Alckmin discursa ao lançar o Cartão Recomeço

Palácio dos Bandeirantes, 9 de maio de 2013

qui, 09/05/2013 - 15h53 | Do Portal do Governo

Governador Geraldo Alckmin: Bom dia a todas e a todos! Quero saudar a secretária da Justiça, Eloísa Arruda, do Desenvolvimento Social, deputado Rodrigo Garcia, da Saúde, professor Giovanni Cerri, da secretaria de Gestão – secretário adjunto – secretário Rogério Barreto Alves, deputado Barros Munhoz, líder de Governo na Assembléia, Orlando Bolçone, da Frente Parlamentar do Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, Carlão Pignatari, Osvaldo Vergínio, Roberto Engler, André do Prado. Cumprimentar e agradecer ao desembargador Antônio Carlos Malheiros, coordenador da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, professor Ronaldo Laranjeira, que hoje assume aqui a coordenação do programa Recomeço, o Clóvis Benevides, subsecretário de Políticas Sobre Drogas do Estado de Minas Gerais e coordenador do Fórum Brasileiro de Gestão de Políticas sobre as Drogas, prefeito de Campinas, Jonas Donizette, de Rio Preto, Valdomiro Lopes, Diadema, o Lauro Michels, de Bauru, Rodrigo Agostinho, dr. Mário Sérgio Sobrinho, da Coordenadoria da Secretaria de Justiça, dra. Berenice Giannella, presidente da Fundação Casa, dra. Rosângela Elias, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, dr. Cid Vieira de Souza Filho, presidente da comissão de Estudos sobre Prevenção de Drogas da OAB, João Maria Correia Filho, presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas, padre Haroldo Rahm. E quero aqui desejar muita saúde ao nosso o padre Haroldo! Campinas, São Paulo, o Brasil precisam muito do senhor! Frei Francisco Belotti, do Lar São Francisco de Assis, Nelson Giovanelli, presidente e um dos fundadores da Fazenda Nova Esperança, em Guaratinguetá; gestores municipais, colegas da área de saúde, amigas e amigos!

Hoje é um dia importante, estamos dando aí mais um passo e um passo que, entendo, na direção correta para enfrentarmos esse grande desafio do mundo moderno. Eu perguntava ao professor Ronaldo Laranjeira, que é uma das grandes autoridades com reconhecimento internacional e uma larga experiência, quantos anos, não é? Do crack. E ele me dizia que nos Estados Unidos começou na década de 80, as chamadas “crack houses” e no Brasil em 1990, 92… Quer dizer, não tem 25 anos e em menos de 25 anos nós temos hoje um caráter epidêmico da questão da droga e especialmente, do crack, que vicia muito rápido, age no sistema límbico do cérebro, lá nas moléculas e criam uma dependência. Ainda não se criou uma vacina, há estudos bastante avançados, mas ainda não criamos e o crack, que é borra de cocaína é mais barato, o acesso mais fácil, vicia mais rápido, cria maior fissura pelo uso da droga e nós temos uma situação grave do ponto de vista de saúde pública e com suas consequências na questão da segurança.

Vem de fora para dentro e nós colhemos aqui as consequências do problema da cocaína e seus derivados aqui no Estado. Então não é possível o Estado se omitir perante uma situação dessa. Criamos e estabelecemos – e quero aqui agradecer ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à OAB, nossa parceira, à Defensoria Pública também lá no Cratod, o Centro de Referência de Combate a Álcool e Drogas, ali no Bom Retiro, unindo uma extensão do Poder Judiciário, do Ministério Público, Defensoria e OAB junto com os profissionais de saúde. E os milhares e milhares de casos, dramas familiares comoventes afloraram em uma velocidade impressionante, porque acendeu-se uma luz de esperança para muitas famílias, que já estavam desesperançadas. Nós recebemos, em 90 dias, 25 mil telefonemas pedindo orientação, 25 mil, só lá no Cratod e o trabalho, fomos fazendo, tivemos até que ampliar o atendimento social lá do Cratod, e o professor Ronaldo Laranjeira colocou bem: essa tem que ser uma grande parceria, as prefeituras são importantíssimas através dos CAPS-AD, e nós já assinamos aqui o convênio, uma parceria com a prefeitura de São Paulo, a principal, a Capital, e fico feliz em ver aqui os prefeitos, e nós queremos cobrir toda o geografia do Estado de São Paulo.

