Febem 2: Psicóloga mostra às jovens que são capazes de construir sonhos

Atual turma do curso de audiovisual começou em junho e terminará suas atividades em setembro

sex, 18/08/2006 - 13h54 | Do Portal do Governo

O universo juvenil, drogas, alcoolismo, família, influência da mídia e violência são alguns dos temas que a psicóloga da ONG Novolhar, Adriane Lobeiro Machado, debate na sala de aula a partir da exibição de filmes de ficção, curtas-metragens e outros recursos.

“Mostramos que a busca de status pode levar ao crime. Nossa intenção é resgatar e construir sonhos e perspectivas e mostrar às internas certos valores que elas desconhecem ou não percebem”, afirma a psicóloga. Ela explica que a linguagem de hip hop, ligada à cultura de rua, é um caminho para a sensibilização.

A atual turma do curso de audiovisual começou em junho e terminará suas atividades em setembro. A partir da exibição de um episódio do seriado Cidade dos Homens, surgiu a discussão sobre a valorização da mulher. “As alunas questionaram: ‘Por que não fizeram também Cidade das Mulheres? Elas debatem o tema e querem produzir o trabalho final com esse título”, conta a psicóloga.

C.C.S, 18 anos, lembra que na classe elas falam do Dia Internacional da Mulher e de pessoas que se destacaram na história, como, por exemplo, Joana D’Arc. A garota é autora do hip hop A dor da Separação, criado para expressar a saudade do filho William, de dois anos, que vive num orfanato. “O curso de audiovisual é no que mais me empenho, porque é legal e aprendemos rima”, diz.

Viver em paz

N.A.B, 15 anos, adora decorar festas de aniversário. Conta que na Febem aprende novidades de arranjos no curso de artesanato. “Sonhava trabalhar nessa área, mas sempre desistia porque me sentia incapaz”, afirma. Com os conhecimentos de filmagem que adquiriu e o apoio do pessoal, conta que já começa a acreditar que é capaz de usar as novas habilidades para atuação profissional no futuro. “A vida do crime eu não quero mais / quero minha família para viver em paz. / Poder ficar junto com os meus irmãos / e mostrar a eles o sofrimento na prisão”, é o refrão de sua música, composta no curso.

Em dia de festa, a habilidosa C.J.S.C., 17 anos, sempre é convidada para ajudar nas gravações. Dia das Mães, festa junina, Olimpíada da Febem são alguns dos eventos registrados pela interna. “Ajudei a fazer o institucional da Febem. Filmamos os módulos (quartos), refeitórios, local de higienização, salas de cursos, enfim, nossa rotina aqui”, conta, orgulhosa. O material contribuiu para a produção de um vídeo comemorativo do 13o aniversário da unidade Parada de Taipas, em 7 de julho.

O diretor da unidade, Caio Rubens de Mello Castro, aposta na auto-estima que o curso desperta nas internas. Para exemplificar, conta que as garotas sempre se arrumam antes das filmagens.

A assistente social Débora Cristina Carone, encarregada da área técnica, explica que a maioria das internas comete delitos pela ausência de estruturas social e familiar: “A falta de emprego e a baixa auto-estima levam ao crime. A oportunidade de aprendizagem é uma possibilidade profissional e, principalmente, de melhoria da auto-estima”.

Santiago, o fundador da associação Novolhar, informa que os participantes do curso estão aptos a desempenhar as funções de assistente de produção ou de áudio. Quando as internas saem da Febem, se tiverem interesse em trabalhar no ramo podem procurar o Banco de Talentos da Novolhar. “Mas essa área está bem distante da realidade delas, o importante mesmo é que adquiram conhecimentos e melhorem a auto-estima”, defende.

A Novolhar mantém equipe com 11 jovens, sendo seis ex-internos da fundação. Eles produzem programa que vai ao ar pela TV PUC – Canal Universitário. O trabalho permite que os adolescentes façam de tudo no processo, desde pesquisa, elaboração de pautas, roteiro, gravação, produção até a edição do material.

O projeto Comunicação Audiovisual começou timidamente, há seis anos, nas unidades 30 e 31 de Franco da Rocha. “Na época, a situação lá era complicada. Nossa missão era oferecer algo diferente para melhorar o comportamento dos garotos”, relembra Santiago.

Os meninos gostaram da oficina, que rendeu frutos. Atualmente, as unidades Parnaíba (Complexo Tatuapé), Ipê (Complexo Raposo Tavares) e Rio Sena (Complexo Brás) aderiram à proposta. Desde sua criação, quase 3 mil adolescentes participaram do projeto.

Da Agência Imprensa Oficial