Discurso de Serra na abertura do 5º Simpósio do SIMTEC

Pronunciamento aconteceu na terça-feira, 17, em Piracicaba, interior do Estado

sex, 20/07/2007 - 12h15 | Do Portal do Governo

O governador José Serra discursou  nesta terça-feira, 17, na abertura do 5º Simpósio do SIMTEC (Simpósio Internacional de Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucro-Alcooleira), em Piracicaba, interior do Estado.

José Serra: (…) a todos e a todas. Bem, eu creio que é importante nós lembrarmos, inicialmente, o papel da região de Piracicaba para o sucesso do Pro-Álcool, não só aqui, mas em todo o País. A capacidade empreendedora e o acúmulo de conhecimentos explicam o sucesso a que chegou a produção e a utilização do etanol carburante de cana-de-açúcar. Tanto em termos de tecnologia quanto de viabilidade econômica.

Eu fiquei, inclusive, bastante interessado nos números aqui apresentados pelo diretor da Dedini, no que se refere à produtividade na fabricação do álcool, propriamente dito. Em geral, a gente tem os dados com relação à produtividade do solo na cana, mas não a respeito da produção industrial. São números realmente impressionantes.

E agora, nós temos uma nova etapa nesta matéria, porque está colocada na agenda mundial de uma forma mais enfática do que no passado, bem mais, a urgência de enfrentar ou pelo menos diminuir o fenômeno do aquecimento global. Esta feira de abertura, este simpósio internacional e de mostra de tecnologia da indústria sucroalcooleira, é um evento que ao mesmo tempo em que cria oportunidades de negócios e apresenta as novidades do setor, realiza seminários técnicos, que muito contribuem para a expansão e o aprimoramento desta atividade.

É um setor muito importante para o Brasil; basta dizer que em 2006 os produtos derivados da cana-de-açúcar corresponderam a cerca de 14,4% da oferta de energia no País. Proporção praticamente idêntica à oferta de energia pelo caminho hidrelétrico. É realmente assombroso esse dado. Ou seja, hoje se produz tanto energia a partir da cana quanto energia hidrelétrica. É um dado realmente incrível, para mudar a mudança da matriz energética brasileira proporcionada pela cana-de-açúcar.

Mas, se é relevante para o Brasil, esta atividade é especialmente estratégica para São Paulo, são 4,2 milhões de hectares de área plantada, 75% das exportações brasileiras de álcool saem daqui e 72% das exportações de açúcar. De fato, São Paulo é o segundo maior produtor de açúcar e álcool do mundo. Na frente dele, só o Brasil.

São paulistas também a maior parte dos 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos que essas atividades geram no Brasil. E São Paulo e o Brasil também são líderes na produção de máquinas, equipamentos e tecnologias para o setor, o que constitui o objeto do SIMTEC – Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucro-Alcooleira.

Por tudo isso, logo nos primeiros meses do governo, nós tomamos várias iniciativas nesta área. Em primeiro lugar, incluímos o Projeto Etanol Verde entre os 21 projetos ambientais essenciais do Governo do Estado. Este projeto pretende estimular a produção sustentável do etanol, com respeito aos recursos naturais e controle da poluição. É o caso da antecipação de dez anos para a eliminação da queima da palha de cana no Estado, a recuperação de 425 mil hectares de matas ciliares nas lavouras canavieiras até o final de 2010, e a certificação pelo governo de São Paulo de conduta ambiental para as empresas sucroalcooleiras que aderirem ao projeto.

Da mesma forma, em abril passado nós instalamos uma Comissão Especial de Bioenergia para a elaboração de um plano de bioenergia do Estado, que entre outras iniciativas vai indicar as ações necessárias ao desenvolvimento da cadeia produtiva do etanol em São Paulo. Inauguramos em junho um laboratório para o novo curso técnico em açúcar e álcool, a ETEC, Escola Técnica em Fernandópolis, montada em parceria com a iniciativa privada, e anunciamos a implantação de uma FATEC, Faculdade de Tecnologia em Sertãozinho, na qual será ministrado o curso de tecnologia em bioenergia, voltado para o setor sucro-alcooleiro.

É com satisfação hoje que eu assisto uma das instituições mais respeitadas de São Paulo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, associar-se a uma das nossas mais tradicionais e competentes indústrias de base, a Dedini S.A., para realizar pesquisas de novas tecnologias para a produção de etanol da cana-de-açúcar. A FAPESP é uma entidade que tem autonomia, a rigor eu não tinha que ter assinado nada aqui, ela é mantida com recursos públicos da arrecadação tributária de São Paulo, que é de cerca de 1%. São recursos substanciais e a interferência do governador se limita ao repasse desses recursos e à indicação de vários membros de seu conselho e à escolha, a partir de listas, do presidente da FAPESP, mas ela tem autonomia para desenvolver o seu trabalho e felizmente vem fazendo isso muito bem. Esse projeto vai ter uma duração de cinco anos e, como foi dito, aqui envolve R$ 100 milhões, meio a meio. Meio por conta da Dedini e metade por conta dos contribuintes, através da FAPESP.

É um grande passo na aproximação entre pesquisadores do ensino superior e dos nossos institutos de pesquisa com pesquisadores da iniciativa privada. Quero dizer que nós estamos fortalecendo os institutos de pesquisa, não apenas os agrícolas, mas os da agricultura também, através de uma medida que permitiu o substancial reajuste das suas remunerações, que ainda são modestas, mas o reajuste foi realmente substancial entre todos os nossos institutos aqui de São Paulo.

