A gripe que mais preocupa

A Tribuna - Quinta-feira, dia 20 de abril de 2006

qui, 20/04/2006 - 11h04 | Do Portal do Governo

Carlos Magno Fortaleza (*)
Colaborador

  As discussões em torno da gripe aviária e de uma possível pandemia (epidemia de grandes proporções, que atinge o mundo) da doença ecoam nos quatro cantos do planeta, Brasil incluso, e merecem, indubitavelmente, todas as atenções por parte das autoridades de saúde pública. Até porque a população deve ser esclarecida sobre as reais dimensões do problema.

  Projeções catastróficas à parte, o fato é que a gripe causada pela mutação do vírus H5N1 atingiu, até agora, menos de duas centenas de pessoas em todo o mundo. E não há registros, até o momento, de transmissão da doença entre um ser humano e outro. O risco de a doença desembarcar na América do Sul existe, mas essa parte do continente não é rota de aves migratórias, diferentemente do que ocorre na Europa, motivo pelo qual a possibilidade da doença chegar ao Brasil é mais remota.

  Diante de um risco à saúde pública, agir preventivamente deve ser um imperativo. E o Brasil vem se preparando contra a gripe aviária, sobretudo o Estado de São Paulo. Por aqui já há 1.500 profissionais de saúde capacitados para lidar com a doença. O número de unidades sentinela que monitoram os tipos de vírus de gripe em circulação está sendo ampliado e o Instituto Butantan pesquisa uma vacina contra o H5N1.

  O alerta em torno da gripe aviária é válido e importante. Mas, neste momento, as atenções devem se concentrar, fundamentalmente, na chamada gripe comum, que é realidade no Brasil, transmissível entre seres humanos, e não pode ser considerada uma doença banal. A preocupação é ainda maior em relação aos idosos, que a partir de uma gripe podem desenvolver quadros respiratórios graves, como pneumonia, que podem levar a óbito.

  Desde 1999, o SUS (Sistema Único de Saúde) garante a vacinação gratuita de idosos contra o vírus Influenza, causador da gripe, tradicionalmente realizada no mês de abril. Neste ano a campanha será promovida entre os dias 24 de abril e 5 de maio, com interrupções apenas no domingo, dia 30, e no feriado de 1º. de maio. As vacinas estarão disponíveis nos postos de saúde para pessoas com 60 anos ou mais, sempre das 8 às 17 horas, incluindo o sábado, 29 de abril.

  Em São Paulo a Secretaria de Estado da Saúde quer vacinar 2,5 milhões de idosos, número que corresponde à meta de 70% dos cerca de 3,6 milhões de pessoas nessa faixa etária no Estado. Em 2005 a cobertura superou as expectativas, com 77,7% dos idosos imunizados.

  Para este ano a estrutura da campanha contará com cerca de 6,3 mil postos de vacinação, entre fixos e volantes, nas 645 cidades paulistas, além de 2,3 mil carros e quatro barcos. Ao todo serão mobilizados 30 mil profissionais de saúde, municipais e estaduais.

  A campanha inclui a imunização de idosos em asilos. Além da vacina contra o vírus Influenza, serão oferecidas à população doses da vacina dupla adulto, contra tétano e difteria, e da vacina contra o pneumococo, uma bactéria que pode causar pneumonias, otites, sinusites, faringites e meningites. Os idosos também poderão, com anuência de seus municípios, verificar possíveis problemas de câncer de boca.

  É alentador constatar que a adesão dos idosos à campanha vem crescendo em São Paulo graças ao esclarecimento da população em relação aos benefícios da vacina. Pouco a pouco cai o mito de que a imunização contra a gripe pode causar a doença. De maneira nenhuma isso pode acontecer. A vacina, na verdade, é produzida a com fragmentos do vírus atenuado. Não há qualquer risco à saúde do idoso, e a vacina não causa reações adversas graves. Não existe a menor possibilidade de causar a doença.

  Importante ressaltar que, como os tipos de vírus Influenza circulantes mudam a cada ano, a vacina também sofre modificações em sua composição. Por isso, é de extrema importância que todos os idosos sejam imunizados novamente a partir do próximo dia 24, evitando, assim, problemas de saúde mais graves em decorrência de uma ‘‘simples’’ gripe.

(*) Carlos Magno Fortaleza, médico infectologista, é coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.