HC testa celular que controla glicose no sangue de diabético

Programa instalado no telefone calcula qual a dose de insulina a ser aplicada

sáb, 05/01/2008 - 14h28 | Do Portal do Governo

Folha de São Paulo

Diabéticos atendidos pelo Hospital das Clínicas de São Paulo estão testando um sistema inédito que usa o celular para controlar a taxa de glicose no sangue. O programa eletrônico instalado no telefone permite calcular com precisão a dose de insulina que deve ser aplicada antes de cada refeição.

O diabetes é uma doença caracterizada por problemas na produção ou na ação da insulina, hormônio do pâncreas que faz com que a glicose chegue às células e se transforme em energia. Com o tempo, se não for controlada, a doença provoca problemas nos rins, nos nervos, nos olhos e no coração. O Brasil tem 8 milhões de diabéticos, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes.

A doença é mantida sob controle com a administração de insulina artificial, que impede o excesso de glicose no sangue. O grande desafio dos diabéticos é determinar com precisão a quantidade de insulina a ser aplicada.

Para isso, precisam fazer uma série de cálculos, que inclui a quantidade ingerida de carboidrato e glicose (é necessário consultar uma tabela nutricional), o nível de glicose no sangue (é preciso fazer um furinho no dedo) e até a hora do dia (quanto mais cedo, maior a quantidade de insulina).

De acordo com médicos endocrinologistas, é comum que os pacientes cometam erros na hora de calcular os carboidratos. Acabam tomando insulina demais ou de menos, o que prejudica o controle da doença.

Com o sistema em teste no Hospital das Clínicas, o diabético não precisa fazer contas. Ele faz a seleção de seu cardápio -no celular- numa lista com 600 alimentos e as respectivas medidas (colheres, copos e fatias, por exemplo). A quantidade de carboidratos é calculada automaticamente. Em seguida, digita o nível de glicose no sangue (o furinho no dedo continua sendo necessário). O programa leva em consideração a hora do dia e até o tipo de insulina usado. O índice de insulina a ser aplicada aparece no visor.

“Agora estou tranqüila, porque sei que não existe o risco de errar”, diz a estudante Analy Garcia Pereira, 21, que está participando dos testes. Ela conta que, antes de usar o celular, tinha mal-estar, dor de cabeça e tontura porque não conseguia calcular corretamente a quantidade de insulina. “A contagem de carboidratos às vezes é difícil. Alguns alimentos não estão na tabela. Eu acabava tendo de chutar os valores.”

A endocrinologista Karla Melo, que coordena os testes, afirma que outra vantagem do sistema é o fato de todos os dados do celular serem automaticamente transferidos para um prontuário eletrônico, ao qual apenas o médico do paciente tem acesso. “Isso permite avaliar o tratamento em tempo real e fazer as alterações necessárias”, diz.

O software GlicOnline foi desenvolvido numa incubadora de empresas da USP (Universidade de São Paulo) e recebeu R$ 500 mil da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

A intenção dos criadores do sistema é que chegue ao mercado ainda nos primeiros meses deste ano e que seja adquirido principalmente por operadoras de planos de saúde. O preço de cada licença está estimado em cerca de R$ 25.

“Estão surgindo equipamentos cada vez mais sofisticados que estão facilitando a vida dos pacientes. Até pouco tempo atrás, era impensável que certos tipos de diabético chegariam à velhice com saúde, livres de complicações”, afirma o endocrinologista Walter José Minicucci, da diretoria da Sociedade Brasileira de Diabetes.