Governador discursa na entrega da Ordem do Ipiranga

Governador José Serra: Queria dar o meu boa noite a todos e a todas, dizer da minha alegria de estar presente e falar aqui em uma reunião como a de […]

qui, 18/03/2010 - 9h10 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Queria dar o meu boa noite a todos e a todas, dizer da minha alegria de estar presente e falar aqui em uma reunião como a de hoje, de homenagem e de muitos amigos. Queria cumprimentar também os familiares e amigos dos agraciados, todos amigos aqui do meio artístico e cultural, membros do corpo consular, a todos e a todas. Bem, eu ia falar de improviso, mas acabamos botando por escrito, como uma providência para evitar algo muito prolixo, como sempre é a linguagem falada. Mas o fundamental, talvez, é dizer que a arte é o denominador comum que nos reúne hoje aqui. A maioria dos homenageados tem desempenhado atividades culturais, artísticas, todos eles, de alguma forma, têm sua vida, têm vidas muito relacionadas com o engenho e a arte. Todos, à sua maneira, têm interferido na cultura brasileira, seja em um plano intelectual, no artístico e até no político. É o caso aqui, no campo político, do Armênio Guedes (político e jornalista), nosso amigo. O Armênio faz neste ano Bodas de Diamante com a política, 75 anos de vida política. Eu conheço o Armênio há muito tempo. Conheci quando era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) no Rio de Janeiro, em (19)63. O Armênio era um dirigente do Partido Comunista Brasileiro, sempre mais liberal do que a média. Desculpe usar a palavra liberal, Armênio. Sempre mais avançado, por exemplo, quando todo mundo estigmatizava a Iugoslávia, o Armênio relativizava. Sempre teve, dentro daquilo que estava, uma posição moderada, democrática e combativa. Eu convivi com ele, também, no exílio do Chile, quando desenvolvemos muitas ações, ambos exilados, com vistas à denúncia dos crimes de torturas no Brasil da época, no início dos anos 70.

É um homem suave no temperamento, de caráter firme, muito tolerante com as pessoas, contra a arrogância, a prepotência, o autoritarismo, e dedicou sua vida à causa boa do progresso e da justiça no Brasil. E quando eu digo toda a sua vida, é muito tempo. É uma vida rica e é uma pessoa que (assim como) todos aqueles que são sensatos ou quase sensatos, sempre procuro ouvi-lo. E que os insensatos, esses, sim, evitam, pois não poderiam suportar o brilho mais serenidade das suas ideias e a qualidade das suas reflexões, a clareza do seu pensamento. Portanto, Armênio, é muito grato ter você aqui. E para mim é uma honra poder homenageá-lo como Governador de São Paulo. O Armênio, como todo comunista importante da época, era baiano, era 80% baiano, mas paulista já de décadas.

A nossa Maria Della Costa, com ela, aliás, eu tenho a mesma identidade (motivada pela descendência italiana). E a Maria Della Costa, eu conheci – ela não a mim, evidentemente – nos anos, já faz um pouco de tempo, quando eu comecei a ir ao teatro.Era adolescente, comecei ir ao teatro realmente adolescente. Uma mulher linda, uma grande atriz e com espírito também empreendedor e organizador, o que nem sempre esses três atributos se combinam, eu acho que isso diz tudo. E a minha admiração pessoal pelo trabalho dela sempre foi imensa e é uma admiração que é compartilhada por muita gente no nosso País, e é muito grato vê-la aqui com essa vivacidade, essa alegria e essa beleza de novo. Ela está associada ao nascimento do teatro brasileiro, porque a dramaturgia nacional, as peças nacionais, as grandes produções artísticas nacionais vêm da segunda metade dos (anos) 40 e dos anos 50. É quando foi fundada a dramaturgia nacional. Antigamente não havia sequer dramaturgos nacionais. Dramaturgia, o chique era o autor estrangeiro. E essa dramaturgia se desenvolveu junto com um grupo de artistas que foram a vanguarda disto. E a Maria faz parte disso, portanto, faz parte não só do nosso presente, mas da nossa melhor história em matéria de teatro. Eu me lembro de peças dela, como Gimba, do Gianfrancesco Guarnieri; Depois da Queda, do Arthur Miller; O Canto da Cotovia; enfim. E ela foi imortalizada, no palco e fora dele, com uma belíssima escultura, do Victor Brecheret, e representou como Joana D´Arc a personagem principal da peça. É uma verdadeira trabalhadora do palco, como algum crítico a denominou. E foi também uma grande ativista da luta contra a censura no Brasil durante o período militar. Diga-se de passagem, que ela, junto com o Paulo Autran, foi uma das descobridoras de Parati. Que também é algo que merece ser citado.

