Estado vai investir R$ 17,5 bilhões nos transportes metropolitanos

Afirmação foi feita pelo secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes

ter, 31/05/2005 - 15h29 | Do Portal do Governo

Metrô e ferrovias, que servem a Região Metropolitana de São Paulo, terão aumento de quase 100% no volume de passageiros transportados nos próximos seis anos, afirma o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. O programa também inclui investimentos no sistema intermunicipal de transporte das Regiões Metropolitanas de Campinas e da Baixada Santista.

Nesta entrevista, ele fala da ampliação do setor com novas linhas e melhorias que abrangem desde as obras em duas linhas de metrô (prolongamento da Linha 2 Verde e construção da Linha 4 Amarela), o Expresso Aeroporto e o trem para Guarulhos até a implantação das estações que chegarão à USP-Leste e ao Autódromo de Interlagos.

Qual o cenário dos transportes metropolitanos de São Paulo nos próximos anos?

Para os próximos seis anos, o setor deverá receber um volume total de investimentos da ordem de R$ 17,5 bilhões. O governo do Estado desenvolveu um plano concreto e viável, com base em estudos de engenharia e de viabilidade financeira, para a rede metroferroviária e sistema sobre pneus, abrangendo as três regiões metropolitanas do Estado – São Paulo, Campinas e Baixada Santista.
Com isso, será possível aumentar em 100% o volume de passageiros transportados atualmente, passando dos 4,9 milhões para 8,5 milhões de usuários por dia. No caso da rede metroferroviária, a parcela do número de pessoas transportadas, com relação ao transporte coletivo em geral, subirá de 23% para 33%, reduzindo em 30% o tempo médio de viagem dos usuários de transporte coletivo.

A expansão do metrô é a prioridade?

É uma reivindicação unânime. Todos sabem da importância, da eficiência, da melhoria da qualidade de vida que o metrô traz para cidades como São Paulo, com essa intensidade demográfica. Então, esse é um ponto indiscutível: expandir linhas do metrô.

O que estará pronto para ser utilizado pela população já em 2006?

Já no próximo ano, a expansão da linha do metrô da Paulista vai nos levar para mais três novas estações: Chácara Klabin, Imigrantes e Ipiranga. As obras estão com 8 frentes de trabalho, e de uma forma bastante acelerada. Além disso, já há uma solicitação do governador para uma análise da extensão dessa linha até o Tamanduateí, fazendo a conexão com a linha D da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM.

A médio prazo, quais os novos caminhos do Metrô?

Até 2010, a expansão do Metrô prevê a construção de 30 quilômetros de linhas e 25 novas estações, cujos investimentos somam um total de mais de US$ 3 bilhões. Dos cerca de 30 km previstos, 5 km são referentes ao prolongamento da Linha 2 Verde, a partir da estação Ana Rosa até o bairro de Sacomã. Também estão previstas a Linha 4 Amarela, que terá 12,8 km, ligando Vila Sônia até a estação da Luz, e a segunda etapa da Linha 5 Lilás, com 11,5 km, ligando o Largo Treze de Maio até a região da Vila Mariana. Com esses investimentos, em 2010, a rede de Metrô, que hoje possui 58 km, passará a ter 88 km de extensão.

E a melhoria e expansão da malha ferroviária?

O objetivo é promover a modernização de toda a malha, que tem 270 km e 92 estações. Desse total, 130 km e 39 estações estão dentro da Capital. Essa modernização está estimada em US$ 1,3 bilhão e compreende a aquisição e recuperação de trens, elevando a frota de 349 trens para 450 trens, além de reforma e construção de estações, ampliação do sistema de energia, requalificação dos sistemas de telecomunicação e sinalização, intervenções em pátios e oficinas nos trechos principais. A meta do Governo é implantar essas melhorias até 2010, proporcionando condições de infra-estrutura para a operação de trens com intervalos regulares de até 3 minutos e permitindo aumentar a demanda dos atuais 1,2 milhão de passageiros/dia para 3 milhões de passageiros por dia.

O cronograma das obras está definido?

Vamos estender a linha C da Marginal Pinheiros, aquela que serve Osasco-Jurubatuba até Grajaú. São mais três estações no sentido sul – Autódromo, Interlagos e depois Grajaú – mais 8 km de linha. Os primeiros indicativos dão conta de nós entregarmos essa linha até julho de 2006. O custo deste projeto está estimado em R$ 243,6 milhões.

Então já na próxima Fórmula 1 poderemos ter alguma novidade?

