Coletiva de Serra no Hospital Santa Marcelina sobre os AMEs

O pronuciamento aconteceu nesta segunda-feira, 18, após lançamento de um novo modelo de atendimento clínico

ter, 19/06/2007 - 12h49 | Do Portal do Governo

(Atualizada às 14h28)

Entrevista coletiva concedida pelo governador José Serra nesta segunda-feira, 18,  no Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, bairro da zona leste da Capital, após lançamento de um novo modelo de atendimento clínico batizado de Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs). A cerimônia contou com a presença do Secretário Estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata e do prefeito Gilberto Kassab.

Serra – Nós vamos fazer 30 novos ambulatórios de especialidades no Estado e reformar outros dez para ter uma rede de 40 ambulatórios, com muita qualidade de atendimento, modernizados, que farão desde transfusão de sangue, pequenas cirurgias, a consultas de especialidades. Essa é a principal carência que tem no Estado de São Paulo.

O trabalho aqui é de parceria com a Prefeitura. A Prefeitura tem os postos de saúde, e os postos de saúde encaminham as pessoas para as consultas que são feitas no ambulatórios do Estado. O laboratório de hoje, este AME (Ambulatório Médico de Especialidades) é com o Santa Marcelina. Quem vai tocar o ambulatórios são as freiras do Santa Marcelina.  

Quando as reformas já estiverem avançadas, até o fim do ano, serão 33 mil consultas por mês, respondendo àquela que talvez seja a principal demanda na área pública, que é a demanda por consultas. Essa é a área mais crítica que tem o Estado hoje, São Paulo como um todo. É a área que estamos enfrentando aqui na capital em parceria com o prefeito Kassab (Gilberto) e com a equipe da Prefeitura.

O Santa Marcelina é um hospital muito importante, faz quase 50 cirurgias por dia e atende no Pronto Socorro quase mil pessoas por dia. E, agora, o pessoal do Santa Marcelina vai entrar em cheio na atenção ambulatorial, cuidarão também aqui neste bairro, dos Postos de Saúde, das UBS’s (Unidades Básicas de Saúde); o que vai facilitar muito o entrosamento, que é absolutamente muito imprescindível.

Às vezes tem capacidade, tem pessoal, tem tudo, e as consultas acabam não acontecendo pelo desentendimento burocrático. Nós estamos enfrentando isso através da informatização das UBS´s, da ligação das UBS´s com os ambulatórios por informática, por computador e também pela integração do serviço.

O Santa Marcelina, na cidade de Tiradentes, vai cuidar do Hospital, das consultas médicas e vai cuidar dos Postos de Saúde. Quando é uma entidade só séria, humanista, bem preparada, a saúde funciona melhor. Vale a pena pôr dinheiro nisso!

Repórter – O Governo do Estado destina uma parte, a Prefeitura também destina uma parte de verbas para a saúde e a união não está fazendo a parte dela?

Serra – A União não está fazendo a parte dela integralmente porque recursos que deveriam vir para a Saúde estão indo para outros problemas do Governo Federal. Nada a opor a esses programas, por exemplo, o Bolsa Família; sou a favor do Bolsa Família, mas não é despesa de Saúde e está saindo dinheiro da Saúde para pagar o Bolsa Família.

Eu acho que devia sair dinheiro para o Bolsa Família de outro item, da alimentação, de transferência de renda, mas não da Saúde. Porque aí fica faltando recursos para as Santas Casa, recursos para medicamentos, recursos para cirurgias e tudo mais. O próprio Santa Marcelina tem sofrido isso, e a gente tem corrido atrás, o Estado que cumpre a Emenda Constitucional e a Prefeitura também para socorrer, inclusive, levando o problema ao Ministério da Saúde. Eu confio que o novo ministro será capaz de resolver este problema.

Repórter – Sobre esse novo modelo, o governo tem isso claro que é uma mudança de hábito?

