Fuja do trânsito. Descubra SP a pé

Jornal da Tarde - Domingo, 9 de março de 2008

dom, 09/03/2008 - 12h54 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

Em tempos de congestionamento recorde, uma coleção recém-lançada de livros patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura propõe revelar, a quem se dispõe a largar o automóvel em casa e percorrer São Paulo a pé uma cidade impossível de se observar de dentro do carro: repleta de curiosidades históricas e surpresas escondidas. Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo, um dos cinco volumes da Editora Narrativa Um, apresenta trilhas urbanas criadas por especialistas variados, de um urbanista especializado em cemitérios a um americano estudioso do Brasil.

Criado pelo urbanista Renato Cymbalista, do Instituto Pólis, o roteiro que abre o livro propõe contar a história da morte na cidade, do primeiro local onde foi realizado um sepultamento cristão à obra-prima dos cemitérios paulistanos, o da Consolação. No caminho de Cymbalista (veja mapa), curiosidades como a Igreja de Santa Cruz dos Enforcados, na Praça da Liberdade, onde ficava a forca de São Paulo. Hoje, a igreja é visitada por outros tipos de enforcados, os que buscam livramento divino para a corda no pescoço das dívidas impagáveis.

Nem todos os passeios propostos têm relíquias históricas tão relevantes, mas todos apresentam lugares repletos de histórias interessantes. Há caminhos para se fazer na Liberdade, no centro, pelos galpões da Mooca, na zona leste, em meio às mansões do Jardim América e até pelas margens do Rio Pinheiros, ambos na zona sul. Os textos interessam tanto quanto os mapas. Repletos de detalhes e piadas, são apenas em português. Segundo o organizador do livro, o historiador Roney Cytrynowicz, mais do que apenas os turistas, sua obra ambiciona conquistar os próprios moradores.

CIRCUITOS

“Há uma espécie de barreira intransponível para passeios a pé pela cidade”, diz Roney. “O livro mostra que a barreira é imaginária, que há circuitos muito interessantes, passeios divertidos. Eu, sinceramente, acredito que a melhor maneira de conhecer uma cidade é caminhando”, considera.

O escritor e roteirista Fernando Bonassi é autor do roteiro da Mooca, na zona leste, bairro onde nasceu. Hoje morador de Higienópolis, no centro, ele decidiu vender o carro e passar a andar a pé, mesmo que nem sempre a passeio. “Fiz esse pacto comigo mesmo”, conta. “Claro que moro em um bairro que me permite ter acesso a tudo o que preciso próximo, mas andar de metrô ou de ônibus nunca foi problema para mim.”

O roteiro proposto por Bonassi começa no Memorial do Imigrante, próximo da Estação Brás do Metrô e segue pelos galpões da Rua Borges Figueiredo. “A chamada Mooca Baixa, onde cresci, está sendo invadida por empreendimentos imobiliários. O cenário que proponho, de um bairro fabril e multicultural, da sede de antigas indústrias, pode desaparecer daqui a uns dez anos.”

CASA DE CHARLES MILLER

O passeio da urbanista e professora universitária Silvia Ferreira Santos Wolf é um desafio a desvendar os segredos das mansões do Jardim América, primeiro dos chamados bairros-jardim da Companhia City, criado na década de 10. A primeira curiosidade a ser observada é o traçado sinuoso das ruas, que formam paisagens belíssimas.

Entre as casas listadas por Silvia, geralmente desenhadas por arquitetos badalados do passado e do presente, está a projetada por Barry Parker para Charles Miller, na Rua México, 95. O primeiro foi o autor do loteamento City América e o segundo, introdutor do futebol no Brasil. Aos visitantes do bairro, a urbanista alerta para um sem-número de obstáculos em forma de guaritas e chancelas. Ela também critica os muros altos demais, que escondem geralmente as melhores curiosidades arquitetônicas, casas em art déco quando o estilo era moda, outras normandas, coloniais, modernistas.

Além desses passeios, o livro reúne ainda o roteiro pela Liberdade, proposto pelo brasilianista Jeffrey Lesser, um passeio pelo centro, proposto por um dos maiores especialistas em patrimônio histórico da cidade, o professor Carlos Lemos, da USP, uma volta de trem e a pé pelas margens do Rio Pinheiros até a Represa Guarapiranga, de Monica Musatti Cytrynowicz, outro apenas dentro da Avenida São João, por Michel Gorski, um tour pelo Ipiranga planejado por Claudia Valladão de Mattos, um roteiro pelas galerias do centro da cidade, incluindo a Galeria do Rock, por Paula Ester Janovich, e, por último, o passeio proposto por Roney Cytrynowicz pelo Bom Retiro, “um bairro cosmopolita desde o século 19”.

A coleção de roteiros para caminhadas conquistou a premiação na categoria Coleção de Livros sobre São Paulo do Programa de Ação Cultural. Incluem ainda Dez Roteiros a Pé com Crianças pela História de São Paulo, Santos e Litoral: Dez Roteiros Históricos a Pé, Roteiros Históricos a Pé Próximos a São Paulo e Roteiros a Pé com Crianças>Próximos a São Paulo.