Agricultura: Instituto Agronômico de Campinas desenvolve sementes de arroz preto

Arroz preto pode ser plantado como o branco, mas tem valor de mercado muito mais elevado

ter, 10/08/2004 - 9h22 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) estão trabalhando numa variedade exótica de arroz, de cor preta, originário da China, onde é conhecido há mais de 2 mil anos. Denominado IAC 600, está sendo multiplicado (plantado para geração de sementes) numa fazenda experimental da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba. As sementes, disponíveis no início do ano que vem, destinam-se a agricultores interessados em apostar num novo produto e a substituírem o similar importado.

O tipo preto, oferecido a um segmento restrito de mercado, é muito mais caro que o branco tradicional. O preço de um quilo desta variedade importada oscila entre R$ 20,00 e 25,00 no comércio especializado. “É direcionado para uma clientela que busca novidades”, ressalta o pesquisador do IAC, Candido Ricardo Bastos. No entanto, ainda não tem idéia de quanto custará a semente IAC 600 ou o arroz após a colheita. A variedade foi mostrada ao público na última Agrishow, feira do setor agrícola, em Ribeirão Preto, no primeiro trimestre.

Alimento funcional

Bastos conta que o IAC trabalha com o arroz desde 1994. O sabor é acastanhado (gosto de pinhão) e deve ser consumido como se fosse o tipo chamado de integral. Para entender, é preciso saber que o arroz é vendido de três formas no Brasil: branco tradicional (com grãos polidos), integral (sem polimento, com aparência de sujo) e parboilizado (branco, também, mas ferventado antes de tirar a casca).

A produção do preto é a mesma do branco. Pode ser plantado em áreas inundadas ou em sistema de sequeiro, em que a irrigação é feita de forma artificial. “O rizicultor não precisa mudar nem comprar ferramentas ou equipamentos para cultivá-lo, basta usar o que já tem.”

Já as suas características nutricionais diferem do branco. Além do aroma, tem mais proteína que o integral comum e maior teor de fibras. Tem também compostos fenólicos que combatem radicais livres e menos gordura que o branco. Por essas características, o arroz preto pode vir a ser considerado alimento funcional, que tem propriedades nutricionais e terapêuticas.

Grão proibido

O pesquisador informa que o comercializado no Brasil geralmente é importado da Europa, onde é conhecido como riso nero (arroz preto). Nos Estados Unidos, é chamado de forbiden rice (arroz proibido). O nome em inglês tem motivos históricos. Na China imperial, ele se destinava somente à família do imperador e seus próximos. O povo não tinha acesso à iguaria.

Bastos observa que existe no mercado brasileiro outro tipo de arroz preto importado, chamado de selvagem, “mas que não é o de origem chinesa”. Na verdade, nem é considerado arroz. É como se fosse um parente. É plantado no Canadá e tem grãos maiores que o preto chinês.

O IAC mantém desde 1992 em sua sede, em Campinas, laboratório de pesquisas para tipos especiais de arroz. Além do preto, trabalha com o japonês (especial para fazer sushi), o arbóreo italiano (para risotos) e o aromático, utilizado na culinária tailandesa.

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)