São Paulo tem um patrimônio de pesquisa valiosíssimo para o Brasil, seja via universidades, seja via os nossos institutos, alguns deles centenários, como é o caso do Instituto Agronômico de Campinas. Não pretendemos, com este apoio, privatizar pesquisas feitas em instituições públicas, mas sim tornar essas pesquisas cada vez mais públicas, pelo acesso que a ela terão o setor produtivo e a sociedade. Essa pesquisa é mais ampla porque ela se estende em outros itens, esses recursos são para isso, mas ela se estende para pesquisas a respeito da melhoria das condições do cultivo e da colheita da cana; no processamento de cana nas refinarias, o desenvolvimento de máquinas e sistema de conversão aqui incluídos; e o seqüenciamento do genoma da cana, sem falar também das implicações ambientais da cana-de-açúcar.

Eu tinha a expectativa de que essa pesquisa pudesse também enfatizar a viabilização econômica de máquinas que possam explorar a cana, promover o corte em terras inclinadas, coisa que as máquinas tradicionais não fazem, mas o nosso presidente do sindicato me dizia que essa atividade está agora por conta de outra empresa, chamada Case, que foi vendida pela Dedini. Mas eu queria aqui fazer uma sugestão ao Carlos Henrique de Brito Cruz, que é o diretor cientifico da FAPESP e ao pessoal da Dedini, para que de alguma maneira se encontre a possibilidade de destinar recursos para isso, porque isso está ligado também à possibilidade de extinção das queimadas. Ou seja, que  possa haver colheita mecânica em terras com mais de 12% de inclinação, hoje inviável do ponto de vista econômico, não tecnológico, do ponto de vista econômico e tecnológico, portanto.A FAPESP tem, de fato, experiência em parcerias com o setor privado. O projeto Dedini Hidrólise Rápida, executado juntamente com o Centro de Tecnologia Canavieira e a própria empresa, é um exemplo. O acordo firmado com a Oxiteno em 2006 prevê a a produção de açúcares, álcool e derivados e produtos que substituem os derivados de petróleo. O século XX foi o século do ouro negro e fumacento do petróleo, mas, no que depender hoje de São Paulo e do Governo do Estado, no que depender da FAPESP e, se Deus quiser, dos nossos produtores, o século XXI será o século do ouro verde em matéria de combustíveis, menos daninho e muito mais saudável ambientalmente.

Estes são apenas alguns exemplos de ações do Governo do Estado. Nós continuamos envolvidos nos estudos a respeito da duplicação de trechos importantes da rodovia do açúcar e do anel viário aqui da cidade de Piracicaba, que é tão relevante para a cidade. Em segundo lugar, nós estamos fazendo, já está em plena concorrência, a reforma completa da rede de estradas vicinais em São Paulo. Anunciamos um programa com 2.100 km, vai haver outro agora, a ser deflagrado até setembro, de mais 2.000 km. Nesses 2.100 km iniciais, a região de Piracicaba está contemplada com cerca de 150 km de estradas vicinais custando R$ 32 milhões. São cerca de 7 km em apenas uma vicinal aqui entre dois bairros, Serrato e Formigueiro. Trata-se, portanto, de uma região muito beneficiada no refazimento de toda essa rede estadual de estradas vicinais, que são tão fundamentais para a circulação da produção e das pessoas.

Vamos criar aqui também, isso tem uma importância imensa, porque, segundo as pesquisas, os dois problemas fundamentais que aparecem aqui na região para a população são a segurança e a saúde. Nós vamos criar em Piracicaba uma unidade de AME – Atendimento Médico de Especialidades – com cirurgias leves. O prefeito Barjas, logo que eu tomei posse, me disse que o problema aqui da cidade e na região é o das cirurgias leves, que é onde o SUS paga menos, e nós vamos criar aqui esse ambulatório.

Estamos criando uma rede de quarenta ambulatórios de especialidades em todo o Estado. Dez nós estamos reformando, 30 serão novos e aqui em Piracicaba haverá um dos novos para atender não apenas à cidade, mas também à região. Estamos fazendo uma distribuição espacial desses ambulatórios com vistas ao atendimento equilibrado do Estado de São Paulo, para que as pessoas não tenham que se deslocar centenas de quilômetros para uma consulta médica mais complexa ou para uma cirurgia leve.

Este é um anúncio que eu considero da maior importância aqui para o município, aqui para a cidade. E também vamos criar aqui em Piracicaba uma FATEC, uma Faculdade de Tecnologia, e mais uma ETEC, uma Escola de Tecnologia, para atender a cidade e a região. Agora só dependemos da prefeitura para arranjar o lugar, porque vocês sabem que se atrasar de quem vai ser a culpa. De acordo com a parceria, as prefeituras arranjam o terreno, o Estado cria e depois mantém o estabelecimento de ensino, que é o que sai mais caro, mas na verdade é indispensável a participação da prefeitura.

Eu esperava ter mais entusiasmo com esse anúncio porque o que me inferniza, muitas vezes viajando pelo interior, é que todo mundo quer FATEC. Eu venho a uma cidade e falo que vou fazer uma FATEC, fica todo mundo contemplando.

Eu só tenho a agradecer, cumprimentar também o prefeito e o Diretor da Dedini pelas suas preferências futebolísticas, que correspondem plenamente às minhas também.

Muito obrigado.