Palácio dos Bandeirantes expõe acervo sobre a Revolução de 1924

Cartas, fotografias, mapas, objetos pessoais, exemplares de jornais de época – tudo isso está em exposição no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, desde o domingo, 25. O acervo faz parte […]

dom, 25/01/2009 - 18h02 | Do Portal do Governo

Cartas, fotografias, mapas, objetos pessoais, exemplares de jornais de época – tudo isso está em exposição no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, desde o domingo, 25. O acervo faz parte da exposição sobre a Revolução de 1924, ano em que a cidade de São Paulo foi duramente bombardeada por aviões e canhões do Exército. O governador José Serra participou da abertura da exposição.

Governador: Queria dar meu boa tarde a todos e a todas. Cumprimentar o doutor Antonio Carlos Munhoz Soares, que é presidente em exercício do Tribunal de Justiça de São Paulo, que colaborou para esta exposição. O prefeito da cidade, Gilberto Kassab. O vereador Dalton Silvano, que representa a Câmara de Vereadores. O deputado federal José Aníbal, que é líder do PSDB na Câmara dos Deputados. O deputado estadual Said Mourad.

Os secretários presentes aqui: da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, a quem devemos, no nível do governo, a organização dessa exposição. Secretário da Justiça, Luiz Antonio Marrey. Secretário da Casa Militar, coronel Kita. Secretário da Saúde, doutor Luiz Roberto Barradas. Saneamento e Energia, Dilma Pena. Relações Institucionais, José Henrique Reis Lobo. E a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro.

Queria também cumprimentar e agradecer o coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo, Carlos Bacelar. Cumprimentar os secretários municipais aqui presentes: Carlos Augusto Kalil, Andrea Matarazzo. Cumprimentar e agradecer muito ao Vladimir Sachetta, curador desta exposição. À Ana Cristina, que é curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo. Presidente da Sabesp, que é patrocinadora, Gésner de Oliveira. Queria também saudar o coronel Roberto Antonio Diniz, comandante da Polícia Militar em São Paulo. Superintendente da Política Técnico-Científica, o Celso Periolli. E a todos e a todas.

Bem, hoje São Paulo faz 455 anos e para comemorar, nós estamos inaugurando duas exposições aqui no Palácio. A primeira, que nos circunda, é sobre a Revolução de 24 e a segunda, retratos e personagens de um Brasil paulista, que eu convidaria a todos para olhar, está no primeiro andar. É que ficaram todos aqui no andar térreo e essa exposição está localizada no primeiro andar e é muito interessante. São, no caso da exposição do mezanino, 23 peças do Museu Histórico Nacional, além de várias outras pertencentes ao acervo do Estado.

Eu tenho insistido, à frente do Governo do Estado, na necessidade da recuperação da memória paulista. Pelas características econômicas, sociais, a intensidade das migrações, de alguma maneira, tem havido, nas últimas décadas, uma perda da memória de São Paulo com relação aos grandes eventos da sua história e à sua participação na história brasileira.

Eu costumo, aliás, dizer que a própria elite paulista tem complexo de classe dominante, de que não precisa cultivar a sua memória, os seus valores e a sua história. Uma perspectiva equivocada, porque nós não somos classe dominante. E estamos, nesse sentido, promovendo várias iniciativas. Entre elas, a preparação de literatura a respeito de São Paulo. Vamos ter, ainda neste ano, um livro sobre a história de São Paulo, um livro compacto sobre a história do Estado de São Paulo, que não existe, atualizado, que pudesse ser lido nas escolas.

No ano passado, o livro sobre a Revolução de 32, do professor Marco Antonio Villa que, é o autor, também, do livro que virá sobre a história de São Paulo. Dentro deste programa, nós convidamos também o professor José de Souza Martins para escrever sobre a Revolução de 24, que foi a manifestação armada, de fato, mais violenta da nossa história, a partir do nosso Estado.