A Maureen (Bisilliat, fotógrafa) é nascida na Inglaterra e ela disse uma vez que a sua vinda ao Brasil foi resultado de uma procura de raízes que ela não teve quando criança, porque era filha de um diplomata, que é o que acontece com filhos de diplomata. E para arrematar, ela disse algo ao estilo do Guimarães Rosa: “O destino me amarrou ao Brasil, foi um ficar querendo”. É uma fotógrafa notável, como a gente pode ver pela exposição na galeria do SESI, e uma das primeiras pessoas a divulgar, a valorizar a mão do brasileiro. A mão do povo brasileiro e os produtos das suas habilidades, que ela sempre, de alguma maneira, se recusou a chamar de artesanato, chamando de arte popular, e possui um acervo de experiências interessantes. Eu ouvi uma história de que ela estava junto com os indígenas e aquele cacique, o Juruna fazia toda noite um pronunciamento para os indígenas no idioma deles e aí um dia ela falou “Eu vou gravar isso aqui”. Deitada na rede provavelmente, era rede, não sei, mas botou, ligou quando o Juruna foi falar achando que estava fazendo uma gravação para que depois fosse traduzida e guardada etc. e tal. Que num certo momento, o Juruna virou pra ela e falou: “Acabou a bateria”. Pois é, ela achava que ele não estava sabendo e ele estava falando para o gravador. E muita gente desconfia que aquela mania dele de gravar, lembra que na campanha do Tancredo (Neves, ex-presidente), ele gravou um prócer adversário fazendo uma proposta pra ele? (Ele) disse que foi ensinado a usar o gravador que ele andava todo o tempo pela Maureen.

Bem, a (bailarina) Hulda Bittencourt é uma pessoa que eu conheço evidentemente há muito mais tempo, mais de perto através da Mônica (Serra, esposa do Governador) de quem é amiga. E ela sabe que eu tenho bastante apreço, gosto pelo balé, tanto que me casei com uma bailarina. E esse apreço não decorre apenas da beleza dos movimentos, da sua conjugação com a música, mas também de alguma maneira da doce disciplina que exige dos seus participantes do balé, que é uma coisa tremenda. Nós temos hoje aqui a Hulda, que é uma bailarina notável pelo talento e pelas iniciativas que tomou no âmbito da dança. Ela fundou o estúdio de balé Cisne Negro em atividades há muitas décadas, criou também um dos corpos de balé mais importantes do país, o Cisne Negro Companhia de Dança. E deve ter gostado também de nós termos criado o São Paulo Companhia de Dança, que já começou funcionando bem. E ela já fez uma coisa espantosa: 26 temporadas sucessivas do Quebra-Nozes, do Tchaikovsky. Em tantas temporadas assim, eu acho que já adquiriu o sotaque brasileiro. Bem, mas é muito improcedente o que ela diz de si própria, quando diz: “Nunca fui uma grande bailarina, mas sempre tive alma de artista e conquistei o que quis”. A primeira parte não é verdadeira, a segunda é absolutamente verídica. É uma alma de artista, pés e gestos de artista e certamente uma grande bailarina, que conquistou não só o que quis, mas também o que o público queria e quer.

A Regina Braga, com ela eu tenho uma diferença, ou tinha pelo menos no passado, é que em suas entrevistas, ela conta que chegou a São Paulo, vinda do interior de Minas Gerais, eu não sabia que você era mineira, foi trabalhar numa agência bancária no centro da cidade. E na agência, isso fala bem do banco, na época não era permitido fumar. E isso fala a favor do banco, que eu nem sei qual é, não preciso fazer o merchandising, mas a toda hora ela ia ao toalete fumar as escondidas, e um funcionário antigo ficava preocupadíssimo achando que ela tinha algum problema de saúde. Mas eu acho que ela já perdeu o hábito e eu não sei também como é que faria para conviver com o Drauzio Varella fumando. Mas a Regina é um caso de alguém que se tornou profissional e seguiu uma carreira, segundo ela, por um motivo diferente, que ela teria se aproximado do teatro, não do teatro em si, mas pela sua amizade com muitos artistas, sua simpatia pelo meio teatral. Mas o fato é que, indo por essa via, na verdade, estava realizando a sua verdadeira, a sua real, a sua importante vocação, num primeiro momento inconsciente e num segundo momento mais do que consciente, porque é uma grande batalhadora também pelo teatro, além de uma grande atriz.

