Segurança: Carceragem desativada é transformada em espaço cultural

Local abrigava criminosos no passado, mas hoje oferece cultura e oportunidades para os jovens da região

qui, 16/06/2005 - 19h00 | Do Portal do Governo

A carceragem desativada da Delegacia de Heliópolis foi transformada em espaço cultural. O local abrigava criminosos no passado, mas hoje oferece cultura e oportunidades para os jovens da região. A criação do Espaço Cultural Comunitário Heliópolis foi uma iniciativa do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) em parceria com o Banco Santander Banespa, patrocinador da reforma. Na maior favela de São Paulo, na qual moram 100 mil pessoas, não existia nenhum centro cultural. Agora, cerca de 5 mil livros e duas salas de aula para informática e idiomas ocupam os ambientes da ex-carceragem.

“Pegamos um espaço que era do Estado, que era um lugar de sofrimento e horror, de jovens sem esperança, e transformamos em um espaço cultural gratuito com professores voluntários que não recebem nada para trabalhar na maior favela de São Paulo”, afirma o pastor Carlos Altheman, ex-presidente do Conseg, que teve a idéia de criar o Espaço ao conversar com o delegado Antonio Carlos Gomes, titular do 95ºDP de Heliópolis. Altheman atualmente integra o Conselho de Ética do Conseg Heliópolis.

A Igreja Jerusalém Ação Social, da qual Altheman faz parte, é responsável pela administração e por parte do financiamento do Espaço Cultural. No entanto, qualquer pessoa ou entidade, independentemente da orientação religiosa, pode contribuir com o projeto. Altheman disse que a maior parte do acervo da biblioteca foi doado pela Loja Maçônica David Iampolsky. “Alguns voluntários vêm até de outras cidades para colaborar com o projeto”, ressalta.

O Espaço conta com 15 voluntários, entre auxiliares da biblioteca, professores de informática, de inglês e de espanhol. “O que era um depósito de gente virou um depósito de estimular gente”, disse o arquiteto responsável pela obra, Luiz Viviani. Os cursos têm sido freqüentados por 600 alunos e já há lista de espera. No primeiro mês de funcionamento, o local chegou a receber cerca de mil pessoas.

Futuro

Para a voluntária de limpeza da Ação Social, Anita de Moraes, 34 anos, a biblioteca do Espaço estimula o hábito de leitura. “Antes, se a gente quisesse pegar um livro, tinha que ir até o Ipiranga. Mas a gente ficava sem ler, porque perdia muito tempo pra chegar lá”, disse a voluntária, que também freqüenta as aulas de espanhol do Espaço e incentiva a filha de 9 anos a emprestar da biblioteca vários livros infantis. Já o estudante Cássio Melo, 11 anos, não tinha o costume de ler, mas agora vai à biblioteca toda semana. “Venho buscar livros até pra minha mãe”, completou Cássio, que também se matriculou nas turmas de espanhol.

Os livros preparatórios para o vestibular são bastante procurados na biblioteca. “Faço cursinho e sempre venho aqui para buscar os livros que caem nas provas das faculdades”, disse a estudante Bruna Dias de Souza, 18 anos, que deseja fazer Ciência da Computação. Patrícia Alves dos Santos, 19 anos, quer estudar Educação Física e também recorre ao acervo do Espaço. “Agora ficou fácil, porque é bem perto de casa. Gosto de pegar leituras como Carandiru”, diz Patrícia.

Reconhecimento

O projeto de reforma da antiga carceragem levou a comissão julgadora do Prêmio Franco Montoro, que reconhece os melhores projetos desenvolvidos pelos Consegs no Estado de São Paulo, a indicar o caso de Heliópolis como o destaque de 2005. “A carceragem se transformou em um lugar de saber, onde a pessoa pode aprender vários cursos”, completa Altheman.