Esse ano, em setembro, temos vontade de servir a população de forma simbólica fazendo uma extensão do trem até lá, chegando ao autódromo. A estação não estará pronta ainda em 2005, mas vamos tentar fazer uma estação provisória, uma parada provisória, com o trem levando a população até o evento de Fórmula 1 que será em setembro.

A linha vai ligar direto da estação ao autódromo?

A distância entre a estação e o autódromo é de 800 metros apenas. Muitas vezes os usuários param seus carros numa distância maior do que isso. O interessante será que a população, se quiser, não precisar ir de carro. A pequena distância poderá ser servido, eventualmente, por sistemas de vans, microônibus ou algum serviço local.

Outra obra importante é a ligação expressa para o aeroporto de Guarulhos. Como está o projeto?

A questão do Expresso ao aeroporto não está no escopo do orçamento do Estado diretamente, porque é uma atividade que iremos contar com a participação da iniciativa privada.

Seria viabilizado por uma Parceria Público Privada?

Uma PPP. É o seguinte: a extensão das linhas as quais me referi, todas elas, já fazem parte dos recursos do orçamento, além de recursos que estamos pleiteando junto ao BNDES e de recursos internacionais como é o caso da linha 4 que tem investimento do Bird e do Japan Bank for International Cooperation (JBIC). O expresso Aeroporto é um “plus”, uma conquista a mais, pela qual estamos batalhando. E terá uma participação grande do governo do Estado e da Infraero. Esse expresso prestará um serviço importantíssimo para toda a região de Guarulhos, já que na mesma via será implantado o Trem de Guarulhos, permitindo uma ligação ferroviária de alta qualidade entre as duas maiores cidades da Região Metropolitana: São Paulo e Guarulhos.

Esse projeto é também uma prioridade do governo Alckmin na questão dos transportes metropolitanos?

Sem dúvida. Os expressos aos aeroportos, hoje, são uma realidade em cerca de 94 aeroportos do mundo. Segundo a International Air Rail Organization, com sede em Londres, existem outras 210 ligações em fase de planejamento ou construção. Olha que números fantásticos! Não é possível você depender somente de vias terrestres para um aeroporto da magnitude de Guarulhos. E sua ampliação, com a construção da terceira pista e do terminal 3, permitirá um aumento no movimento de passageiros dos atuais 14 milhões por ano para cerca de 30 milhões pessoas por ano. Devido a esse crescimento na quantidade de passageiros, a própria Infraero já solicitou a implantação de um transporte de massa para garantir o acesso ao aeroporto, sem depender apenas de meios rodoviários. Porque você pode sofrer acidentes, alagamentos, chuvas. Um transporte de massa para o aeroporto de Guarulhos é imperativo.

Há previsões de início e entrega da obra?

Não há como se dar um prazo fechado, porque ele está ainda na iminência de uma discussão preliminar da viabilidade econômica junto com a iniciativa privada. Então a partir de todo esse contexto – de você definir como a iniciativa privada vai participar e fechar o chamado plano de negócios. Aí você teria mais dois anos de obras apenas. Não requereriam tanto tempo, uma vez que são poucas as desapropriações que seriam feitas e poucas as obras de área também.

E esse plano de negócios já está sendo encaminhado?

Já. Ele foi estabelecido. Junto com a Infraero fechamos um convênio. Temos uma verba reservada para isso de R$ 1,2 milhão, em que 20% dos custos serão bancados pela Infraero e 80% pelo Estado. O edital de concorrência para contratar a empresa que vai fazer esse plano de negócio, será lançado agora nesse primeiro semestre.

Há interesses concretos da iniciativa privada em participar do projeto?

Sim. Esse interesse teve um esfriamento em 2003, mas voltamos a ser procurados no final do ano passado, e agora neste ano o interesse aumentou bastante, uma vez que foi definido também o arcabouço institucional das PPPs com a aprovação da lei federal. No âmbito do Estado também temos uma lei aprovada. Temos uma CPP (Companhia Paulista de Parcerias) já consolidada, inclusive com lastro para garantias. Então a iniciativa privada se sente, hoje, mais segura para procurar esse tipo de negócios.

E São Paulo tem credibilidade para isso…

Muita credibilidade. Empresas construtoras internacionais, operadoras internacionais e bancos internacionais estão nos visitando, querendo saber como estão esses negócios. Aliás, levamos recentemente um grupo de empresas para uma reunião com a Infraero, juntamente com o secretário do Planejamento, Martus Tavares, que fez apresentação dessas empresas interessadas.

