Abertura do Museu do Futebol

Inauguração aconteceu nesta segunda-feira, 30, em São Paulo

ter, 30/09/2008 - 10h43 | Do Portal do Governo

Museu do Futebol foi inaugurado nesta segunda-feira, 29, em São Paulo. Instalado no Estádio do Pacaembu, na Praça Charles Miller, o novo espaço permitirá aos visitantes entender como o futebol, um esporte inglês ganhou novos traços e se tornou brasileiro. O evento contou com a presença do governador José Serra, que fez o seguinte pronunciamento.

O Museu do Futebol era uma idéia que já existia no ar. Pouco depois de assumir a prefeitura de São Paulo decidi materializá-lo, sem a ambição do exclusivismo, até porque não imaginava um museu composto fundamentalmente de relíquias. Pensava em algo que expressasse a memória do nosso futebol, suas performances, seus craques, suas conquistas e até sofrimentos e que, para isso, utilizasse o que há de mais novo e criativo em matéria de tecnologia. Que fosse um museu que emocionasse e entusiasmasse o público. Um museu-escola que fosse lúdico, interativo, divertido e aconchegante. Que mostrasse a evolução desse nosso esporte maior no contexto da história de nosso país. Um esporte que começou na elite, de forma socialmente segregada, e chegou às massas, que o tomaram para si e o reinventaram num processo paralelo ao próprio Brasil, que ao longo do período transformou-se numa sociedade de massas para ninguém botar defeitos, com suas virtudes e problemas.

Inicialmente, procurei ganhar para a idéia e aprender com os formadores de opinião do esporte.  Visitando e revisitando o Museu da Língua Portuguesa, não tive dúvida: era necessário conquistar a Fundação Roberto Marinho como Organização Social parceira, o que não foi difícil, até porque as relações de amizade com o José Roberto e o Hugo Barreto facilitaram a aproximação e as explorações iniciais. Foi uma escolha perfeita. Quero dizer aqui que o resultado em matéria de criatividade e bom gosto ultrapassou minhas expectativas. A Fundação fez valer seu profissionalismo, sensibilidade para temas novos – como já tinha demonstrado no caso do Museu da Língua Portuguesa – e capacidade para reunir grandes talentos, começando pelo Leonel Kaz, autor de um livro sensacional sobre a história do nosso futebol. O Alberto Helena e o Paulo Vinicius Coelho tinham sugerido o Pacaembu como local, sugestão que levianamente descartei no início. Mas como sempre acaba acontecendo comigo, as idéias que rejeito ficam arquivadas em minha mente para reexame, e incluí o Pacaembu dentro das possibilidades. A peregrinação por outros lugares e a descoberta de sete mil metros quadrados disponíveis embaixo das arquibancadas firmaram então a decisão de fazer o Museu aqui. O apoio e o endosso indispensáveis da CBF ao Museu foram dados pelo Ricardo Teixeira desde o seu lançamento.

Para mim, o Pacaembu e o futebol se confundem. Bem criança, eu vinha com meu pai nos domingos à tarde, assistir os jogos do Palmeiras. Era da inocência: enquanto jogavam os aspirantes, os craques da partida principal ficavam assistindo, sentados no alto das arquibancadas, e eu em volta, babando com o Lula (ponta direita do Palmeiras), o Turcão, o Lima, o Canhotinho, o Jair Rosa Pinto… Pois o Museu estará embaixo exatamente de onde ficavam os jogadores. Foi aqui também que assisti na adolescência o famoso 7 a 6 do Santos sobre o Palmeiras, na Taça Rio São Paulo, quando até os palmeirenses aplaudiram Pelé e o ataque do Santos. Aliás, fiz a sugestão de ligar o Museu ao campo permitindo no meio do percurso que o torcedor-visitante contemple também o estádio.

Disse que o museu ultrapassou nossas expectativas. E vou invocar como testemunha o Caio Carvalho para me defender de minha fama, injusta, de detalhista ou centralizador. Entre as poucas intromissões, sugeri homenagear fortemente o maior locutor esportivo pré-televisão, o Pedro Luiz. Além da foto conjunta dos trabalhadores que executaram as obras (menos palmeirenses que eu gostaria, como descobri conversando com eles), que fará parte do Museu.

Quando fui para o Governo do Estado, a Prefeitura, pelas mãos do Walter, do Caio e do Clóvis, continuou tocando o projeto como prioritário, continuei a arrecadar recursos e a alocar, então, também financiamento do Estado. E o Estado vai gerir o Museu, trazendo para si todas as responsabilidades do seu custeio futuro.

Mas deixem-me, agora, sublinhar dez pontos que, penso, contribuem para fixar o significado deste Museu.

1. COPA DE 2014

A realização do Museu do Futebol constitui um fato novo, de caráter internacional, pelo padrão que dá ao esporte, não apenas pelo seu conteúdo, como pelo uso de tecnologia de ponta. Constitui assim, um significativo acréscimo de qualificação para a demanda brasileira de sediar a Copa de 2104, pois traz o futebol para uma contemporaneidade ainda não vista em museus do gênero.