Mais, até, do que a de 1932, e que durante algumas semanas paralisou a cidade de São Paulo. Afetando regiões como a minha área de origem. A casa dos meus avós, a primeira casa, no bairro da Mooca, durante muito tempo, tinha tiros nas paredes, uma vez que foi próxima de um dos principais pontos de bombardeio.

É algo que fez parte da minha infância, o relato que escutava dos meus avós, de minha mãe, que era a filha mais velha e de vizinhos, que se lembravam muito bem daquilo que havia acontecido. Meus avós, posteriormente, mudaram de casa. Eles tinham, lá na esquina da Rua da Mooca com a Rua Itapira, uma padaria que faliu porque vendia fiado, e meus avós não tinham coragem de cobrar. Portanto, a padaria faliu e meu avô se deslocou, então, para o Mercado Municipal. Mudaram para a rua paralela, que é a Rua Carneiro Leão.

Bem, naquela época o Brasil passava por profundas transformações, com dissensões na elite dominante, processo de urbanização já mais rápido. A industrialização tinha avançado com a Primeira Guerra Mundial e as dificuldades para o desenvolvimento do comércio internacional naquele período, uma classe média urbana já mais presente. E, como sempre acontece com toda classe média na história nossa, insatisfeita em razão de condições de vida, de custo de vida, crise militar, crise da cafeicultura, que era a principal atividade econômica do Estado, e a formação de uma classe operária mais extensa.

A sociedade se modernizava e exigia mudanças. E estas recebiam sinais de manifestações, de mobilizações armadas, às vezes, não tão claros, não tão conscientes. Mas, nem por isso, menos significativos.

Eu lembro que, em meados de 1917, acidade já tinha ficado paralisada, quando cerca de 70 mil operários cruzaram os braços reivindicando alguns direitos elementares hoje – como é o caso da jornada de oito horas e o descanso semanal remunerado – que não existiam naquela época. Foi a primeira greve geral do País, aliás, duramente reprimida. Mesmo assim, acabou se irradiando para outras cidades, inclusive para o Rio de Janeiro.

Cinco anos depois, houve em São Paulo outro grande evento – chamemos assim positivo – que abalaria a cidade e repercutiria de maneira duradoura em todo o País, que foi a Semana de Arte Moderna, a Semana de 22. Uma de cujas expressões desenhou parte deste painel: é a Tarsila, autora dos dois desenhos alusivos à Revolução de 24.

Esta foi uma revolução esquecida, apesar de ter sido uma experiência muito dolorosa, principalmente para os paulistanos, como diz o professor José de Souza Martins, aliás, num magnífico texto que é apresentado aqui no nosso folheto: São Paulo, naquele julho frio. O professor Martins, mesmo à margem da sua vontade, é hoje o nosso principal cronista de São Paulo. Todos os que acompanham os seus artigos, seus trabalhos, sabem e se deliciam com isso.

Não há dúvida – e não deve pairar dúvida – sobre quanto esses eventos foram dramáticos, e o texto do José de Souza Martins, no folder, espelha bem aquilo que aconteceu em poucas linhas. Desde os sacrifícios impostos à população por bombardeios aéreos e terrestres. Nos 28 dias de luta na Capital, 503 pessoas foram mortas, milhares de outras foram feridas e metade dos habitantes fugiu para o Interior. O presidente Artur Bernardes, da época, disse que isso não importava muito por que São Paulo tinha vigor e iria se reconstruir com rapidez. Uma afirmação tão mórbida quanto verdadeira.

Mas a nossa exposição tem como vista a memória e tem como vista também reafirmar a democracia, o trabalho e a paz como valores da sociedade paulista e que tiveram um custo muito elevado, ao longo das últimas décadas. Por tudo o que representou, é importante que a revolução esquecida de 1924 seja para sempre lembrada.

Muito obrigado pela presença de todos e de todas. E fica aqui também o nosso convite para ver a exposição do primeiro andar.