A Cristiane Torloni eu conheço não apenas do cinema, da TV, do palco, mas também do palanque, porque no passado, já leva 25 anos, olhando pra ela ninguém imagina que pode fazer algo já há 25 anos, já ter feito, mas foi muito ativa nas campanhas de redemocratização do Brasil, nas campanhas das Diretas pela volta do Estado de Direito no nosso País. E ela dedica toda essa combatividade atualmente à luta contra a violência em cima da mulher, à defesa do meio ambiente e questões dessa natureza, que tem tanto a ver com o desenvolvimento, com o bem estar e com justiça no nosso país. É filha de um ator e de uma atriz que traz as artes cênicas, eu diria nas veias, e transmitiu esse componente genético também ao seu filho, o Leonardo Carvalho que é também artista. E ela ensaia aí criar uma pequena dinastia.

A Carla Camurati, quando falo dela eu me lembro que a Dona Maria I em Portugal era chamada Piedosa, no Brasil, a Louca, e na verdade não é só as diferenças da história, mas também da idade, da etapa que a pessoa viveu. Mas o fato é que pra mim, eu vou ser bem sincero, me surpreendeu, quando a Carla saltou de atriz para diretora e para ativista em matéria de criação. Me surpreendeu, realmente foi uma surpresa, não porque pensasse o contrário, mas foi uma surpresa porque é raro isso acontecer, não é muito comum.E terminou sendo uma cineasta importante no nosso País e até diretora de ópera, que, eu acho, se teatro é difícil, cinema é difícil, imagina ópera? Que exige um domínio cênico enorme, muito mais do que o teatro em si, do que um musical contemporâneo. E ela realmente foi bastante ousada e deu certo em matéria de evolução artística. Mesmo no caso do filme, que eu sempre gostei, do mais conhecido, o Dom João VI não é bem retratado, ou melhor, não é favoravelmente retratado por ela. Mas foi uma polêmica que acabou servindo para que se fizesse uma revisão do papel histórico do Dom João VI e da transferência da corte portuguesa para o Brasil. Despertou discussão, despertou interesse e muita gente ficou ligada no assunto a partir do filme.

A Beatriz Milhazes é uma pintora, hoje, talvez das mais reconhecidas fora do nosso País, produz uma explosão de luz, de formas, de cores, uma alegria, que sendo bem carioca, acabou se tornando universal pelo excepcional acolhimento dos trabalhos dela, importante centro de arte do mundo. A obra da Beatriz Milhazes, segundo alguns especialistas – eu não sei se ela concorda com isso, é sempre arriscado dizer -, faz referência a dois artistas paulistas, a Tarsila do Amaral e o paisagista Burle Marx que, embora tendo passado a maior parte da vida no Rio, nasceu na Avenida Paulista, lá naquele casarão, em um parque, que o (prefeito) Gilberto Kassab transformou em um parque e deu o nome de Mário Covas. Ainda no final do ano passado, ela fez uma exposição, uma intervenção importante na Estação Pinacoteca, utilizando material translúcido em diferentes graus para evidenciar as transformações da luz ao longo da passagem do dia. A esse presente visual, mas temporário. Aos amantes de artes plásticas de São Paulo, ela generosamente acrescentou um outro, de caráter permanente, porque doou 17 de suas gravuras ao acervo da Pinacoteca do Estado.

O Agnaldo Rayol é um desses casos bem precoces de sucesso, já aos oito anos já brilhava no rádio nacional. Eu fui apresentado a ele pela televisão quando eu era adolescente, e ele também era meio adolescente, e cantava, acho que era na TV Tupi. Tinha um programa dele mesmo, que tinha uma música que abria o programa, que era Tarde Demais. Ele até me deu o disco original hoje porque um dia eu mencionei isso a ele. Eu acho, eu duvido que exista um brasileiro com mais de 15 anos que nunca tenha ouvido a voz do Agnaldo, seja nos muitos sucessos que gravou, seja nas telenovelas, nos filmes em que participou. Portanto, pra mim é uma, também, Agnaldo, quero te dizer, uma honra te poder fazer essa condecoração, e eu me lembro. Eu sou alguém na vida que tudo aquilo que eu fui, eu trago comigo, cada etapa da minha vida, e essa foi uma delas. Eu não me desfiz, não joguei fora nada do que eu fiz no passado, embora esteja olhando para o futuro. Então eu me lembro, você caracteriza uma época minha do colégio, e eu me lembro de forma muito grata, sempre, quando o vi pela televisão pela primeira vez.

