Alckmin discursa ao receber Medalha José Bonifácio em Santos

Santos, 13 de junho de 2013

qui, 13/06/2013 - 14h19 | Do Portal do Governo

Governador Geraldo Alckmin: Boa noite a todas e a todos! Quero cumprimentar o prefeito anfitrião Paulo Alexandre Barbosa, agradecer a generosidade das palavras, cumprimentar a Vanessa, o embaixador Rubens Ricupero, que nos deu aqui uma aula sobre esse grande estadista que é o santista José Bonifácio, dra. Tatiana Antonelli Bravo, juíza de Direito e diretora do Fórum, secretários de Estado, da agricultura Mônika Bergamaschi, Desenvolvimento Metropolitano Edmur Mesquita, professora Vera Rafaele, presidente da Fundação Arquivo e Memória de Santos, amigo ex-prefeito João Paulo Tavares Papa, os familiares do José Bonifácio de Andrada Silva, deputado federal Bonifácio de Andrada, constituinte, que muito nos alegra a presença hoje aqui em Santos, deputado por Minas Gerais, Lafaiete de Andrada, deputado estadual, secretários municipais, membros da comissão Jose Bonifácio, amigas e amigos.

É uma dupla honra receber a medalha que me foi generosamente outorgada, honra por ter sido concedida pela prefeitura de uma das cidades mais importantes do nosso Estado e do nosso país, e honra por levar o nome de uma personalidade ímpar na História do Brasil. Mineralogista, estadista, literato, poeta, vivendo por muitos anos em Portugal, ali o santista José Bonifácio de Andrada Silva participou intensamente das atividades cientificas. Com a invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte, participou também na luta contra o exército invasor, integrando-se ao batalhão acadêmico formado por alunos e professores da Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil, veio morar em Santos, transferindo-se pouco depois à cidade de São Paulo para compor a junta do governo da capitania, constituída por determinação das cortes de Lisboa, na condição de seu vice-presidente. Este foi o ponto de inflexão que transformou o cientista em um estadista e que, de certa forma, deu início ao processo que levou à Independência do Brasil. Logo ele é enviado ao Rio de Janeiro para transmitir a Dom Pedro a posição da Junta de São Paulo, no sentido de que o príncipe regente resistisse às pressões das cortes de Lisboa, que pretendiam reconduzir o Brasil à condição de colônia, e não mais à de reino unido, e de reino unido a Portugal e Algarves. José Bonifácio chega ao Rio em 9 de janeiro de 1822, exatamente o famoso dia do Fico. Sete dias depois, em 16 de janeiro, Dom Pedro o nomeia ministro do reino e dos negócios estrangeiros. Pouco menos de oito meses mais tarde, em grande parte por sua grande influência sobre o regente, o Brasil chega ao 7 de setembro, passando a integrar o conjunto das nações livres e soberanas. É notável que esse processo tinha tido início em uma província tão inexpressiva como a então província de São Paulo. Não fossem também notáveis as formações, as características pessoas e o pensamento de José Bonifácio. Como disse aqui o embaixador Ricupero, sua carreira política foi curta. Iniciada em 1821, encerrou-se menos de dois anos depois, em 1823, quando foi deportado para a França, juntamente com seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco. Voltaria à política em 1831, quando Dom Pedro I abdica da coroa brasileira e o nomeia tutor, porém já em 1833 é afastado da tutoria do futuro Pedro II, sendo confinado na Ilha de Paquetá, não mais voltando à vida pública. Curioso é que no ato de nomeação de Pedro I, declara que nomeia como tutor dos seus filhos o probo, honrado e patriótico cidadão José Bonifácio de Andrada e Silva, meu verdadeiro amigo.

Creio que não seria possível maior elogio a ele do que aquele, vindo de uma pessoa com quem tantas vezes José Bonifácio se desentendera. Como ministro do Império, José Bonifácio preocupou-se em manter a unidade nacional, criando o Exército e a Marinha para enfrentar tropas portuguesas que resistiam à independência na Bahia, no Maranhão e no Pará. O Brasil não deveria ser dividido, administrado por caudilhos, como acontecera em muitos países da América espanhola. Defendeu também a monarquia constitucional como regime de governo, legitimada pela atribuição da coroa ao príncipe herdeiro da família Bragança de Portugal. Destacara-se a sua atuação na Assembleia nacional constituinte de 1823, da qual participaram também seus irmãos Antônio Carlos e Martins Francisco. Ali ele defendeu posições absolutamente ousadas para o nosso país à época. A proibição do tráfico negreiro, com a abolição da escravatura feita gradualmente, com mecanismos que dessem suporte para a integração dos negros à sociedade. Em seu discurso sobre o tráfico disse ele: “não se trata somente de sermos justos, devemos também ser penitentes, devemos mostrar a face de Deus e dos outros homens, que nos arrependemos de tudo o que nessa parte temos feito há séculos, com tanta injustiça”. Igualmente a proteção e a integração dos índios à sociedade, aos quais dizia ele: “enxertamos todos os nossos vícios e moléstias, sem lhes comunicarmos nossas virtudes e talentos”.

Em suas palavras, a maior infelicidade que suportou a massa geral dos homens foi a conquista do novo mundo, exatamente pela violência que provocou sobre as populações indígenas. Pugnou também contra o latifúndio e pela divisão mais equânime das terras, pela defesa das matas e do meio ambiente, pela educação da população. Sobre as mulheres, indaga em uma anotação avulsa: “por que motivo deveriam obedecer às leis feitas sem sua participação e consentimento?”. Como se vê, José Bonifácio antecipou-se de muitas décadas ao encaminhamento de problemas que apenas seriam enfrentados a partir do final do século XIX, permanecendo ainda em debate questões como a educação básica para todos, a distribuição da terra, a expansão dos direitos da cidadania e a inclusão social de todos os brasileiros. A pátria não é mãe que devore parte dos filhos para felicitar a outra, exclusivamente, pelo contrário, esse é um dos seus ensinamentos que devem permanecer sempre vivos em nossas mentes e em nossas ações. José Bonifácio foi mais do que o Patriarca da Independência, foi o artífice da unidade nacional, o pregador da reforma da sociedade, o semeador precoce de ideias que frutificaram muito tempo depois, um exemplo de homem público, realmente comprometido com o desenvolvimento nacional. A comemoração dos 250 anos de seu nascimento e a preparação do início das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil é também a reiteração da vocação nacional de São Paulo, iniciada com bandeirantes, engrandecida pela atuação de José Bonifácio e de seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco, reiterada pela convenção de Itu e a criação de partido Republicano em 1873, renovada a cada dia por milhões de brasileiros, que vivem no território paulista e que trabalham pelo desenvolvimento da nossa pátria e construção de uma sociedade cada vez mais justa e inclusiva. Viva José Bonifácio!