Parceria oferece curso de formação de executivos a alunos afro-descendentes

Itaú e Unicamp capacitam estudantes universitários com curso direcionado à área financeira

dom, 23/09/2007 - 10h14 | Do Portal do Governo

Qualificar universitários afro-descendentes da área financeira, para que tenham oportunidades iguais no mercado de trabalho em relação a outros estudantes. Com esse propósito, o Banco Itaú desenvolveu o curso Formação de Executivo Júnior, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A iniciativa é direcionada a estudantes de algumas universidades, como a Zumbi dos Palmares (Unipalmares) e São Francisco, na capital.

Considerado referência na área de finanças, o projeto começou em 2005, com 21 alunos do segundo ano da Unipalmares. Nos anos seguintes, novos estudantes se integraram à iniciativa que, atualmente, reúne 91 estagiários. A seleção dos alunos é realizada pelo Itaú, e as matrículas efetivadas pela Unicamp. Os estudantes ganham estágio na instituição financeira, com duração de três anos, além de curso de 360 horas oferecido pela Unicamp. Incluído na modalidade extensão, o curso complementa a formação recebida em sala de aula. Ministrado na sede do banco, é composto por dez disciplinas, entre as quais Redação Empresarial, Relacionamento Interpessoal e Geografia, Política e Economia.

Abertura de empresas

Segundo o coordenador do projeto, professor Milton Mori, da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, muitos alunos tinham dificuldades de escrever corretamente, de conhecer a geografia do Brasil e do mundo, de saber se comportar e dialogar num ambiente profissional. “Nesse contexto, achamos que seria oportuna, para a formação complementar deles, a inclusão de temas voltados à economia e à política, além de saúde, segurança, responsabilidade social e qualidade de vida”.

O estágio é realizado nas diversas áreas de negócios do banco, como Mercado de Capitais, Auditoria e Recursos Humanos. Antes mesmo de terminá-lo (o da primeira turma acaba no final deste ano), alguns alunos já foram contratados pelo banco. Ali o jovem aprende a rotina do local em que atua. Fica, durante o período, sob a tutela de um gestor, responsável pelo seu desenvolvimento profissional, monitoramento e avaliação na instituição.

João Batista Monteiro, gerente de contabilidade fiscal, é um dos 91 gestores. No dia-a-dia, acompanha o andamento dos trabalhos de uma estagiária e promove as adequações necessárias. As incumbências dela são similares às de um funcionário. O diferencial é que, por exemplo, participa do curso de capacitação da Unicamp e tem uma semana livre por mês para estudos, como os demais estagiários. Segundo Monteiro, a jovem já se especializou, com o estágio, em abertura e legalização de empresas. Se sair da instituição, saberá como proceder a esse respeito, avalia o gestor.

Sucesso

Claudia Petlik Fischer, supervisora de Cultura de Performance, explica que a intenção é que o estagiário, sob sua supervisão, conheça todos os processos da área, passando, a cada período, por um deles. Diariamente, o jovem tem sempre uma rotina a cumprir, recebendo acompanhamento necessário para completá-la. Inicialmente, a dificuldade do rapaz, segundo ela, era em termos de iniciativa, o que estava relacionado ao trabalho anterior, de office-boy. Afora isso, a instituição também leva em conta em seus funcionários valores como ética, preocupação com a satisfação dos clientes e uma atitude de busca de melhoria contínua.

Os resultados têm sido surpreendentes, segundo Valéria Riccomini, superintendente de Atração e Integração das Pessoas e responsável pelo projeto no Itaú. “Tanto na primeira como nas demais turmas percebemos que os estagiários apresentam evolução significativa.” Esses jovens, de acordo com ela, trazem ao banco visão diferente da que ele estava acostumado, em termos de perfis de profissionais. “São pessoas que batalham muito, têm como objetivo o sucesso, e estamos trabalhando com eles para que sirvam de modelo para outros profissionais”.

Para o reitor da Unipalmares, professor José Vicente, o curso é de fundamental importância para a universidade. “Permite que cumpramos nossas mais caras dimensões institucionais, ou seja, incluir no mundo acadêmico, qualificar de maneira superior e tornar o aluno capaz de disputar o mercado de trabalho em igualdade de condições técnicas”.

Oportunidades

Como ficou desempregado, Celso Enrique de Moura Campos, 22 anos, quase trancou o curso de Administração de Empresas, da Unipalmares, na metade do primeiro ano. Soube, entretanto, do projeto do Itaú e se inscreveu, embora sem grandes expectativas.

Na segunda entrevista teve a convicção de que valeria a pena permanecer na universidade e tentar essa e outras possibilidades. “Havia recebido um dinheiro ao sair da empresa e pensei: vou investir em mim mesmo”, recorda.

Selecionado para o projeto, enfrentou, oito meses depois, novas dificuldades, com o nascimento da primeira filha. Ficou difícil conciliar o ritmo do estágio, o curso puxado oferecido pela Unicamp e as demandas da universidade com as obrigações de pai. Superou o momento, revela, com o apoio dos colegas de trabalho, curso, universidade e familiares.

Celso foi o primeiro estudante efetivado pelo Itaú – antes mesmo de terminar o estágio. Na sua visão, o projeto é um sucesso, principalmente pelo conhecimento que está adquirindo. Diz isso com base em contatos com outros estagiários. Segundo ele, esse conhecimento não tem como lhes ser tirado.

Também estudante de Administração de Empresas da Unipalmares, Valter Esteves da Silva, 29 anos, afirma que participar do curso oferecido pelo Itaú e Unicamp é uma chance ímpar. Com o estágio e os cursos de capacitação diz que se sente muito mais preparado. Apenas com a formação universitária, “teria bem menos chances de entrar no mercado”, avalia.

Mesmo que fizesse outros cursos após terminar a atual faculdade e estivesse bem preparado, acha que seria difícil entrar numa grande instituição. “Mas, estando aqui no Itaú fica mais fácil, porque posso conhecer a empresa e ela me conhecer”, argumenta.

Antes de entrar na universidade, o jovem trabalhou em ONGs e abrigos direcionados a crianças e adolescentes. Optou pela Unipalmares porque, além de oferecer o curso de Administração, destina-lhe meia bolsa de estudos. “Sempre me identifiquei com números, cálculos. Depois, ao trabalhar em ONGS e abrigos, passei a me interessar também por pessoas. O curso de Administração me dá essas possibilidades de trabalho”.

Paulo Henrique Andrade

Da Agência Imprensa Oficial

(I.P.)