionando. Nós destacamos técnicos do Metrô para ficarem lá acompanhando, para ver se estão trabalhando no ritmo. Ou seja, estão controlando a velocidade da fabricação, porque nós não podemos ficar sem os equipamentos. De resto, há outros grandes fornecedores, entre os quais a Alstom, que neste momento também tem um papel proeminente. Portanto, a nossa fábrica aqui tem um papel decisivo.

Por último, eu quero sublinhar esse trabalho de cooperação entre esferas e mesmo entre Estados, entre esferas de Governo e entre Estados. Nós estamos todos trabalhando pelo Brasil, não é? Trabalhar nas grandes metrópoles hoje é enfrentar os problemas sociais onde eles são mais agudos. São Paulo, Arruda, tem duas partes: metade da população numa e metade na outra. Metade, a Grande São Paulo; metade, interior.
Interior, na média, é um país desenvolvido. A Grande São Paulo é onde estão os problemas sociais – primeiro, os principais que nós temos, na cidade (de São Paulo) e nas cidades que estão em volta. E este investimento que nós estamos fazendo, muito do que vocês produzem, está destinado à Grande São Paulo, a melhorar a vida da população aqui, da população assalariada que trabalha, e nivelar o Estado por cima.
Porque nós tivemos que elevar a região da Grande São Paulo, que tem 20 milhões de habitantes, ao nível que hoje tem o nosso interior, cujos indicadores – vocês vão olhar a mortalidade infantil, vocês encontram cidades que têm oito (óbitos) de índice de mortalidade infantil (para cada mil nascidos com menos de um ano), que é de país desenvolvido. Quer dizer, oito por cada mil crianças nascidas vivas com menos de um ano.

Os problemas nossos sociais maiores estão aqui, e nós estamos enfrentando com muita decisão. E agradecemos… eu acredito que o Arruda já fez isso, eu também fiz, mas reitero… a cooperação que o BNDES tem feito nesse investimento. Porque no caso nosso não é só no Metrô – é também em saneamento, coisa que é outro componente fundamental da vida na região da Grande São Paulo e todo o interior. Eu tenho uma satisfação na vida: a primeira vez que o BNDES emprestou para Metrô foi no Governo (Franco) Montoro, graças ao trabalho na época tocado pela Secretaria do Planejamento e por mim (que era o secretário). O BNDES não queria entrar em Metrô, mas queria entrar em hidrelétrica. Eu disse: “Muito bem, só entra na hidrelétrica se entrar no Metrô também”. E aí, com uma pressão forte, eles acabaram financiando o Metrô até o Tatuapé. Posteriormente, o BNDES financiou até Guaianases, a extensão, até Vila Madalena e até Tucuruvi, quando eu era ministro do Planejamento. É uma boa linha de investimento para o BNDES.

Quero dizer também que o BNDES empresta recursos do FAT, do Fundo de Amparo ao Trabalhador, que não são recursos subsidiados. Tem muita gente neoliberal em economia que fica dizendo que, para abaixar os juros no Brasil, não tinha que ter juro oficial, tinha que nivelar tudo. Aí ninguém conseguiria investir nada, até porque no Brasil não tem financiamento interno para trend. Ou pega lá fora ou pega do BNDES. Vocês imaginam se tirar esse dinheiro. E o FAT, que foi resultado de uma iniciativa minha na Constituinte, a criação do FAT – na época eu botei 40% a ser investido a cada ano no BNDES. Deveria ter posto 80%, não é? É que na época já parecia bastante.

Era o Márcio Fortes, não ele (o atual ministro das Cidades)… era o outro Márcio Fortes, que até está aqui, o presidente do BNDES, quando nós fizemos isto. Deu certo, e nós temos que defender o BNDES e defender o FAT, e defender essa prática do FAT financiar o desenvolvimento, porque ela está sempre sobre o perigo, porque vive tendo gente escrevendo contra isso., Se no futuro pudessem, fariam uma modificação (na lei), mas no caso teriam que passar pelo nosso cadáver, coisa que não vai acontecer, porque ainda vamos viver muitos anos.

Muito obrigado. Parabéns a Brasília, parabéns ao BNDES, ao Miguel Jorge, ao Márcio Fortes, ao presidente Lula… E parabéns, sobretudo, aos trabalhadores desta empresa.

Muito obrigado!