Escola Estadual da zona leste dá exemplo de inclusão social

Procura por instituição de ensino especializada no atendimento de alunos com deficiência auditiva aumenta todos os anos

qua, 04/04/2007 - 9h33 | Do Portal do Governo

Na EEPSG Prof. Antônio Firmino de Proença, localizada no bairro da Mooca, capital, preconceito, medo e discriminação deram lugar à inclusão social a partir de ações simples e de dedicação. Alunos com deficiência auditiva, vindos de escolas especiais, são bem acolhidos pela direção, professores, alunos e funcionários. Assim, encontraram oportunidade para continuar seus estudos.

Com a instalação de um Serviço de Apoio Pedagógico Especializado (Sape) na área da deficiência auditiva, a inserção educacional desses estudantes se deu de forma tranqüila, até mesmo para seus familiares. Ao utilizarem a chamada sala de recursos, onde um professor especialista fica fora do horário normal de aula à disposição dos estudantes, auxiliando-os nas atividades escolares realizadas em classes comuns, o desempenho escolar, a adaptação e o relacionamento com os alunos ouvintes melhoraram sensivelmente. Resultado: a procura pela Firmino de Proença aumentou e o número de matrículas cresce ano a ano.

Mais de 20 deficientes auditivos fazem parte do quadro de alunos. “A escola é grande, os professores são bons. Eu ensino aos amigos a linguagem de sinais e aprendo também, pois eles me ajudam muito. É legal estudar aqui”, elogia Caio Henrique Cicale, de 17 anos, que se matriculou recentemente no 1º ano do ensino médio.

Inclusão

De fato, a exemplo da aluna Jaqueline Rodrigues, que não tem deficiência auditiva, a receptividade a esses estudantes foi boa. Num primeiro contato, em 2006, com a segunda turma com necessidades educacionais especiais, na área da deficiência auditiva, recém-chegada ao Antônio Firmino de Proença, a estudante demonstrou interesse em aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras). “No início, percebi que eles se comunicavam somente entre si. Achei que era receio de serem excluídos, mas quando houve uma oportunidade, me aproximei”, recorda-se Jaqueline.

Resultado: a garota não apenas aprendeu a língua de sinais como a ensinou para a sala toda: “A gente soletrava as palavras e eles nos mostravam como reproduzi-las em gestos. Assim, conseguimos passar para eles boa parte do que o professor explicava”, comenta.

Recomeço – Para entender como a Prof. Antônio Firmino de Proença se adaptou à nova realidade, é preciso voltar ao ano de 2005, quando Maria Aparecida Dias Okumura, mãe de Ângela, procurou a direção da escola para matricular a filha e duas amigas.

Ela tinha a informação de que o estabelecimento de ensino havia atendido, em 2004, uma aluna com o mesmo tipo de dificuldade de aprendizagem e de comunicação, relacionadas à deficiência auditiva. “Eu queria muito que minha filha voltasse a estudar. Seria um recomeço para ela. No início foi complicado, tive receio e fiquei insegura, pois ela vinha de uma escola para surdos-mudos. Na escola pública, teria de conviver com pessoas ouvintes”, recorda-se.

Com o tempo e a ajuda da então coordenadora, Jeanete Godoy Silva, a direção do colégio procurou informações dos órgãos competentes da Secretaria de Estado da Educação sobre como proceder para melhorar o atendimento aos estudantes e seus familiares. Por meio da Diretoria de Ensino Centro, que dispõe de Equipe de Educação Especial, as dificuldades iniciais foram superadas.

Hoje, Ângela, com 22 anos, e suas amigas, Mariana Bonfim, 19, e Vanessa Hermínia da Silva, 24, estão totalmente inseridas na rotina escolar. E o que pensam as meninas sobre o futuro? Ângela e Mariana acalentam o sonho de cursar a universidade. Ângela quer estudar Educação Física, porque gosta de esportes, e Mariana fez opção pelo curso de computação. Vanessa, que trabalha numa fábrica de salgadinhos, pensa em investir o que aprendeu em seu novo trabalho.

“Foi um longo caminho. No começo tive de pesquisar, conversar muito com os professores para que adotassem uma postura diferente em sala de aula, como por exemplo falar sempre de frente para o aluno, pausadamente, para que ele pudesse fazer a leitura labial. A escola está adaptada às necessidades educacionais especiais dessas alunas”, orgulha-se a professora Jeanete.

Sala de recursos

Com a vinda, também em 2005, da professora Sônia Regina Krüguer, com habilitação em educação especial na área da deficiência auditiva, a escola deu um salto de qualidade no atendimento.

Recursos materiais, como computador, armários, carteiras e materiais didáticos específicos – fitas de áudio que ensinam a língua de sinais e alguns dicionários de Libras, entre outros – foram colocados à disposição, numa sala especial, com o objetivo de atender às características específicas dos estudantes.

Utilizando a sala de recursos, fora do horário normal de aula, Sônia consegue fazer o “meio campo”, como ela própria define, entre alunos e professores: “Meu trabalho é, basicamente, inserir esses alunos numa nova realidade, porque a maioria vem de escolas especiais. Então, o professor me passa o conteúdo da matéria e eu adapto às necessidades de cada estudante”.

Quando os jovens têm dificuldade, ela assiste à aula para aprender o que está sendo ensinado pelo professor. Depois, na sala de recursos, passa as explicações para os alunos. “Também acompanho no momento em que realizam as avaliações”, ressalta.

O resultado do trabalho realizado pela professora tem merecido elogios por parte do corpo docente. Esse reconhecimento vem do bom desempenho escolar apresentado pelos estudantes. “Eles têm muito potencial”, avalia Sônia. Todos os dias, na parte da manhã, ela fica à disposição dos alunos na sala de recursos. Se houver necessidade, os estudantes podem marcar horário no período da tarde.

Língua de sinais

Ora explicando a matéria, ora assistindo às aulas, Sônia também faz um trabalho de conscientização na escola. “Com isso, não tivemos problemas de discriminação”, ressalta. Além dos cursos básicos de Libras para docentes, ela passou a ensinar a língua de sinais aos alunos e funcionários, e todos se mostraram interessados em aprender.

A professora também dá acompanhamento às famílias dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na área da deficiência auditiva e que, muitas vezes, chegam preocupadas com o momento de transição para a rede pública: “A ansiedade dos pais é grande quando têm de matricular seus filhos numa escola na qual a maioria dos alunos é ouvinte”, comenta Sônia.

“A vinda da professora Sônia nos ajudou muito. Tínhamos medo e insegurança, mas aprendemos muito com ela e conseguimos evoluir. As mães podem nos procurar com tranqüilidade, pois estamos adaptados para receber seus filhos,” afirma a professora de Língua Portuguesa, Neide Katayama Patti.

Em 2006, ela começou a dar aulas para os alunos com necessidades educacionais especiais. Neste ano, a professora informa que o número deles em sala de aula é maior. “Sinto que estão felizes. E isso me faz pensar que a inclusão desses alunos na escola pública é mais do que certa”, avalia.

SERVIÇO

Informações sobre o atendimento que a Secretaria de Estado da Educação oferece aos estudantes com deficiências especiais podem ser obtidas pelo telefone 0800 7700012

Marília Mestriner – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)