Serra – Não é bem uma mudança de hábito, mas é uma metodologia mais estruturada para fazer as coisas funcionarem direito. Quer dizer, a pessoa tem um problema, vai a um Posto de Saúde, o médico vê, se ele achar que tem que ser uma consulta de oftalmologia, de ortopedia, problema nefrológico etc., aí marca-se imediatamente no ambulatório de especialidade. Para isso, precisa ter ambulatórios em todo lugar, por isso, nós queremos ter 40 ambulatórios no estado de São Paulo, inclusive, divididos pelo interior para cubrir todas as regiões. A idéia é que nenhuma região fique sem isso, mas nós dependemos das parcerias com as prefeituras, que são as prefeituras que devem encaminhar. Aqui em São Paulo o Estado tinha 200 Postos de Saúde e a Prefeitura tinha 200, aí ainda na gestão passada quando a Marta (Suplicy, atual ministra do Turismo) era prefeita e o Alckmin governador (Geraldo), os 200 Postos de Saúde do estado foram para a prefeitura, a prefeitura ficou com 400 postos. Então, é justo que o Estado amplie agora as consultas de especialidades para poder dar vazão a demandas que vem dessa rede, que são muito prementes.  Quando você pega pesquisa sobre Saúde, o problema número um é o de marcação de consultas. Portanto, nos estamos agora enfrentando de frente o problema que é o número um: o de consultas. Não vai resolver hoje para amanhã, mas eu garanto que amanhã estará melhor do que hoje, e hoje estará melhor do que ontem!

Repórter – Governador, durante a campanha, a Marta (Suplicy, atual ministra do Turismo) propôs aquele CEU Saúde, e o senhor disse que seria o fura-fila da Saúde e que não funcionaria. Esse tipo de modelo de ambulatório não é parecido com o que ela estava propondo?

Serra – Já tinha esses ambulatórios no Estado, o que eu disse é que tinha que melhorar a rede existente e não tinha nada que ficar construindo prédios espetaculares de novo para, no final, ficarem vazios. Quer dizer, nós estamos saindo da rede existente. Já tem ambulatórios de especialidades como, por exemplo, Bourroul, o Geraldo Bourroul que é lá no Centro, já tinha isso. O que nós estamos fazendo é ampliar e modernizar a rede.

Repórter – Qual a diferença daquele para esse?

Serra – Eu nem sei direito, aquele lá é um marketing; eu realmente nunca entendi direito do que se tratava. Mas esse aqui é um modelo que já existia e ninguém vai reinventar roda. Eu não reinvento roda, a gente vai fazendo as coisas que são necessárias.

Repórter – Governador há um prazo de entrega para esses hospitais reformados?

Serra – Até o final do mandato nós vamos fazer tudo. Nós já estamos começando a fazer. Outro dia lá em Votuporanga, por exemplo, eu fui participar do convênio que lá vai ser tocado pela Santa Casa. Tem uma novidade nesses ambulatórios, eles estão sendo tocados por entidades parceiras, por exemplo, em Votuporanga a Santa Casa de Votuporanga.

Repórter (inaudível)

Serra – (…) aqui na Zona Leste, no hospital Santa Marcelina, não estão sendo feitos diretamente pela administração governamental. Nós estamos fazendo com entidades filantrópicas sérias, da mesma maneira que os AMAS do município.

Repórter – (inaudível)

Serra – Não. Nós oferecemos. O estado já está aumentando. Os municípios também aumentaram muito. Você sabe que as pesquisas mostram. O Kassab poderá falar melhor, no caso da prefeitura o índice de satisfação é de mais de 90%, com relação às pessoas que vão buscar o medicamento. Quando elas saem, o pessoal pergunta, se não tivesse, reclamariam. Portanto, o índice de satisfação é alto. O que oferecemos à prefeitura são postos de distribuição no metrô, que já tem o Dose Certa, mas que possamos fazer também da prefeitura, que tem uma lista muito maior. Os do estádio hoje são 42, nós vamos ampliar para 94.  A prefeitura, isoladamente, tem uma lista de mais de 170, não é Gilberto?

Gilberto Kassab – São 173.

José Serra – Através do seu serviço é correto que seja assim, que cada prefeitura tenha o seu serviço. Mas nós oferecemos os guichês de distribuição existentes no metrô. Aliás, no Metrô também haverá a distribuição de anticoncepcionais, isto está sendo planejado.

Repórter – E esses guichês vão começar a funcionar quando?

Serra – Não. Eles já estão funcionando. Que metrô tem? Tem no Metrô Sé, no do HC, tem em várias estações. Nós estamos fazendo a proposta, precisamos organizar isso.

Repórter – Para quando?

Serra- Acho que logo, mas eu não posso dar uma data.