Então um trabalho importantíssimo com os municípios e o atendimento primário, o atendimento ambulatorial com equipes multiprofissionais. Depois, nós temos uma rede de retaguarda – eram em torno de 400 leitos, hoje já temos mais de 1.000 leitos próprios do Estado e também conveniados – só para dependência química. Chegaremos rapidamente a 1.300 leitos, o Hospital de Botucatu já deve estar quase pronto, exclusivamente com referência na questão de álcool e drogas também aqui em São Paulo, na Cotoxó e de outro lado, como a dependência química é uma doença crônica e recidivante, não se pode achar que internou, desintoxicou, 45 dias está resolvido. Não é verdade, é totalmente diferente de apendicite não é? Porque um quadro de apendicite, fez o diagnóstico, Blumberg positivo, opera, tira o apêndice, costura: bye, bye! Totalmente diferente. Quer dizer, é preciso estabelecer um novo plano de vida, envolver a família, restabelecer vínculos de afeto, vínculos de amizades, familiares, profissionalizar, arrumar emprego, refazer a vida – por isso o cartão chama Recomeço. É um passaporte para uma nova…. Um recomeço, uma nova vida. E nós temos, graças a Deus, entidades da sociedade civil, muitas delas religiosas, de várias formações religiosas muito bem estruturadas, um trabalho maravilhoso que nós queremos como nossos parceiros.

E aí vem o cartão. Nós vamos lançar o edital na semana que vem, dizendo: “olha, temos um programa, queremos boas entidades com expertise, sérias, com qualidade, para trabalharem conosco”. Elas podem atuar antes, que até é o melhor, não é todo mundo que precisa ser internado em hospital. Então você já resolve sem nenhum leito hospitalar, você resolve com abrigamento, casa transitória, comunidade terapêutica. Ou, após a internação, fazer o acompanhamento desses casos e o trabalho com oficinas culturais, empregabilidade, restabelecer os vínculos da família. Enfim, reinseri-lo na sociedade. Então o objetivo hoje, é o de: “olha, nós temos consciência de que o desafio é grande, mas vamos trabalhar em todos esses processos”. E trabalharmos juntos. Fico feliz de ver o envolvimento da Assembleia Legislativa, do Poder Judiciário, que tem sido um grande parceiro, da sociedade civil organizada e estamos unindo aqui a Academia, a universidade, trazendo o professor Ronaldo Laranjeira para ser o responsável, para coordenar todo este time campeão, para a gente poder avançar mais. Doutor Cid Vieira me contou que tinha um menino que, muito reticente, que não queria receber nenhum tratamento e que ele foi conversando, conversando lá no Cratod, descobriu que ele era… Qual o time dele? São-paulino. Aí foi ganhando a confiança dele, ganhando a confiança. Falou: “se eu arrumar uma camisa do… do Rogério Ceni, você aceita ir para o abrigamento e tal?” Falou: “ah, se você arrumar a camiseta do Rogério Ceni, eu topo.” Aí ele foi lá, arrumou a camisa do Rogério Ceni e conseguiu conquistar o menino, para poder fazer… Ir para o CAPS e depois ter o tratamento.

Aliás, esse é um fato também importante, porque um dos sintomas da doença é uma atitude amotivacional, faz parte do quadro clínico, a pessoa não tem motivação, precisa estudar, precisa trabalhar, ela perde a motivação, isso faz parte do quadro. Então não é fácil você também convencer e… Mas veja que nós fizemos mais de três mil… 3.669 pessoas, nós tiramos da rua e foram para o abrigamento. E 770 internados na rede hospitalar, noventa e quantos por cento? Voluntário… Acho que é 94%, só 6% involuntário. Com dedicação, com convencimento, com trabalho importante, acaba apenas 6%, e nenhuma compulsória. Porque todo mundo tem uma mãe, ou o inverso, como nós tivemos um filho, nós tivemos um caso de uma filha que pegou o pai com 64 anos de idade, que estava morando na rua, levou para casa, pôs lá um ansiolítico lá no café dele, ele deu uma cochiladinha, levou ao Cratod, ele foi internado e está praticamente, está quase recuperado, já. A filha que ajudou o pai a ser recuperado. Então, a gente imagina: na semana que vem o edital já publicado, em 60 dias, o cartão, o cartão não é para o dependente e nem para a família, o cartão é para a entidade, é para pagar a entidade, uma diária de R$ 45,00. Ou seja, R$ 1.350,00/mês. E não é hospital. Hospital é da nossa rede ou da Secretaria de Saúde. É a parte social que é tão ou mais importante até do que a parte médica. Então esse é o outro passo importante numa questão que envolve saúde pública, envolve segurança e, principalmente, envolve a recuperação das pessoas. Bom trabalho a todos!