Acordo pela melhoria do ensino

Serra assinou o documento no Palácio dos Bandeirantes na companhia do ministro Fernando Haddad

sex, 28/03/2008 - 19h38 | Do Portal do Governo

São Paulo aderiu nesta sexta-feira, 28, ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), iniciativa do governo federal para promover melhorias nos indicadores nacionais relacionados ao tema. O governador José Serra assinou o documento no Palácio dos Bandeirantes na companhia do ministro da Educação, Fernando Haddad. Na ocasião, Serra fez o seguinte pronunciamento.

Meu boa tarde a todos e a todas. Queria cumprimentar o ministro da Educação, Fernando Haddad; o prefeito Gilberto Kassab; Maria Helena, secretária da Educação; Aloysio Nunes Ferreira, secretário da Casa Civil; Nina Ranieri,  secretária de Ensino Superior em exercício.

Queria cumprimentar os deputados aqui presentes, por intermédio do Jorginho Maluly, que representa a Comissão de Educação e Cultura do Congresso Nacional, e os deputados estaduais Paulo Barbosa – sem óculos não dá para… – e José Bruno; queria cumprimentar também o secretário municipal da Educação de São Paulo, que vem se desempenhando de maneira tão competente, eficiente e brilhante, até, o Alexandre Schneider; doutor Pedro Kassab, que é presidente do Conselho Estadual de Educação e é pai do Gilberto Kassab.

Queria cumprimentar também o prefeito, o vice-prefeito, secretários municipais, dirigentes de ensino, educadores.

Bem, eu, na verdade, vou apenas fazer uma introdução e passar a palavra para a Maria Helena para ela fazer um balanço, porque é uma boa oportunidade – ministro e a todos – para ter um balanço das nossas metas e ações aqui em São Paulo.

Como a maioria sabe, eu dou tanta educação à questão da educação, que eu tenho dado aula nas escolas, na 4ª série. Variando os lugares, nunca no mesmo lugar.

Quero também lembrar que eu deixei de cumprimentar os prefeitos todos. Vejo aqui o prefeito de Diadema e tantos outros. Queria… Comecei a reconhecer aqui as fisionomias. Não estava aqui no meu… Nos meus indicadores, mas vejo muitos aqui.

Mas, eu dizia, tenho até dado aulas. Para quê? Dou aula de verdade, não é apenas uma visita, mas para quê? Para poder ter uma avaliação e sentir o problema da educação. De estar próximo daqueles que são objeto fundamental do ensino, que são os alunos, conhecer as professoras, conhecer as escolas e poder ter uma sensibilidade maior para os problemas existentes. Eu fazia isso desde a Prefeitura e continuei fazendo no Governo do Estado.

O que acontece? Nós temos boas condições externas materiais. Essa história de que São Paulo, em que às vezes a nossa assessora do ministro acredita, na verdade ela não devia acreditar, essa história que tem superlotação de escolas, três turnos e isso e aquilo, isso é resíduo estatístico. Praticamente não tem, e tem, por outro lado, boa merenda, bom transporte, uniforme, material escolar, tem salas de leitura. É mentira, viu ministro, que lhe disseram outro dia no debate da Folha que só 30% das escolas aqui têm biblioteca, etc. Na verdade, tem a figura Sala de Leitura, que no Brasil inteiro é considerada como algo próximo à biblioteca, e aí são 70%, 80% das escolas.

Tem transporte escolar. As professoras são muito simpáticas, dedicadas, eu vejo na sala de aula, fico do lado delas e os alunos têm uma vontade imensa de aprender.

Então, tem tudo isso junto e o resultado é pobre. Porque, durante muitos anos, uma maneira de escapar do assunto da educação, escapar da sala de aula foi melhorar as condições externas, que são importantes – nenhum reparo a isso – sem enfrentar o problema da sala de aula, da metodologia de ensino.

Nós fizemos aqui um exame agora, o Saresp, que, diga-se de passagem, agora vamos torná-lo compatível para poder comparar com as pesquisas que o Ministério da Educação faz, que deu um resultado muito pouco bom. Ruim, na verdade, em relação à matemática e aritmética, de fato. Não é nem matemática. Essa é uma coisa em que eu sempre insisti muito, porque o pessoal ás vezes fica concentrado no português, com o argumento correto de que, se não souber ler um texto, não tem nem condição de resolver um problema de matemática, mas deixando isso um pouco de lado.

