Economia do Visitante: um olhar ampliado sobre o turismo

Devemos considerar os esforços para a criação de um lugar melhor para todos, independente se locais ou visitantes

Vinicius Lummertz
Secretário de Turismo e Viagens do Governo do Estado de São Paulo

ter, 03/05/2022 - 12h07 | Do Portal do Governo

Quando pensamos nos impactos econômicos (movimentação de dinheiro) e sociais (empregos) do setor de Viagens e Turismo, normalmente as análises são baseadas no “turista”. Ou seja, quanto aquele público, externo, injeta na economia, independente do motivo da viagem.

Não está errado. Praticamente todas as medições, seja de um evento ou um feriado, têm o “turista” como base. E isso acontece por ser este um elemento de mais fácil mensuração: é possível usar como base a hotelaria – se aumentou a ocupação, houve uma “movimentação turística” auferível. O mesmo para os transportes: se foram vendidas mais passagens ou se mais veículos foram alugados naquele destino, isso certamente é resultado do consumo dos turistas.

É hora de revermos esses conceitos. Usando o exemplo mais básico: o deslocamento dos moradores da grande São Paulo ou do interior para o litoral nos feriadões. Normalmente os números são superlativos – 300 mil veículos, um milhão de pessoas. Mais de 95% desta multidão não ficarão em hotéis ou pousadas, não comprarão passagens e não alugarão carros.

Uma boa parte possui imóvel no litoral, no que se convencionou chamar de “turismo de segunda residência”. No final do dia, para o comércio das cidades litorâneas isso faz alguma diferença? Quase nenhuma. E a pandemia escancarou esta realidade. Além disso, uma parte considerável dos “turistas clássicos” que compram passagens e ficam em hotéis, acabam não sendo contabilizados neste resultado expressivo.

Isso vale para cidades do interior paulista: a medição do impacto se escora nos percentuais dos hotéis ou pousadas que, certamente, não são o parâmetro mais real: em várias a principal oferta de acomodações é em chácaras, contadas aos milhares, ou locação de imóveis por meio de plataformas online – e ambas passam à margem das aferições oficiais.

E mesmo esta ampliação do foco, que reconhece, mas não mede o “consumo autônomo”, é limitada ao movimento de grupos de viajantes. Não leva em conta os investimentos e o feito para que as viagens se concretizem. Esse olhar, que considera também a infraestrutura, pública ou privada, turística ou que reforça as características ou vocações locais, é o que podemos chamar de “Economia do Visitante”.

Alguns exemplos no estado: o Governo irá autorizar quase R$ 500 milhões para obras em 210 cidade turísticas. Somadas as liberações de 2019 a 21 e os convênios do final do ano passado, bateremos em R$ 1,4 bilhão; o Governo também concedeu 22 aeroportos regionais; na capital paulista; o privado Cidade Matarazzo, na capital, tem investimentos de R$ 2,7 bilhões; em Andradina, 630 km da capital, um parque aquático que teve suporte da agência InvestSP o investimento é de R$ 500 milhões.

Nas métricas tradicionais, e pegando apenas o exemplo do parque aquático, seriam contabilizados os turistas e os empregos. Ponto. Tudo o mais, toda a movimentação feita na criação e manutenção de um polo turístico passariam desapercebidos. Os bilhões são atribuídos a outras atividades: construção civil, por exemplo – que não existiriam sem a existência dos “visitantes”.

Olhar o que acontece em um destino como resultado do que se convencionou chamar de “turismo” dificulta a tomada de decisões estratégicas mais amplas para o desenvolvimento da “economia do visitante”. Devemos considerar os esforços para a criação de um lugar melhor para todos, independente se locais ou visitantes