Posse do Conselho Estadual da Condição Feminina

Tomaram posse 32 novas conselheiras e a nova presidente, Rosemary Correia

qui, 05/06/2008 - 20h53 | Do Portal do Governo

O governador José Serra presidiu na tarde do dia, 4, a cerimônia de posse dos novos membros do Conselho Estadual da Condição Feminina. Durante a solenidade no Palácio dos Bandeirantes, tomaram posse de seus cargos 32 novas conselheiras e a nova presidente, Rosemary Correia, que substitui Anelise Botelho, no cargo desde agosto de 2005.

Governador: O Lobo contou a história pela metade. Eu, realmente, tenho alma feminina. Tenho sim, só que sou lésbico. Mas eu acho que a alma feminina é uma… É verdade. Tinha um escritor português, Antonio Alçada – eu não sei quem leu, aqui, o Antonio Alçada – um grande escritor. Ele me dizia que eu e ele éramos parecidos nisso. Foi ele quem me chamou atenção, “Ei José, tu tens alma feminina como eu, mas eres lésbico também”.

Bem, queria cumprimentar o Lobo, que é o nosso secretário. O secretário da Justiça, cadê o Marrey, que eu não o estou vendo aqui, hem? Marrey? Espero não receber uma ação popular, agora, pelo que eu disse. A Analise Botelho, que é a presidente que deixa o cargo. A Rosemeire, eu digo Rosemeire, mas é Rosemarie, presidente nova do Conselho Estadual. As deputadas, todas aqui presentes, a Maria Lúcia, a Célia, a Rita e os homens também. O Baleia Rossi, o Gilson de Souza e o Mauro Bragato. Todos com alma feminina também. Eles é que devem se pronunciar sobre o outro lado, aqui.

Queria cumprimentar, também, o Luiz Flávio D’Urso, presidente da OAB, que me lembrou aqui o seguinte: Sabe por que Deus criou primeiro o homem e somente depois a mulher? Porque Ele primeiro fez o rascunho, para depois criar a obra completa e acabada. É do D’Urso.

Mas eu tenho uma condição especial com o Conselho da Condição Feminina, porque eu fui o autor do nome. Foi na campanha do Montoro de 1982, eu era coordenador, e tive a idéia de juntar algumas mulheres para nós discutimos a criação de um conselho. O nome foi idéia minha. Do que eu me lembro das mulheres presentes, eu esqueci a maioria. Estava a Ruth Cardoso e a Eva Blay, que participaram e gostaram do nome. Ficaram meio assim, principalmente a Ruth, que é implicante comigo, de eu estar dando tanto palpite. Mas, no final, o nome pegou.

Portanto, eu estou associado ao nome que, realmente, é bom. Eu não sou daqueles que separam. Nomes, às vezes, têm a ver com a personalidade também. A gente, às vezes, vê uma pessoa e diz: Ah, ela não combina com esse nome. Mas combina aqui, no caso de São Paulo. E a Analise, que fez essa gestão tão profícua, já no nosso governo, na Secretaria do Lobo, que nós criamos para coordenar todos os conselhos. São 60, não é, Lobo? São separados, mas vocês imaginem a complexidade disso, até porque reúnem diferentes setores com problemas bastante diferentes.

Eu lembro quando fomos criar, agora, a Secretaria Especial do Deficiente Físico, dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Tivemos uma longa jornada para convencer o conselho que a criação da Secretaria era numa boa, mas que também melhorou a elaboração da lei que permitiu criar esse conselho que, aliás, vai ter um trabalho comandado pela Linamara e vai ter um trabalho importante, porque vai criar uma rede de reabilitação em São Paulo, que vai se chamar Lucy Montoro. Ela foi a fundadora do Fundo de Solidariedade, foi a primeira presidente. Então vamos ter uma rede, vai começar na Vila Mariana, em Campinas, onde eu já lancei a pedra fundamental em todo o Estado, para assistir as pessoas que nascem com deficiência, que tenham um acidente ou que tenham um derrame e, portanto, ficam com dificuldades de movimento. Às vezes, com o mínimo de investimento, a gente consegue melhorar muito a vida dessas pessoas.

Mas, com relação à Rose, eu a conheço já há muitos anos, desde que o Montoro criou a Delegacia da Mulher, nessa inovação que fez no Brasil. Foi a primeira vez, no Brasil, que isso se fez. Ela ocupou essa primeira delegacia, depois foi eleita parlamentar quatro vezes, tem uma experiência política enorme de quatro mandados desempenhados desde então. Tem um compromisso com as mulheres, levou esse compromisso à sua atuação como deputada estadual e também ocupou a Secretaria da Criança, Família e Bem-Estar Social, da qual ela foi titular.