E aí vêm as metodologias de ensino. Negócio de proibir memorizar a tabuada. Uma vez eu fui dar uma aula – ministro Haddad – e eu estava fazendo perguntas no meio. Eu não vou à aula fazer um teste, porque isso inibe os assuntos. No meio da aula, vou aproveitando para testar leitura, para testar compreensão de texto, para saber também se eles sabem as quatro operações. Comecei a perguntar a tabuada e alguns alunos respondiam na hora. Outros ficaram rindo, etc., tal, e não conseguiam responder.

Eu achava esquisita aquela diferença. Aí, de repente, eu me dei conta de que estavam afixadas as tabelas da tabuada no alto da sala. Devem ter pegado escada para isso. A idéia não era me enganar, era óbvio que era visível aquilo, e a professora me disse que era contra memorizar. Você veja o absurdo. Porque não memoriza, tem que ter uma cartolina lá em cima para dizer qual é a tabuada.

Teve até um professor de uma das nossas universidades, que é considerado um guru – quando eu soube que ele era um guru eu fiquei aflitíssimo, do ensino de matemática – chegou a escrever um artigo dizendo do meu erro de falar que quando não sabia, tinha que memorizar.

Eu respondi a ele. Descobri o e-mail e respondi. Ele não mandou resposta de novo. Dizendo o seguinte: muito bem. Quer ensinar métodos, de maneira que cada pessoa, quando for ver quanto é cinco vezes oito, reconstrua o cinco vezes oito, vai demorar alguns minutos para fazer isso, tudo bem. Contanto que saiba a resposta. Porque, se não souber a resposta, prova que esse método não funciona.

E, de fato, esses métodos, essas metodologias acabaram sendo pretexto para não se ensinar nada. Essa é a realidade. O problema crítico do ensino está na sala de aula: esta é a questão número um que tem que ser enfrentada. Aquela em relação à qual que as corporações, começando pela APEOESP de São Paulo, mais têm horror: tratar da sala de aula, tratar de trabalho, avaliação, qualidade do ensino. É horror nessa matéria. Não tem nada a ver com nenhum interesse, nenhuma preocupação com a chamada qualidade do ensino. Essa é a batalha.

Agora, com relação às questões de curto prazo – e eu acho que faltam mais ações até na área de curto prazo, é que o governo vem adotando, não me refiro às metas, estou dizendo, realmente mais imediatamente, as questões que são mais críticas do momento – nós estamos expandindo bastante o Ler e Escrever, um programa que nós começamos na Prefeitura, quando o Gilberto Kassab era vice e o Alexandre Schneider, subchefe da Casa Civil.

Aliás, com os professores auxiliares no primeiro ano do ensino do ensino fundamental. Na verdade, nós damos bolsas para os alunos das Faculdades de Pedagogia, por exemplo, e eles vêm funcionar como professores auxiliares. Tem duas professoras, portanto, nas salas de aula. A titular e uma auxiliar. Funciona, porque basta olhar a sala de aula e ter alguém lá, ajudando os alunos na compreensão, etc. Funciona.

E dados os altos índices de absenteísmo, também ajudam, quando vem o professor eventual dar aula, ter lá o professor auxiliar que tem acompanhado as aulas todas. Já temos mais de três mil. Na Prefeitura deve ter quanto, Alexandre? 1.500.

Segundo, estamos fazendo neste ano aulas de recuperação intensiva, 42 dias entre a 5ª e a 8ª série e o Ensino Médio, porque a garotada que chega a uma determinada série, sem saber nada das séries anteriores, vai continuar reproduzindo a sua ignorância.

Portanto, ficamos, ou melhor, criamos essas aulas de reposição do passado para poder ajudar o aprendizado futuro. Isso está a pleno vapor, e atinge mais de três milhões de alunos. 3,6 milhões.

Outra questão é a questão curricular da educação básica, outra coisa da qual os sindicatos têm horror: currículo. Dizer o que tem que ensinar e material para os alunos. Isso é apresentado – é hilariante – como autoritarismo. Quer dizer, hoje, do jeito que é, um professor de História pode dedicar todo o seu tempo a ensinar a história da Mongólia, que não acontece nada. Não há uma diretriz geral, uma orientação, um material preparado, etc.

Esta falha nós estamos cobrindo, estamos eliminando com a preparação de materiais curriculares, de propostas curriculares.