O Danilo dos Santos Miranda é fluminense. Mas a obra dele, realmente, eu ouso dizer, é importante aqui em São Paulo. Eu acho que o Danilo é figura mais importante do meio cultural de São Paulo a longo prazo, eu acho. Sinceramente. Eu fiquei abismado quando pouco depois de voltar do exílio fui assistir uma peça no SESC Pompéia. Foi o primeiro. Que eu me lembro é um peça que estava o Odilon Wagner, que está aqui, e a Irene Ravache, que era uma personagem surda e muda,”Filha do Silêncio”. E eu fiquei abismado de ver aquele empreendimento cultural. SESC não é empreendimento empresarial, é cultural. O Danilo foi o criador, ao longo destes anos, da multiplicação, multiplicou esses SESCs por São Paulo, de muita qualidade, acolhedores, que estimulam o lazer. Porque cultura também é lazer. Sempre uma mania em relação à cultura e à educação muito produtivista. “Não, precisa ter educação para economia crescer, cultura também é educação, etc.”. Eu concordo. Agora, a educação e a cultura são bens em si. Não precisa ter uma utilidade para economia, para nada.

O conhecimento é uma condição para a liberdade, para a pessoa ser mais livre. Quem não sabe é mais prisioneiro. A cultura também é um instrumento de liberdade. E, nesse sentido, o papel do Danilo é inestimável. Aliás, eu quero sublinhar: nós fizemos, quando eu era prefeito aqui, a Virada Cultural de São Paulo, da capital, que pegou. Pegou a ponto que não sabem que é da prefeitura. E a gente sempre fica aflito. Eu fiz a primeira, o Gilberto (Kassab) fez as outras. Se consagrou como uma festa cultural aqui em São Paulo importantíssima. É um evento único talvez no mundo. Porque o que eu tinha pensado que tem em Paris ou em Buenos Aires, etc., são coisas pequenas. Aqui são milhões de pessoas, em centenas de espetáculos, e com espetáculos de muito boa qualidade. No primeiro ano era uma incógnita, uma incógnita total. Começar a fazer aquilo foi muito difícil, era muito arriscado, podia ser um vexame. E um vexame na política cobra preço de votos também. Então, sempre tem essa preocupação. Mas o fato é o seguinte: Quando o Danilo deu o apoio, jogou todos os sets culturais do projeto, que é um projeto de virada, porque vai de sábado até domingo. Quando eu comecei era de meio‑dia a meio‑dia. Meio‑dia de sábado, a meio‑dia de domingo. Mas depois o Gilberto mudou para 6h da tarde, às 6h da tarde de domingo. E o SESC entrou em cheio nisso, inclusive abrindo às noites, organizando. Que deu vida, eu acho que viabilizou a primeira Virada Cultural, que também foi bem sucedia nas outras coisas. Mas o fato é que este foi um ponto de sustentação para nós. Portanto, eu também tenho aqui enorme satisfação pessoal de fazer essa homenagem aqui ao Danilo.

O Maurício de Souza é um homem que, na verdade, vocês podem se surpreender com o que eu vou dizer, mas ele é um filho da poesia. Graficamente, palpavelmente porque a mãe era poetiza e seu pai um poeta, além de barbeiro, mas não barbeiro de Selvilha. Barbeiro em Santa Isabel. Que é um município da grande São Paulo, e bem aqui ao lado da capital. E de certo modo o Maurício é um poeta. Ele tem um personagem, o Horácio, que é um dinossauro, um pequeno órfão. Eu era um grande leitor. Eu, aliás, comecei a ler, devo dizer, a vocês, através da história em quadrinhos. Porque na minha época tinha uma Editora Brasil América, que era do Adolfo Aizen e que editava livros em quadrinhos, a Edição Maravilhosa. E eu comecei a ler criança ainda. Com menos de 10 anos de idade, eu fui introduzido na literatura pela literatura em quadrinhos. E a imagem desse (personagem) Horácio é uma imagem ingênua, melancólica e até certo ponto poética. Ele tem, pelo menos, 10 personagens, cada um com o seu próprio nome ou com o nome do personagem, são encontrados na história e na sua casa. O seu trabalho, do Maurício, formou, na verdade, gerações: gerações de criança, de adolescente, inclusive os meus filhos. E a sua qualidade como artista chegou ao ponto de que a Pinacoteca do Estado promoveu uma amostra do seu trabalho. A nossa Pinacoteca é bastante exigente, é muito boa e exigente.