Repórter – A União e o estado pagavam ao Incor, ou pagavam no estado de São Paulo…

Serra – É eu vi isso. Eu acho que aí não é o Estado, é o Governo Federal. Eu acho que eles têm que cuidar de mudar o sistema de capitação. Não pode ser só a extração da córnia, que já justifique a remuneração. Tem que ser a extração da córnia de pessoas aptas, que não tenham AIDS, que não tenham nenhuma doença infecciosa. Eu acho que o Ministério tem que corrigir isso com urgência. Isso é um problema de natureza federal, não é estadual. Porque o recurso, inclusive, vem do Ministério da Saúde. Isto é dinheiro federal.

Repórter – E aqui no estado de São Paulo já há essa resolução para acertar a…

Serra – Aqui em São Paulo já tem essa resolução. Você não pode ficar captando córnia, por exemplo, de alguém que morre de AIDS. Você não pode aproveitar a córnea dele para colocar em uma pessoa necessitada, porque é perigoso. Da mesma maneira que isso vale para qualquer doença de natureza infecciosa.

Repórter – O senhor tem acompanhado a discussão sobre a reforma política na Câmara?

Serra – Tenho. Mas eu não comento, porque eu não estou envolvido diretamente, mas tenho.

Repórter – Com relação a essa questão de lista fechada ou lista aberta, qual é o posicionamento do senhor?

Serra – Olha, a bancada do PSDB, por maioria, acha que não é o momento de votar a lista fechada. Eu tenho uma posição sobre isso. Eu sou a favor do voto distrital, inclusive do distrital misto para deputados. Cada região elege o seu deputado e uma lista de partidos também elege deputados. Ou seja, uma combinação dos dois sistemas. O que eu estou propondo é que a experiência do voto distrital seja introduzida já no ano que vem aqui em São Pauloe nas cidades grandes. Qual é a proposta? É que nas cidades com mais de 200 mil eleitores seja feito o voto distrital na eleição do ano que vem. Isso significaria dividir a cidade de São Paulo em colégios de 150 mil eleitores, cada um elegeria o seu vereador. Seria muito melhor. As pessoas sabem em quem votaram, vão lembrar, vão cobrar, se não trabalhar direito, na eleição seguinte não elege. Seria muito melhor isso. Então eu estou concentrado nessa proposta, que me parece a mais importante. É o voto distrital nas cidades grandes e o voto distrital misto para deputados. E distrital puro, no caso dos municípios de mais de 200 mil habitantes.

Repórter – Financiamento público de campanha e fidelidade partidária?

Serra – Olha, financiamento público de campanha e financiamento público, tenho as minhas dúvidas. Você tem que ver bem qual é o sistema eleitoral. Mas eu tenho dúvidas quanto ao financiamento público, pelo dinheiro que isso representa e também se você não diminuir gastos de campanha vai ter pressão de qualquer maneira para financiamento privado legal ou ilegal. Então, é uma questão que tem que ser vista com muito cuidado.

Repórter – Governador, só mais uma última questão…

Serra – Deputado e vereador eu não voto lá, não é um tema que eu goste.

Repórter – Qual a opinião do senhor sobre as investigações das seccionais aqui em São Paulo?

Serra – A investigação está sendo feita pela própria polícia, através da Corregedoria e acompanhada pelo Ministério Público. O que garante mais força na investigação. Já há pessoas que foram suspensas das suas funções e vamos aguardar as conclusões dessa investigação para tomar as medidas que se impuserem, inclusive com o afastamento e punição dos responsáveis.

Repórter – Tem uns especialistas afirmando que já se trata do maior escândalo envolvendo policiais. O senhor acredita que seja isso mesmo?

Serra – Olha, eu não tenho uma avaliação para dizer que é o maior até porque a investigação não está concluída.

Repórter – Vários parlamentares já se posicionaram, inclusive hoje, a defender o afastamento do senador Renan Calheiros o senhor concorda com isso?

Serra – Olha, isso é um assunto de lá. Eu estou aqui a partir do governo. Eu não vou entrar nessa discussão. Eu acho que tudo deve ser investigado em qualquer nível da administração pública, legislativo, executivo e mesmo quando há no judiciário. Eu tenho esse princípio. Sou a favor sempre de se investigar. Agora, eu não vou entrar dividindo opiniões ou somando opiniões e dividindo com parlamentares.

Repórter – Sobre a criação da CPI na Assembléia para investigar as policias.

Serra- Aí é o “kit PT”. Qualquer coisinha: Opa, vamos criar uma CPI. CPI para os outros, porque para eles, eles não querem nunca.