Só para se ter uma idéia sobre esses US$ 400 ou 500 milhões previstos para essa linha, qual o investimento na linha 2 do metrô?

A linha 2 do metrô, com esse incremento que estamos fazendo até o Ipiranga, fica em R$ 868 milhões, algo em torno de US$ 300 milhões.

Por que esse expresso vai sair mais caro que a linha 2 do metrô?

Mais caro porque estamos falando em cerca de 25 a 30 quilômetros, se a linha for até a Barra Funda. No caso, você poderia até inverter e dizer: então está barato! É porque o metrô que estamos ampliando da Ana Rosa até o Ipiranga envolvem três estações subterrâneas e também a compra de mais dois trens. No caso do expresso Aeroporto, ele será totalmente em superfície, a partir da estação Júlio Prestes. E assim o custo cai bastante.

Existe possibilidade do expresso Aeroporto chegar até a região da avenida Luis Carlos Berrini, na Zona Sul. É isso?

É … existe. Empresários que aqui vieram conversar conosco querem algo mais que o projeto inicial. Eles querem chegar também à região da Berrini. Se for para fazer uma concessão, não querem ficar só na Barra Funda. Mesmo que se construa, no início, a partir da Barra Funda ou da Júlio Prestes, eles querem deixar a concessão reservada para ir até a Berrini, porque ali está toda a região hoteleira de alto padrão.

E quanto ao trem de Guarulhos, qual será o percurso?

Vai ter cerca de 19 km e linha ligará a estação Brás, na Capital, ao Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães – Parque Cecap, em Guarulhos, integrando com as outras linhas da CPTM e Metrô. Terá parada na nova estação USP-Leste, cuja construção está prevista no projeto de melhorias para a Linha F.

Essa estação da USP-Leste será uma referência muito importante. Qual a previsão para sua entrega ?

A linha que vai até a USP Leste está nas nossa prioridades estratégicas.
É muito importante falar desse projeto. A linha F, que é das que está em piores condições atualmente, tem um investimento bastante pesado. São mais de R$ 253,6 milhões do governo do Estado. Vamos fazer três estações novas, fazer a estação da USP Leste, e pretendemos inaugurar em abril de 2006. As duas outras estações são Jardim Helena e Jardim Romano. O projeto inclui a reconstrução das estações Itaim Paulista e Ermelino Matarazzo, modernização das estações de São Miguel Paulista, Aracaré, Manoel Feio, Calmon Viana e Itaquaquecetuba, além da construção da estação Penha.

Haverá também melhorias na frota?

Está prevista a incorporação à frota de 10 trens, que passarão por recuperação total. Além disso, 49 composições, com 119 carros, atualmente em circulação, aos poucos serão revitalizados com a troca de piso, novos bancos, portas, pintura e outros serviços. Outras intervenções estão programadas, como projetos e reformas em subestações elétricas, projetos de via permanente, adaptações para rede aérea, projetos para sinalização e telecomunicações, projeto e construção de um pátio em Manoel Feio.

E o projeto da Integração Centro, como anda?

Esse é um dos mais importantes investimentos do governo paulista e que está sendo desenvolvido pela CPTM. Abrange, num trecho de 7 km, três estações: Brás, Luz e Barra Funda, com o objetivo de facilitar o acesso da população ao eixo central da cidade. No final de novembro do ano passado, o governador Alckmin entregou mais uma etapa do projeto: os saguões e as passagens subterrâneas da Estação da Luz, que permitem a transferência física e gratuita entre os usuários da CPTM e do Metrô.

Quais foram os benefícios dessa medida?

A circulação de passageiros na estação Luz aumentou mais de 100%, subindo de 80 mil usuários por dia para 180 mil. A liberação da passagem subterrânea na Luz, além de facilitar a transferência entre os dois sistemas, sem custo adicional, permite viagens mais seguras e confortáveis. Anteriormente, para essa integração, os usuários dos trens da CPTM e do Metrô, precisavam atravessar a rua Mauá e pagar por uma nova passagem. A implantação deste projeto promoverá a integração das malhas ferroviária e metroviária, viabilizando o acesso direto dos usuários das regiões Leste, Oeste, Noroeste e Sudeste da metrópole à área central de São Paulo. A obra está exigindo um investimento de US$ 95 milhões, dos quais US$ 45 milhões são financiados pelo Banco Mundial.

E nos transportes por ônibus, o que está sendo feito?

