Experiência do Banco do Povo pode virar modelo

Gazeta Mercantil - Sexta-feira, 28 de maio de 2004

sex, 28/05/2004 - 9h57 | Do Portal do Governo

O governo de São Paulo não quer inventar nada em termos de emprego. Está aderindo à Rede Brasileira das Entidades Assistenciais e Filantrópicas (Rebrafi), formada por empresas, CIEE e ONGs. Queremos inserir-nos nessa rede, porque poderemos lograr resultado com o menor custo. Tenho medo, quando se fala em questão social no Brasil, de que o custo da solução venha resultar em aumento de tributos, até porque estamos com dificuldade de criar emprego por causa da legislação tributária. Na verdade, se aumentarmos os impostos para tentar resolver o problema social, vamos criar mais desemprego, dificultar o empreendedorismo e a pequena empresa, que são muito importantes para nós.

Temos uma boa experiência no Estado de São Paulo. O Banco do Povo financia entre 500 e 5 mil reais para o pequeno empreendedor e está tendo um resultado magnífico. Com o financiamento, o banco expede uma carteira de identidade profissional, seja o financiado vendedor de pipoca, de amendoim, ou qualquer outro produto. Ele é informal, mas ganha um documento de identidade profissional que resgata sua cidadania. No início, imaginamos que esse pequeno empreendedor apenas obtivesse renda para sua família, mas tivemos um boa surpresa. Em média, depois de um ano de assistido pelo Banco do Povo, ele tem três empregados. Isso mostra que, para ter sucesso, não é preciso inventar nada, pois essa iniciativa já existe no País inteiro.

O que precisamos, efetivamente, é trazer as empresas para dentro do governo. É o caso do Grupo Votorantim, que resolveu participar do nosso sistema de colocação de pessoal e aceitar egressos da Febem para treinamento dentro das empresas. O primeiro grupo é formado por 25 meninos que haviam começado aquilo que poderíamos chamar de estágio nas empresas e estavam realmente aprendendo. Um deles falou do resgate que sentiu ao ser admitido e tratado como gente dentro de uma empresa. São essas experiências que mostram que a solução dos nossos problemas pode ser menos difícil do que parece. E que a solução depende de nós, e não do governo.

O ensinamento da China

Precisamos realmente chamar para nós essas responsabilidades e puxá-las um pouco para nossa história. Na verdade, nós nos desvalorizamos muito porque não cultuamos aquilo que fomos. Somos um grande País, temos uma grande história. Recentemente, um grupo chinês visitou a Secretaria e dele faziam parte alguns professores universitários. Eu quis saber o que é que está acontecendo na China que, segundo voz corrente, dentro de pouco será o país mais rico do mundo. Um professor respondeu: ‘Em primeiro lugar, há diferença na distribuição da renda. A China tem um mercado consumidor admirável porque a renda lá foi distribuída de maneira mais equânime’. A verdade é que o crescimento econômico não cria automaticamente o mercado consumidor. ‘Depois, como hoje há necessidade de pessoas criativas em todos os setores, nós as temos porque lá se cultua a capacidade criativa; isso faz parte da nossa história. E vocês aqui, pelo que vivenciamos nos meios universitários que visitamos, não cultuam a história de seu país.’

E o professor chinês disse mais uma coisa curiosa. ‘Vocês estão avançando muito em comunicação, mas a comunicação se faz no espaço. Vocês têm que dar mais importância à transmissão, que se faz no tempo. A transmissão carrega energia, muito mais do que a simples comunicação’.

Francisco Prado de Oliveira Ribeiro é secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo.