Governador discursa na entrega de obra do Complexo Anhanguera

Governador José Serra: Esta é uma inauguração que me preenche muito, pessoalmente. Depois que voltei ao Brasil, do exílio, fui e até me aposentei como professor da UNICAMP (Universidade Estadual […]

dom, 28/03/2010 - 17h30 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Esta é uma inauguração que me preenche muito, pessoalmente. Depois que voltei ao Brasil, do exílio, fui e até me aposentei como professor da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Já naquela época, décadas atrás, era uma aventura chegar na hora, entrando na (rodovia) Anhanguera vindo da Lapa. Isso foi piorando ao longo dos anos. Dar uma entrevista no SBT era… ou de helicóptero, ou chegando muito antes, ou muito atrasado. Não dava para chegar na hora… Isso vale também para as gráficas do jornal Diário de São Paulo. Da mesma maneira que quando nós fizemos o Complexo da Castello (rodovia Castello Branco), 240 milhões de reais… Nós fizemos um complexo menor do que este, mas semelhante, na Castello. Permitiu-se também que as pessoas pudessem dar entrevista na Rede TV, ou em jornais da Folha (de S. Paulo) – que chegassem na hora, porque as empresas estão localizadas lá.

São casos que apenas exemplificam o grau de estrangulamento que a cidade tinha aqui nesta região, do acesso às marginais. É um tráfego sempre crescente. Aqui, o (secretário estadual dos Transportes) Mauro Arce calcula que, no complexo ampliado, são 200 mil veículos por dia. Não é brincadeira. Nós, ontem, inauguramos a Nova Marginal (Tietê), e estas obras são o complemento essencial da Nova Marginal. Na verdade, é todo um conjunto de ações destinadas a desobstruir esta via coronária que indiretamente beneficiam a todo o Estado. Quando o (Orestes) Quércia foi governador (de São Paulo) ele duplicou a Anhanguera, de Ribeirão Preto a Igarapava. Isso aumentou o fluxo ao longo destes anos todos – e é até bom que seja assim.  Deu mais segurança para o pessoal do interior, mas apressou também a chegada na Capital, aumentou o volume.

Portanto, é fundamental, é crucial a gente fazer as obras que facilitem essa circulação. Da mesma forma que o nosso Rodoanel (Mário Covas) – o Trecho Oeste, que o (ex-governador) Mário Covas fez e o (ex-governador Geraldo) Alckmin concluiu, e o Trecho Sul, que nós estamos concluindo agora, que vai permitir que milhares e milhares de caminhões, carros e ônibus que se dirigem a outras cidades, que não São Paulo, o façam contornando a nossa cidade. Aqui nós gastamos, em um complexo amplo, que se prolonga alguns quilômetros pela Anhanguera, cerca de 410 milhões de reais, tudo através das concessões.

Olha, eu vou dizer uma coisa para vocês: as concessões têm sido um sucesso no Estado de São Paulo. Um sucesso! Basta dizer o seguinte: de 2000 até agora caíram 40% os acidentes. Quer dizer, é um problema de vida, não é só de rapidez não, é um problema de vidas que são poupadas. Tem sido um sucesso! E nós fizemos na nossa gestão 6 concessões, estradas mais o Rodoanel Trecho Oeste. Isso implicou em outorgas, dinheiro para o Governo do Estado que é gasto em estradas, 5,5 bilhões de reais, que o Estado recebeu e investe, por exemplo, no maior programa de reforma de vicinais do Estado de São Paulo. E (tem ainda) investimentos das empresas, 8 bilhões de reais, e gastos de manutenção das empresas, 4 bilhões de reais. É um sistema que funciona.

Não é por menos, aliás, que das 10 melhores estradas brasileiras, 10 são paulistas. Isso é pesquisa da CNT, da Confederação Nacional dos Transportes, que além do mais mostrou que 75% das estradas de São Paulo são consideradas boas ou ótimas – 75%! Aí não é nem o caso do copo meio cheio ou meio vazio. Aí é um copo 75% cheio, que não se repete em nenhum outro lugar do nosso País. Isso, graças a uma política que não fomos nós que inventamos, foi o (ex-governador) Paulo Egídio (Martins) – eu não estava no Brasil, mas eu acho que foi o Paulo Egídio que fez a (rodovia dos) Bandeirantes. O (ex-governador Orestes) Quércia duplicou 1.200 quilômetros de estradas… Enfim, cada governador foi fazendo. Ninguém reinventou a roda aqui. Apenas as coisas foram se modernizando, os esquemas de financiamento se aprimorando -e esta parceria com o setor privado entrando como inovação e sendo aperfeiçoada também ao longo dos anos. Eu lembro que na concessão da (rodovia) Airton Senna, o pedágio do concessionário resultou mais de 40% menor que o pedágio da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), graças à concorrência feita na nova modalidade que nós criamos.

Por outro lado, eu quero dizer que é grande a minha satisfação de homenagear aqui o prefeito Olavo Setúbal e a dona Deise, que nos deixou há tão poucos dias. Queria aqui também expressar a toda família o nosso pesar e o nosso sentimento pela dona Deise.

O Olavo Setúbal foi um homem importante em São Paulo. Começou como empresário industrial, aspecto que ele nunca abandonou ao longo da sua vida, criando empresas e entrando, inclusive, em uma área difícil como a área da informática – a gente sabe pelas mudanças tecnológicas, pela concorrência externa e tudo mais – e na área financeira, por onde é mais conhecido. Mas é um homem que tinha uma visão do Brasil. Todas as vezes que eu conversava com o doutor Olavo – e posso dizer que éramos amigos – todas as vezes o tema da discussão era o Brasil, o conjunto do País. Nunca vi uma discussão setorial, preocupado com isso, com aquilo. É o nosso País, uma visão abrangente do Brasil. E foi um grande prefeito.

