Unicamp: ProClone Biotecnologia cria programas para clonar e multiplicar mudas de flores

Empresa fundada por bióloga obteve apoio da Fapesp, que possibilitou o aperfeiçoamento técnico

seg, 21/08/2006 - 15h53 | Do Portal do Governo

A bióloga Monique Inês Segeren reúne capacidade de inovação tecnológica e vocação para comercializar. Mestre e doutora em genética de vegetal, em 1993, pela Unicamp, Monique trabalha para criar uma rede de produtores de flores reconhecidamente brasileiras, capazes de competir em situação de igualdade com os grandes produtores: Holanda, Japão e Estados Unidos. O mercado de flores movimenta aproximadamente US$ 64 bilhões por ano. Dois terços correspondem à Holanda, terra natal dos pais de Monique. “Com certeza a minha vocação para o comércio é de família”, afirma a bióloga, que se dedica desde 1990 a providenciar maneiras de promover qualidade e escala à produção de flores. Apesar de crescente, a participação do Brasil no comércio de flores é incipiente. Os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) indicam que, em 2005, o País exportou US$ 25,8 milhões. O valor indica crescimento de 9,4% na comparação com 2004, mas corresponde a apenas 0,04% do mercado global.

Não foi só o potencial de negócios que chamou a atenção da bióloga. Ela também está interessada em combater a evasão da flora brasileira. Segundo Monique, a Holanda registrou o germoplasma de 70% das espécies de flores comercializadas no mundo e recebe royalties por isso. Germoplasma, na linguagem dos botânicos, é o nome dado à base genética de uma planta, que reúne os materiais hereditários da espécie. “Entre esses 70% estão flores consagradamente brasileiras, como a gérbera, nossa margarida e algumas orquídeas”, reclama Monique. A fim de enfrentar a concorrência dos gigantes das flores, em 1997, Monique pediu financiamento do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para executar estratégia de entrada no mercado que tinha em mente.

Quando abriu a ProClone Biotecnologia, em 1989, vislumbrou a criação de infra-estrutura e a produção de meio de cultura para clonar e multiplicar mudas de flores com a finalidade de abastecer outros laboratórios e produtores. Mas se a técnica de clonagem de flores está difundida comercialmente no mundo há mais de 20 anos, como a ProClone conseguiria ser competitiva? “A chave está em programas de produção de muda de flores em escala”, afirma Monique.

Máquinas de assepsia 

A micropropagação é uma técnica usual na agronomia como meio de difundir uma cultura sem sementes e ajudar a diminuir seu custo de produção. Pode ser in vitro ou no campo, dependendo das facilidades de multiplicação. A técnica de clonagem de mudas pode ser observada na rotina sistemática de quatro das 12 funcionárias da ProClone. Paramentadas com aventais, luvas e toucas, sentadas diante de capelas apropriadas, empregadas de nível técnico manipulam pedaços minúsculos do broto de copo-de-leite. Cortam-o em pedacinhos e com pinças os “plantam” num gel, que é um meio de cultura, dentro de potes plásticos. Cada fragmento do broto é o meristema – aglomerado de células de um milímetro. Um pedaço de meristema de copo-de-leite pode render até 5 mil mudinhas no processo chamado de micropropagação in vitro.

O laboratório de micropropagação, instalado na cidade de Holambra, região de Campinas, é dividido entre uma sala de cem metros quadrados com pressão de ar positiva (ou seja, onde é insuflado mais ar internamente do que a possibilidade de saída, o que evita a entrada de poeira) para o crescimento das mudas e outra para a sua manipulação. Abriga as máquinas que dão à ProClone condições de produção em escala: um esterilizador a plasma (quarto estado da matéria) e uma caldeira de autoclavagem com distribuição semi-automática de solução de cultura. As máquinas foram desenvolvidas especialmente para a ProClone nas fases I e II do primeiro Pipe, aprovado em 1999.

Depois de investir R$ 700 mil de capital próprio (herança familiar) para montar o laboratório, Monique foi buscar os recursos na Fapesp para evitar a contaminação das plantas. Com os R$ 310 mil e os US$ 3 mil das fases I e II, a ProClone, associada à empresa Ceres Vitro – incubada na Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec) -, conseguiu patentear uma autoclave sem similar nacional. O equipamento lembra uma enorme caldeira industrial e garante a pureza e a assepsia do meio de cultura que será o primeiro “nutriente” dos pedacinhos de broto.

Ainda nesse projeto do Pipe, era preciso resolver o problema da contaminação dos potes plásticos. Com a ajuda de outra empresa também incubada na Ciatec, a Valitech, foi desenvolvido o esterilizador a plasma.

Cartel holandês 

Apesar de a estufa estar com 500 mil mudas de copos-de-leite prontas para serem plantadas, Monique tem de enfrentar o cartel holandês das flores. “Procuro registrar minhas espécies, mas o custo é muito alto e ainda assim não me livra do risco de ser acusada de pirataria”, afirma. A lei brasileira de proteção de cultivares admite o registro e o pedido de proteção na nova espécie, mas não existe patente de plantas no Brasil, como na Europa. Assim, empresas de má-fé podem requerer patentes de plantas registradas no País e levar as divergências comerciais para o âmbito jurídico. Baseada no ciclo de multiplicação das flores, a ProClone estruturou estratégia de entrada no mercado que a torna menos vulnerável. As mudas geradas in vitro da flor matriz podem ser multiplicadas no campo até por três vezes antes de perderem a força e a consistência genética.

Além disso, os produtos ornamentais têm potencial de comercialização quando são novidades. “Montei parceria com uma rede de produtores e levantei bom estoque de mudas. Em três anos, fecho o ciclo desta espécie de copo-de-leite. Depois que deixar de ser novidade, faço outra espécie”, explica Monique. Quando a concorrência acordar para o copo-de-leite bordô da ProClone, ela estará com outra variedade na praça.

Davi Molinari

Do site Inovação Unicamp