As pesquisas conduzidas atualmente pela equipe da professora Silvia Nebra estão inseridas no Projeto Etanol, estudo desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe) da Unicamp em conjunto com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Na coordenação geral do trabalho está o físico Rogério Cerqueira Leite, professor emérito da Universidade. De acordo com um relatório já apresentado pelo Nipe, o Brasil teria condições de produzir, em 2025, álcool combustível suficiente para substituir 10% de toda a gasolina consumida no mundo. Isso equivaleria a algo como 205 bilhões de litros por ano.
Em reportagem publicada em março deste ano pelo Jornal da Unicamp, o pesquisador colaborador do Nipe, Carlos Eduardo Rossell, considerou esse objetivo perfeitamente possível de ser alcançado, desde que o país consiga conjugar vontade política do governo, planejamento por parte do setor sucroalcooleiro e desenvolvimento científico e tecnológico. Considerado o principal especialista brasileiro em hidrólise ácida, Rossell afirmou que uma das bases do Projeto Etanol está justamente no aproveitamento do bagaço e da palha da cana-de-açúcar para a produção de álcool combustível.
Diversas nações do mundo estão empreendendo esforços para dominar o processo de hidrólise para a produção de etanol. O Brasil está entre eles. Na Europa e Estados Unidos, no entanto, os estudos se concentram na palha do trigo e nos resíduos da colheita do milho. Assim, é importante que o país busque sua própria alternativa tecnológica, sob pena de vir a se tornar dependente de um modelo que provavelmente não se aplicará à sua realidade e necessidades. Na hidrólise ácida, o catalisador é um ácido, cuja função é quebrar as moléculas de celulose presentes no bagaço e na palha. Com isso, obtêm-se açúcares, que depois de fermentados se transformam em álcool. Ocorre, porém, que essa reação é muito rápida, o que dificulta o seu controle e favorece o surgimento de resultados adversos.
Há ainda a hidrólise enzimática, que como o próprio nome indica utiliza enzimas para promover a quebra das moléculas de celulose. Esse processo está sujeito a maior controle, mas em compensação é muito mais lento. No curto prazo, conforme o professor Rossell, a hidrólise ácida deve se constituir no caminho mais rápido para o Brasil aproveitar o bagaço e a palha da cana para ampliar a sua produção de etanol. “Isso não significa que a hidrólise enzimática não tenha interesse, muito pelo contrário, mas é uma tecnologia mais complexa e levará mais tempo para ser viabilizada”.
Do Jornal da Unicamp