Me pareceu, quando se falou deste complexo, que seria uma homenagem justa a ele, porque eu tenho certeza absoluta que ele ficaria muito feliz com esta obra, com esta iniciativa. E eu acho que, às vezes, a gente tem que homenagear as pessoas pensando no que elas achariam da obra, ou da iniciativa que o seu nome vai encabeçar, vai dar, como no caso da Rede (de Reabilitação) Lucy Montoro. Nós estamos fazendo, já tem 3 hospitais funcionando. Me perguntaram: “Por que deram o nome da dona Lucy Montoro?” Eu disse: “Porque ela ficaria feliz de ver um centro de reabilitação como esse”. Eu acho que o doutor Olavo ficaria muito contente de ver uma obra como essa aqui, desafogando, descongestionando a nossa cidade. Como ficaria feliz também de saber que nós estamos investindo na área de trilhos , trens urbanos – CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e Metrô – 3 a 4 vezes mais do que estamos investindo na obras viárias. Pode botar Rodoanel, pode botar Nova Marginal e pode botar as obras deste complexo.

Eu não sou capaz de descrever aqui essas obras. Já vim uma vez, sobrevoei agora com o helicóptero… é uma complicação de viadutos e pontes. São 5 onde antes tinha 1 – e esse 1, o Atílio Fontana, inclusive foi prolongado e virou mão única, que é quase como ter um viaduto novo, porque se eu transformo um de dupla mão em uma mão única eu duplico a velocidade. E é muito complicado de explicar. Eu só sei que dá para ir de um lado para o outro. Quem vem para cá, que vai para lá, todo mundo consegue cruzar, todo mundo consegue dar a volta de 180 graus. Dá para fazer tudo aqui agora. É a maneira mais simples de explicar. Dá para ir de qualquer lado para qualquer lado neste complexo – e mais depressa. Porque nós temos pressa. Pressa para economizar tempo, esse tempo para o lazer ou  para mais trabalho. A coisa mais cruel do transporte demorado é que rouba um tempo à toa, porque a pessoa podia estar descansando, podia estar estudando, podia estar trabalhando. E está lá, se irritando com a lentidão do trânsito.

Então, nós temos que trabalhar para isso, sempre tendo uma visão abrangente da questão dos transportes, cuja solução estrutural em uma cidade, eu não tenho dúvida, está no Metrô – e está na transformação dos trens urbanos em padrão de Metrô. E nós temos feito isso aceleradamente, inclusive, com trens novos. No caso do Metrô, nós vamos ter trens sem condutores, tal é o grau de automatização. Mas os trens da CPTM também são muito modernos. Eu fui outro dia à fabrica… custa a mesma coisa, eu sempre estou perguntando o preço – quanto custa um trem? Imagina, é uma fortuna, mas os trens da CPTM custam a mesma coisa que os trens do Metrô. Só tem diferenças. Por exemplo, o trem do Metrô é mais aquecido, porque ele anda em túneis – então tem que ter um sistema de refrigeração diferente.

Mas nós fizemos a maior encomenda da história e do mundo, na nossa gestão, de trens – com a única exceção, meio óbvia e rotineira, da China, porque aí também não dá. Mas, do contrário, é a maior encomenda, e isso é transporte para trabalhador, isso é salário, é a Bolsa Transporte, vamos ter isso claro. Porque transporte é uma coisa vital para a vida das pessoas. Eu acabei de dizer: ou é tempo para lazer, ou é tempo para trabalhar e ganhar mais dinheiro. Portanto, é um investimento eminentemente popular o que a gente está fazendo em São Paulo na área dos transportes – é isso.

E eu vou concluir com uma coisa que outro dia me ocorreu no interior, porque me perguntaram: “Por que você esta na vida pública?” Eu disse: “Olha, eu estou na vida pública já há muitos anos, há muitas décadas. Se eu for também incluir vida pública como militância em entidades da sociedade, eu não vou nem falar aqui quantas décadas fazem, desde 20 anos de idade. Eu estou na vida pública e sou muito feliz por estar na vida pública. Mas o que eu quero dela não é o prestígio, não é atrair atenção, não é ficar todo mundo olhando para mim, até porque eu sou tímido, tenho que fazer um esforço quando fica todo mundo olhando. Mas eu estou na vida pública para fazer as coisas acontecerem – e acontecerem na direção correta”.

E, francamente, depois de amanhã eu vou passar o cargo de governador para o (vice-governador) Alberto Goldman. Eu disse que ele era da (Escola) Politécnica (da USP – Universidade de São Paulo), porque o Olavo Setúbal também era da Politécnica, como também eu, embora eu não tenha podido terminar a faculdade. Mas o meu estudo de graduação no Brasil, a minha formação básica, foi a da Politécnica – e depois é que eu mudei para economia e também me tornei vice-presidente honorário da Academia Brasileira de Medicina, embora não saiba aplicar uma injeção, e nem possa ver porque já me dá tontura se eu ver uma injeção. Mas eu vou passar o cargo para o Goldman e eu vou passar com um misto de chateação de deixar o Governo, de deixar São Paulo. Eu não vou ficar eufórico com isso. Mas, do outro lado desse misto, com uma infinita alegria por ter perfeita consciência de que nós fizemos e que vamos continuar fazendo as coisas boas acontecerem no nosso Estado e no nosso País.

Muito obrigado!