Outro aspecto é a fixação de metas. Tem que se fixar metas de curto prazo, de um ano para o outro. Fizemos o Saresp para isso, para que em função do Saresp, pegar escola por escola e fixar metas. Não se trata de fixar metas entre as escolas. Para uma competir com a outra, porque são muito diferentes. Tem escolas boas e escolas ruins. Escolas de crianças mais pobres e escolas de crianças de classe média. Então não são homogêneas, não dá para fazer uma meta geral, tem que ser escola por escola.

Vamos também, na medida em que metas são cumpridas e ultrapassadas, dar incentivos materiais. Incentivos materiais que podem chegar até a 16 salários. Em vez de 13, 16 salários, incluindo todo o pessoal das escolas –  não apenas quem dá aula – mas a direção das escolas, a secretaria, o pessoal administrativo, todo mundo dentro de cada escola.

Não é uma medida que, em si, sozinha, vai resolver o problema. Ela se compõe dentro desse conjunto. Também tem merecido muitos ataques, porque o pessoal de sindicato tem horror de avaliar qualidade de trabalho. Horror. Não tem nada mais horroroso para um sindicato do que ter a qualidade do seu trabalho avaliada. Mas, no caso, isto é importante para a educação. Pode não ser para o sindicato, mas é para a educação.

E, finalmente, avaliação externa das escolas, como eu disse antes, para até poder comparar com os exames nacionais. A minha orientação no governo é que não, não porque alguém tenha proposto isso, mas é uma orientação para a gente ter sempre presente em tudo. Não esconder nada, fazer as avaliações, levar a público, explicar, debater, procurar até conscientizar a sociedade dos problemas existentes, porque a tarefa da educação não é só da secretária ou mesmo do governador, ou mesmo da sua equipe. É uma tarefa da nossa sociedade.

Quero dizer também, paralelamente, que, fora da Secretaria da Educação, nós estamos dando uma ênfase muito forte ao ensino técnico, por intermédio do Centro Paula Souza. O Centro Paula Souza é uma instituição que tem uma característica de fundação. Os seus professores são CLT. Eu encontrei perto de 70 mil alunos no ensino técnico. São cursos de um ano e meio para quem tem nível médio; ou melhor, que está cursando o ensino médio. Não precisa ter concluído o ensino médio. E nós vamos levar de 70 e poucos mil para 170 mil, em quatro anos. Isso já está em pleno andamento.

Vamos duplicar as Faculdades de Tecnologia, que são de três anos. Eu encontrei 26, nós vamos fazer mais de 52. Mais ainda: já cumprimos 50% da meta. No primeiro ano, nós já avançamos metade da meta que nós nos fixamos para quatro anos. Quem estuda aí na Escola Técnica, 80% já sai com emprego garantido, e quem estuda numa Fatec, 90% daqueles que estudam já saem com emprego garantido. Para se ter uma idéia da necessidade do mercado de trabalho e das oportunidades que o ensino técnico, que é totalmente estadual nessas ações da Paula Souza, tem com relação à sociedade. Como ele se encaixa naquilo que é uma prioridade fundamental: o nosso desenvolvimento.

Nesse aspecto do ensino técnico, temos também outras iniciativas, aí já feitas diretamente com a Secretaria da Educação, em relação ao ensino médio.

Bem, estas são ações que nós estamos tomando no curto prazo. Tenho certeza de que vão produzir resultados. Talvez não com a rapidez e a aflição que a gente tem, especialmente com a qual eu fico, quando vou dar as aulas. A gente gostaria de resolver aquilo rapidamente: um ou dois meses, mas o processo infelizmente é lento. O importante é que esse processo exista, seja positivo, que nos leve para adiante.

Com relação à ação do Ministério, eu estou aqui passando elementos das nossas ações no curto prazo. A Maria Helena vai passar as de médio e longo prazo.

O que nós queremos também, ministro, além do apoio material, que será necessário em termos de recursos, é também o apoio político para poder enfrentar as barreiras não materiais ao desenvolvimento da educação, que são mais importantes que as barreiras materiais.

A barreira corporativista, a barreira jurídico-legal é um estrangulamento imenso nas possibilidades de desenvolvimento do nosso sistema de ensino. Eu sei que o nosso ministro pensa parecido a esse respeito sobre a importância dessas questões todas, que em geral, são deixadas de lado para se dar ênfase apenas nas questões materiais.

Agora, se vocês me permitem, gostaria de passar para a Maria Helena rapidamente para apresentar as questões mais quantitativas.