Paulistas se interessam por ciência, diz pesquisa

Análise é resultado de um estudo que será apresentado por Carlos Vogt na SBPC

ter, 15/07/2008 - 8h20 | Do Portal do Governo

Os moradores do estado de São Paulo se interessam mais por Ciência e Tecnologia (C&T) do que por temas como Política, Economia e Cultura. A conclusão faz parte de pesquisa inédita, cujos resultados serão apresentados por Carlos Vogt, Secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo, no Simpósio “Sociedade e Percepção Pública da Ciência”, na quinta-feira, 17, às 10h30, durante a 60a reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece de 13 a 18 de julho, na UNICAMP.

O estudo Percepção pública da ciência e tecnologia: uma abordagem metodológica para São Paulo consultou 1825 pessoas de 33 municípios do estado, incluindo a capital. Do total, 63,4% dos entrevistados revelaram que se interessam muito ou simplesmente se interessam pelo tema Ciência e Tecnologia, mais do que Política (21,1%), Economia e Empresas (43,3%) e Cinema, Arte e Cultura (58,7%). À frente de Ciência e Tecnologia, estão Alimentação e Consumo (83,3%), Medicina e Saúde (80,9%), Meio Ambiente e Ecologia (76%) e Esportes (65,4%), sendo que as três primeiras são áreas claramente correlatas à ciência e tecnologia. O interesse por ciência e tecnologia e por temas relacionados está diretamente ligado, de acordo com os pesquisadores.

O trabalho está em andamento por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, coordenados pelo Prof. Carlos Vogt, e constituirá um dos capítulos da próxima edição de Indicadores de C,T&I em São Paulo, a ser publicada ainda este ano pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Informação científica

A pesquisa verificou ainda que nível de informação, por auto-valoração, é alto para as áreas consideradas correlatas à C&T, como Alimentação e consumo, em que 72,1% dos entrevistados responderam que se consideram “muito informados” e “informados” sobre o tema. O nível alto se mantém em Medicina e saúde (63,6%) e Meio ambiente e ecologia (61,4%). Segundo os pesquisadores, os dados mostram que esses temas não apenas despertam interesse, mas levam as pessoas a consumirem informações a respeito deles, na busca de aumentar seu conhecimento e também na tentativa de encontrar respostas para problemas a eles relacionados.

Mas quando se trata de C&T exclusivamente, o que se observa é um nível baixo de adesões para a resposta Muito informado: 105 pessoas, ou 5,8% dos respondentes, consideraram-se muito informados sobre o tema. Um número maior, de 722 pessoas, ou 39,6%, é observado para a resposta Informado em C&T. “O fato sugere que, apesar do interesse, nem sempre as pessoas têm um nível de informação compatível”, ponderam os autores do trabalho.

De acordo com Carlos Vogt, coordenador da pesquisa, a percepção pública de C&T está vinculada à cultura geral do indivíduo e aos estímulos que recebe dos meios de comunicação. Para ele, a inserção dos temas de C&T na sociedade é um processo amplo, de ordem cultural, que ele denomina de cultura científica.

Interesse e informação em C&T é um dos quatro eixos de análise da pesquisa em andamento no Labjor sobre indicadores de percepção pública da ciência. Os outros três eixos são: valorações e atitudes sobre C&T; apropriação individual e social de C&T e cidadania e políticas de C&T.

Indicadores de cultura científica

A busca por indicadores que permitam avaliar a percepção e compreensão pública da ciência começou há trinta anos, impulsionada pelos movimentos sociais críticos iniciados logo após a Segunda Guerra Mundial e intensificados na década de 1960. No Brasil, a primeira pesquisa foi realizada em 1987, por solicitação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e através do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Em 2006, uma nova pesquisa nacional sobre a percepção do brasileiro quanto à C&T foi realizada pelo Ministério de Ciência e de Tecnologia (MCT).

De acordo com os pesquisadores do Labjor, tão importante quanto estudar a percepção pública da ciência e da tecnologia nos cidadãos, com o objetivo, por exemplo, de se guiar políticas públicas, é criar instrumentos que permitam comparações nacionais e internacionais desses indicadores. Por isso, o trabalho do Labjor integra um projeto maior, organizado pela Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (RICYT) e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), realizado a partir de 2007. Os dados da cidade de São Paulo serão comparados com outras seis grandes cidades da Iberoamérica: Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela), Madrid (Espanha), Panamá (Panamá) e Santiago (Chile).

O esforço da equipe do Labjor para realizar um trabalho de percepção pública da ciência metodologicamente integrado começou no início da década. Em 2003 e em 2004, o Labjor, com apoio da Fapesp, realizou uma pesquisa conjuntamente com Espanha, Argentina e Uruguai. Os resultados foram publicados em português e espanhol no livro Percepção Pública da Ciência- Resultados da Pesquisa na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai, em 2003, e no Indicadores de C,T&I em São Paulo, da Fapesp, em 2005.

O Secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt, também vai participar, durante a SBPC, das sessões “SBPC: 60 Anos de Divulgação Científica”, na quarta-feira (16), às 16h15; “Percepção Pública da Ciência”, na quinta-feira (17), às 14h, e “Autosuficiência do Desenvolvimento de Produção de Vacina no Brasil”, na sexta-feira (18), às 10h30.

Da Secretaria de Ensino Superior