Já com o Pedro Herz, eu compartilho um prazer especial, que é o da leitura. E nisso ele leva enorme vantagem evidentemente, porque é dono de uma das maiores, se não a maior, não sei, rede de livraria do País. E ele tem muito mais livros do que eu. Eu devo ter uns 15 mil, algo assim, o Pedro tem várias vezes esse número. E entre essas livrarias, está a Cultura do Conjunto Nacional. Lá não é apenas um grande ponto de venda de livros, é um ponto de reunião de intelectuais que dão continuidade a uma tradição do Brasil, inclusive aquela Casa Garro, a Livraria Teixeira, no século antepassado, da Livraria Jaraguá e Partenon. Partenon dos anos 40 e 50 – aliás, foi criada pelo José Mindlin.

Mas aqui no governo a gente tem mais livros. O Paulo Renato (secretário Estadual da Cultura) me dizia outro dia que nós já distribuímos nos três anos e o que vai ser distribuído neste ano cerca de 192 milhões de livros no sistema educacional de São Paulo, de graça. É uma coisa extraordinária. Temos a maior editora de livros de não-novela, que é a Imprensa Oficial do Estado. Que, inclusive, editou as biografias de vários dos que estão aqui. Em matéria de livro de história, documentação, biografias e tudo mais. E a secretaria (Estadual) da Cultura criou, a partir do ano retrasado, o festival da Mantiqueira, que é uma coisa que pegou no meio literário brasileiro. Instituímos também o maior prêmio de literatura do Brasil, maior em dinheiro, essa que é a verdade. São 200 mil para autores: um para autor estreante e outro para autores já consagrados, de prêmio, a cada ano, que é o Prêmio São Paulo de Literatura. Fizemos uma biblioteca, que é um modelo, que eu sugeriria para quem não conheceu que vale a pena conhecer, que é a Biblioteca São Paulo, no lugar do Carandiru. É uma biblioteca diferente, porque é uma biblioteca que é quase como um ponto de venda. Não que venda algo, mas a biblioteca, quem trabalha na biblioteca orienta os frequentadores, sugere livros, acompanha, mostra, é diferente. E, além disso, é considerada como uma das bibliotecas mais acessíveis do mundo para quem tem deficiência física.

Eu mesmo, na hora experimentei, estava com a minha agenda do dia quando fui inaugurar, botei em cima do espelho, do tamanho de uma xérox antiga, com uma tampa também, estilo xérox antiga. E saiu escrito embaixo em braile o texto da agenda, e uma voz feminina, de computador, mas feminina, leu a agenda inteira. Quer dizer, quem é cego, chega lá, põe o livro e lê o livro, ou em braile ou ouvindo. Isso numa biblioteca, num lugar popular da cidade e num lugar que simbolicamente era uma casa de detenção famosa, por tudo aquilo que ela acolheu, entre aspas, ao longo de décadas. E, aliás, de alguma maneira cravada o que era no livro, escrito pelo Drauzio (Varella, médico e escritor), depois no filme do Babenco. Mas realmente é uma biblioteca extraordinária. Nós ainda passamos nessa semana, aliás, centenas de livros para centenas de prefeituras, para criarem as suas bibliotecas. Cidades na sua maioria, cidades pequenas. Enfim, temos um ativismo muito grande nessa área de literatura.