2. NOVAS FORMAS DE AÇÃO EDUCATIVA

O Museu demonstra, aos olhos do Brasil, o avanço de São Paulo em promover uma educação pública de qualidade, não apenas na escola, mas nas suas extensões, com a criação de verdadeiros “museus-escola”, que ampliam a capacidade de compreensão e aproveitamento escolar do aluno.

3. INSERÇÃO POLÍTICA NACIONAL

Não se trata apenas de criar um museu dedicado ao esporte de um país, mas sim de valorizar o próprio país por meio de uma de suas expressões mais significativas: o futebol. O Museu do Futebol serve de exemplo para a tese de devolver ao brasileiro o sentimento de pertencimento a uma origem comum, a um desejo de construção de um ideal de país. “Nós somos uma invenção de nós mesmos”, disse uma vez o poeta Ferreira Gullar. Ou seja, nós somos parte do imaginário daquilo que imaginamos que somos. O Museu do Futebol não é apenas fisicamente palpável; ele constitui a ampliação de sentidos e sentimentos comuns que constituem a base da nacionalidade.

4. A ACESSIBILIDADE: um exemplo para o mundo

Trata-se do primeiro museu brasileiro e, sem sombra de dúvida, único no mundo, a ter um programa — de ponta a ponta — voltado à pessoa portadora de problemas especiais. Um exemplo: ao cego será possível ver, por meio do toque, a jogada de Ronaldinho Gaúcho, exposta na Sala dos Anjos Barrocos, inteiramente de pernas para o ar. Ele irá tocar o corpo do jogador, reproduzido em relevo numa placa de gesso…

5. UM MUSEU DE TODOS

O Museu será visitado por torcedores e não torcedores, já que ele não é excludente. Ao contrário. Ele é um museu aberto às famílias, avôs e netos. Ele está na origem daquilo que ele quer valorizar como mais caro no homem: a palavra. Daí ser o futebol o campo da palavra. Todas as imagens nele existentes fazem parte de nossa herança comum e devem ser passadas de geração a geração pela força expressiva da tradição oral, daquilo que pais contam a seus filhos, avôs a seus netos, a partir das imagens que acordam a memória (são 1.500 fotos e seis horas de imagens em movimento). O Museu comemora este congraçamento. Ele une.

6. O MUSEU: UM PONTO DE ATRAÇÃO INTERNACIONAL

O Museu dá a São Paulo uma atratividade internacional sem precedentes, única, para seu turista que vem do exterior, ao mesmo tempo em que atiça a atenção do visitante de outros Estados, na medida em que se constitui de modelo de museu de ponta, de última geração, ou como dito pelos que já aqui vieram: “um museu de pernas pro ar”, “um museu do outro mundo”, “um museu futurista”…

7. RECUPERAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO DOS PAULISTANOS

Ao recuperar o velho estádio e o seu entorno da praça Charles Miller, o Museu devolve ao cidadão de São Paulo um espaço pouco frequentado e de forte beleza natural: a encosta adjacente dos morrotes dos bairros de Perdizes e Pacaembu. Trata-se de uma nova perspectiva que se abre ao olhar de quem vive na própria cidade e pouco a frequenta nesse lugar. Ou seja, cria uma nova área de lazer e abrigo para o coração do paulistano.

8. O MUSEU DIGNIFICA O FUTEBOL

Ao dar ao futebol o mesmo status das outras formas de manifestação cultural — a arte, a música, a literatura — o Museu entroniza o futebol em um aspecto, até então, não exposto de forma tão explícita aos olhos do próprio torcedor. Dignificando o esporte, ele contribuirá, sem dúvida, a elevar a qualificação do próprio torcedor, que se sentirá honrado com o Museu que, por extensão, qualifica algo de caráter aparentemente tão popular e, paradoxalmente, tão “cultivado”. Ou seja, se eleva o status social e cultural do próprio torcedor de futebol.

9. O MUSEU DEMONSTRA A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO DO PODER PÚBLICO

Ao idealizarmos o Museu do Futebol e transformar idéias em ação e ação em realidade, o governo e a prefeitura de São Paulo assumem o papel mais comezinho — e que, muitas vezes, nos esquecemos — de que cumpre ao Poder Público realizar ações que elevem a cultura. Ou seja, a exemplo dos anos 30 e 40, ser o Poder Público fomentador de bases culturais — como o foram, na época, a criação do Instituto Nacional do Livro ou do Instituto do Patrimônio Histórico — e não ficar a reboque das iniciativas individuais ou de caráter mais imediatista.

10. SEM A AMBIÇÃO DO EXCLUSIVISMO

Quando disse antes que não tínhamos a ambição do exclusivismo, quis dizer: o “acervo” deste museu é, sobretudo, sua criatividade, não são suas peças. Por isso, certamente haverá outros semelhantes e melhores no Rio de Janeiro, e em outros estados, que acrescentarão inovações, contribuições originais. Em 2014, os estrangeiros que vierem assistir o jogo inicial da Copa, visitarão o Museu do Esporte de São Paulo. Os que forem à final visitarão o Museu do Esporte do Rio de Janeiro.

O Museu do Futebol veio para ficar e modificar o próprio significado da instituição “museu”.