Portanto, é uma pessoa que tem todas as condições para dar continuidade à gestão da Analise e – como é normal de uma gestão para a outra – também promover inovações. Segundo o IBGE, em 2006, 29% das famílias brasileiras já eram chefiadas por mulheres. De acordo com o mesmo instituto, nos últimos dez anos, o número de famílias chefiadas por mulheres cresceu 79%. Assim, não é apenas um número alto: já de quase 30%. É que ele vem crescendo a uma taxa altíssima de mulheres chefiando as famílias, enquanto as chefiadas por homens cresceram apenas 25%. A taxa de crescimento de famílias chefiadas por mulheres é mais de três vezes a taxa de famílias chefiadas por homens.

Eu acho, pessoalmente, uma vantagem para as famílias. As mulheres são mais responsáveis, indiscutivelmente, conhecem melhor os problemas da família. A começar pela educação e saúde. Nós mandamos cartas do SUS assinadas por mim, para as pessoas atendidas no SUS, para conferir. Foi atendida, custou quanto, foi tal doença, o tratamento foi este. Confere? Se não confere, escreve de volta reclamando. Já fizemos isso agora. Estamos tendo um índice de retorno de irregularidades de 2%. É baixo para ser o total, mas grande em volume, porque são milhões de atendimentos do SUS. Pois bem, quem reclama? São as mulheres. Os homens são meio broncos, não assumem essa reclamação.

Eu fiz isso no Ministério da Saúde e nós começamos, porque o envio de cartas é errático, até para que não se possa prever. É muito importante ser meio ao acaso, mas nós escolhemos o universo das mulheres que tiveram parto, que deram à luz na Saúde. Elas reclamam. Mulher reclama, luta. É muito mais firme do que os homens para fazerem isso.

Portanto, eu não vejo desvantagem em cada vez mais mulheres chefiarem as famílias. Elas atuam com mais responsabilidade. Aliás, tenho uma brincadeira que eu faço com os jornalistas.  Eu digo o seguinte: Jornalista mulher, jornalista homem: a mulher é mais trabalhadora, na média, mais inteligente e um pouco mais paranóica ou fantasiosa nas notícias. Se vêem você atravessando a Rua Augusta numa calçada e o outro na outra calçada, já vêem alguma articulação aí presente. Chame-se isso imaginação, criatividade, etc.

Mas não é por menos que as mulheres, crescentemente, estão comandando a imprensa. Basta olhar os jornais. Colunistas, redação: estão comandando. Estão comandando a saúde. Enfermeiras, mais de 90% são mulheres. Auxiliares de enfermagem, mais de 90% são mulheres. Médicas, quando eu era ministro da Saúde e ia fazer palestra nas faculdades sobre um tema que eu não entendia, que é Medicina – mas convidavam – a maioria das alunas já eram mulheres. Dentistas, a grande maioria, são mulheres. Eu, aliás, prefiro ser atendido por dentistas mulheres, porque sempre são mais cuidadosas.

É interessante ver como elas vão avançando em todas as áreas. Professoras, nem falar. Professora sempre foi assim. Advogada também? Aí é um perigo. Mulher advogada, juíza. Mulher advogada, juíza, promotora eu faria cotas. Aí é um perigo público, porque levam muito a sério. Isso espelha uma mudança no nosso País. Indiscutivelmente, espelha.

Quando eu dou aula nas escolas – na quarta série, em escolas diferentes – as mais espertas sempre são as meninas. Claro que uma menina de dez anos tem o dobro da idade emocional de um garoto de dez anos que, em geral, é garotão, é crianção. As meninas já são mais sábias. Mas quando eu pergunto o que cada um vai ser na vida, as meninas são as que têm bem mais definição a esse respeito. Claro que é assim: Eu vou ser modelo e advogada, eu vou ser jornalista e modelo, eu vou ser veterinária e modelo. Modelo está na frente, mas é interessante ver todo esse processo de afirmação.

Eu acho positivo para o Brasil, acho positivo para nossa sociedade e eu espero que o conselho continue contribuindo e muito bem – viu, Rose? – nessa direção. Tem muita coisa ainda a se fazer, aliás, em relação à questão da violência contra a mulher, que está na origem da Delegacia da Mulher. Mas, infelizmente, a delegacia, a equipe que a gente tem feito, tem outras iniciativas, no sentido da assistência jurídica, de tudo. Essa eu acho que é uma área que ainda tem que avançar muito.

Vira e mexe, eu ouço falar mal de alguém que a gente conhece. Não vou aqui dedar de quem se trata, mas gente que a gente conhece. E alguém, quando que falar, diz: Esse sujeito batia na mulher. É verdade, gente como a gente. Como eu, não, mas gente como a gente aqui, como a gente assim que… Esse é um fenômeno. Portanto, temos muito a inovar na conscientização, principalmente além da ação, porque a consciência é que é o aspecto fundamental.

Boa sorte, Rose. Parabéns, Analise.

Muito obrigado.