E nesse sentido, a homenagem a você, nós estamos homenageando o livro, que é precisamente a homenagem que se coroava ao José Mindlin que estava convocado aqui para ser homenageado e infelizmente nos deixou. Quando eu lembro do José Mindlin, eu lembro do bom humor e da alegria. Advogado, jornalistas empresário, ele tinha inclusive como uma das frases que mais gostava é do Mountain, ele dizendo: Não faço nada sem alegria. E eu me lembrei de uma coisa que aconteceu com ele e que aconteceu comigo, no caso do Ministério da Saúde. Ele disse que queria que pusessem como epitáfio, após sua morte o seguinte: “Aqui jaz um homem que passou a vida fabricando pistões, sem nunca saber direito o que era”. Eu sempre achei que o Mindlin não devia entender de pistão, e era dono da Metal Leve. Isso aconteceu algo parecido comigo, no Ministério da Saúde. Eu passei 4 anos no Ministério da Saúde e não apreendi nem olhar aplicar uma injeção que me dá vertigem. É interessante ver algo em comum dessa natureza. Seu amor aos livros era tal que muitas vezes ele provocava situações engraçadas. Isso foi relatado pela Marlise Meyer, professora, aposentada da Unicamp que conseguiu um emprego com ele, na Parthenon.Que era uma livraria fundada pelo Mindlin mesmo, e voltada ao comércio de livros raros.

No final do dia, ele costumava dar uma passada perguntava, como um bom judeu: “como foi o dia, as vendas foram bem?”, se preocupava também com o faturamento. E ela dizia: “Muito bem, vendi aquela primeira edição do livro tal”. Ele dizia: “Justo essa? Caramba!”. Na verdade, é uma cena que frequência se repetia. E essa resistência que eu falo no comércio de livros, talvez é o que deu a ele a possibilidade de triunfar em outras atividades empresariais, e também fizesse a mais importante biblioteca particular do Brasil, e que foi doada em sua maior parte, em sua grande parte à universidade de São Paulo, num grande gesto de generosidade e desprendimento. Mas ele era um homem generoso, alegre, cheio de vida, e um Democrata. Teve uma posição extremamente solidária com a TV cultura, na perseguição movida, na época pelo regime militar e ao Vladmir Herzog naqueles anos duros. Quero dizer aqui publicamente, que ele teve, ele me disse isso, mais de uma vez, na época, o apoio, o suporte do governador Paulo Egídio que muito acertadamente o tinha conduzido para a Secretaria da cultura. Enfim, é a este homem e a esta pessoa que a ordem do Ipiranga também honra. Mas que também não pode mais homenagear pessoalmente. Muito obrigado.

Eu queria inicialmente dizer na minha primeira apresentação, eu queria muito brevemente, porque são muitas pessoas aqui envolvidas, se não quase a totalidade com a área da cultura. Eu queria dizer algumas coisas a respeito do que nós temos feito na área da cultura, comandada pelo (secretário Estadual da Cultura) João Sayad que não está aqui hoje. Na verdade, a área onde mais a despesa aumentou em São Paulo, no orçamento, nesses quatro anos foi a área da cultura. O orçamento triplicou. Foi da ordem de 300 milhões de reais para a ordem de 900 milhões. Graças a uma orientação do governo, mas também a inclinação do nosso secretário do planejamento, Francisco Luna e do João Sayad. Os três economistas, diga‑se de passagem. Nós já fizemos dois museus novos. O Museu do Futebol que é o mais conhecido do Brasil, junto com o futebol. O Cata-Vento, que é menos conhecido e que é uma obra prima de museu da criança, de ciência e tecnologia na verdade, desde criança de 2, 3 anos de idade, até a adolescência. Funciona lá no parque Dom Pedro, que era o Palácio das Indústrias, depois Assembléia Legislativa (Alesp), depois DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito), depois sede da prefeitura da capital. E hoje é o Cata-Vento. Estamos em pleno vapor na formação do museu da História de São Paulo. Lá na casa da Retortas (no bairro do Brás).

São Paulo é um Estado que devido às intensas migrações, a expansão demográfica, etc, foi tendo a sua memória histórica enfraquecida. E um museu como esse vai ser muito importante para recuperar a história, que dá uma certa identidade ao Estado. E, inclusive, paralelamente nós organizamos uma coleção de livros. Por exemplo, não tinha um livro da história de São Paulo, nenhum. O primeiro foi elaborado agora e vários outros estão sendo feitos. Além disso estamos praticamente criando um museu novo, no lugar do antigo Detran, no Ibirapuera, que foi feito para ser museu, que era departamento de trânsito. E nós tiramos o Detran de lá, coisa que nenhum governo conseguiu fazer, todos queriam. E estamos transferindo para lá, o MAC, o Museu de Arte Contemporânea, que está na USP (Universidade de São Paulo) e é pouco acessível, inclusive tem os horários da universidade, não abre nem no fim de semana. E é um museu muito importante, e que, portanto, a cidade acabará ganhando, e o Estado, um novo museu.