O sistema sobre pneus é gerenciado pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos – EMTU. A meta é racionalizar o transporte coletivo por ônibus na Grande São Paulo e isso vai acontecer por meio da concessão de serviços e na extensão da rede. O programa prevê a implantação de dois corredores metropolitanos: um na Região Metropolitana de São Paulo, o Corredor Guarulhos – Tucuruvi, e o outro na Região Metropolitana de Campinas, o Corredor Noroeste, interligando cinco municípios da região.

Como será esse corredor Guarulhos-Tucuruvi?

Ele terá 21,1 km de via exclusiva – um corredor segregado – ligando o bairro paulistano do Tucuruvi, onde há uma estação do metrô, até o município de Guarulhos. Contará com oito terminais de integração e duas estações de transferência, frota de 173 veículos com motores de baixa emissão de poluentes, suspensão a ar, ar condicionado, bilhetagem e monitoração eletrônicas e outros itens de conforto e desempenho. A previsão de término do primeiro trecho em 2006/2007, sendo que a conclusão será em 2009. Calculamos que a demanda beneficiada será de 4,6 milhões de passageiros por mês. O investimento previsto é de R$ 530 milhões.

E o corredor da Região Metropolitana de Campinas?

Vai ter 37 km de extensão, ligando cinco municípios da Região: Campinas, Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa e Americana que concentram 70% da demanda da região. O projeto retira transporte de passageiros da via Anhangüera, reestrutura o sistema de transporte coletivo e estimula desenvolvimento urbano planejado. O projeto será implantado em três fases: primeiro, a ligação Campinas-Hortolândia; depois a ligação Americana-Nova Odessa e finalmente a ligação Nova Odessa-Sumaré. A previsão de término da primeira etapa é 2006, e beneficiará 2,7 milhões de passageiros/mês.

Na questão da poluição ambiental: que providências estão sendo feitas na área dos transportes?

É cristalino o impacto fortíssimo que o metrô traz para a cidade na melhoria da qualidade de vida. Nós, hoje, adotamos procedimentos já consagrados pelo Banco Mundial – o de mostrar para a comunidade qual é o impacto social do metrô. Imagine a ausência do metrô. Se os 2,6 milhões de passageiros que hoje usam o metrô fossem redistribuídos para automóveis e ônibus, veja o tempo perdido nos percursos, os congestionamentos, os gastos a mais na sociedade. Você perde mais tempo, há mais poluição e doenças respiratórias. Isso tudo custaria R$ 3 bilhões por ano para a sociedade, caso o metrô não existisse. Por isso, digo que o metrô se paga completamente a cada 10 anos.

Existe algum programa específico da Secretaria dos Transportes Metropolitanos para evitar a poluição em São Paulo?

Estamos trabalhando junto às montadoras, para que elas invistam no GNV- Gás Natural Veicular. Nossa intenção é trabalhar com a Comgás para que ela garanta a distribuição desse gás nas garagens de ônibus. E trabalhar também com a Petrobrás para que ela garanta um desconto de 45% no custo do GNV. A nossa Secretaria da Fazenda está analisando quais os pontos dessa cadeia produtiva do GNV que podem ter algum tipo de diminuição ou até isenção da carga tributária.

Qual a frota hoje no sistema?

Nas três regiões metropolitanas, considerando os ônibus comuns, os ônibus fretados e as peruas, dá mais de 20 mil veículos. Temos que considerar também que temos cerca de 200 mil caminhões só na Grande São Paulo. Então nós queremos fazer uma abordagem não só no transporte de passageiros, mas também no transporte de cargas para que eles passem a utilizar o gás natural.

O governo pretende atingir esse objetivo a curto prazo?

A partir do ano que vem. A idéia é que se tudo isso aqui estiver fechado em toda cadeia produtiva, podemos também buscar junto ao BNDES linhas de crédito especiais para isso. E já a partir do ano que vem começar a exigir que todos os ônibus novos que ingressam no sistema metropolitano já estejam com gás, com a participação dos municípios nessa luta.

Entrevista a Takao Miyagui

QUEM É JURANDIR FERNANDES

Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes é secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo desde 2001. Engenheiro Mecânico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e com mestrado na Universidade de Campinas (Unicamp), preside a Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) e a Divisão Latino-Americana da União Internacional dos Transportes Públicos (UITP).
O principal objetivo da Secretaria é executar a política de transportes urbanos e de passageiros da Capital com as regiões metropolitanas, abrangendo os sistemas metroviário, ferroviário, de ônibus e trólebus.