Na área de espetáculo, digamos assim, uma área educacional primeiro de arte, nós criamos além da São Paulo Companhia de Dança, a São Paulo Companhia Escola de Teatro. Que está funcionando provisoriamente lá no Brás, e que deve mudar para a Praça Roosevelt num prédio que a prefeitura cedeu, bem ao lado, grudado ao Teatro dos Satyros. Essa escola já começou a funcionar. E vai ser algo muito importante para o teatro no Brasil, e em São Paulo. Porque lá vai se estudar não apenas interpretação, mas cenografia, iluminação. Enfim, todas as profissões que cercam a atividade teatral, muitas delas nunca formadas a partir de cursos especializados. E o Teatro da Dança. Que nós já vamos agora começar a demolir a antiga rodoviária. A rodoviária que fica em frente à Sala São Paulo hoje. Lá era uma rodoviária, depois virou um shopping, chamado shopping coreano. Nós desapropriamos e vamos fazer o Teatro da Dança. Que vai abrigar por dia 5 mil jovens, na música e no balé. Vão ter três salas de espetáculo dentro desse teatro da dança. Vai ser uma coisa, realmente, sensacional nessa área, além do impulso que vai dar tanto à música quanto à dança.

Na área da literatura, eu mencionei aqui, mas ainda na área do espetáculo, as Fábricas de Cultura, que são nove, organizadas, em toda a periferia de São Paulo. Para dança, para canto, para espetáculo, com toda a garotada, do estilo da garotada que o Ivaldo Bertazzo (coreógrafo) sempre trabalhou, de maneira extraordinária. O Ivaldo merece. Essas fábricas não são visíveis para quem mora nos outros lados da cidade, mas configuram uma iniciativa muito importante. O Projeto Guri de música, hoje já deve ter umas 50 mil crianças, que tocam instrumentos de música clássica. E nós entregamos o projeto agora para as irmãs Marcelinas. As irmãs Marcelinas eram grandes parceiras na saúde. Todo ano a gente faz o prêmio dos melhores hospitais, nota dada pelo hospital do SUS. Elas sempre estão ganhando. Mas eu não sabia, foi o Sayad que descobriu que elas são tão boas em música quanto em saúde. É a Padroeira dos músicos.

O Aloysio (Nunes, secretário Estadual da Casa Civil) que nunca foi católico, eu que sou católico, e ele acabou de me ensinar. Padroeira dos músicos. São elas que agora, aliás, que organizam o Festival de Campos do Jordão. E a Virada Cultural, que nós levamos para o interior. Aquele que foi feita em São Paulo,e foi levada para as cidades, para as 30 maiores cidades do interior, onde está pegando, complementarmente. Nós transformamos esse palácio aqui num museu também. Uma vez que aqui hoje é aberto ao público. Temos uma curadora que é Cristina (Carvalho), de grande qualidade que organiza permanentemente as exposições com o acervo, dos palácios que nós temos, em Campos do Jordão, no Horto Florestal e aqui. O acervo de arte do governo do Estado é muito importante e esse é um. Palácio hoje é aberto, apesar de que aqui trabalham, ninguém acredita, 1.500 pessoas por dia. Mas o fato é que tem ele um grande espaço para exposições que são continuamente feitas e refeitas e também estamos concluindo a restauração do Palácio dos Campos Elíseos, que vai ser mais um espaço do governo e um espaço cultural na cidade de São Paulo.

Por último, nós estadualizamos, digamos assim, o museu extraordinário que é o Museu Afro, do Emanoel Araújo que, quando eu cheguei não prefeitura, era um museu no ar. No chão, no que se refere ao museu propriamente dito, mas quanto ao financiamento, quanto a administração, no espaço. Então nós agora estadualizamos o que resolveu definitivamente o problema financeiro desse museu que é um orgulho para todas nós, não sei se todos conhecem, mas é um museu extraordinário e original. Nos Estados Unidos que tem muitos negros não há um espaço como esse como há aqui no (Parque) Ibirapuera. Naturalmente continua ser comandado e assim vai ser por décadas e décadas.

Obrigado!