USP usa ferramentas genéticas para investigar biodiversidade brasileira

Diversos espaços da Universidade de São Paulo contam com estudos em andamento sobre a análise de espécies no País

ter, 11/09/2018 - 18h19 | Do Portal do Governo

No Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), integrantes do Laboratório de Diversidade Genômica desenvolvem estudos de genômica populacional de organismos marinhos pequenos, como os vermes nemertinos, os gastrópodes (lesmas e caramujos) e os poliquetas (vermes aquáticos).

Os trabalhos buscam entender se os padrões de conectividade entre as populações podem ser descritos utilizando como base modelos de circulação oceânica. “Estamos interessados em entender processos de adaptação local nas espécies”, revela Sónia Andrade, coordenadora do laboratório.

Vale ressaltar que a genética, em constante evolução, permite aos cientistas desvendar o passado, conhecer o presente e prever o futuro de uma espécie. As análises se estendem para muitas formas de vida. Segundo a professora Sónia Andrade, até o momento não há conhecimento de trabalho semelhante em populações que habitam o costão rochoso no Brasil.

A identificação de regiões gênicas com diversos perfis de expressão e sua função, seja no desenvolvimento, comportamento de acasalamento, resposta a estresse, entre outros aspectos, será fundamental para entender quais mecanismos evolutivos moldam a distribuição da variabilidade nessas espécies.

Sequenciamento

Para desenvolver esse tipo de trabalho, as ferramentas ômicas entram em destaque. “Com as novas ferramentas analíticas e técnicas de sequenciamento, há possibilidade de fazer uma montagem ‘de novo’ do genoma dos organismos”, explica Sónia Andrade, em referência em especial ao sequenciamento de nova geração (NGS).

De acordo com a pesquisadora, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) tem realizado grandes investimentos em parques de equipamentos do tipo, como o Centro de Genômica Funcional, sediado na USP em Piracicaba.

Outro exemplo de aplicação da genômica ocorre no Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos e Aquicultura, coordenado pelo professor Alexandre Hilsdorf, da Universidade de Mogi das Cruzes. “Trabalhamos com marcadores moleculares aplicados à conservação e uso sustentável de peixes e outros organismos aquáticos de interesse para pesca e aquicultura. O objetivo é caracterizar recursos genéticos de populações selvagens e de cativeiro, de modo a preservar a variabilidade genética na natureza”, destaca o docente.

O pesquisador também destaca a colaboração com o Centro de Genômica Funcional, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP, na produção de ciência de qualidade e publicação de artigos.

Proteção

Outro grupo de pesquisa que se dedica ao estudo de populações animais exploradas e ameaçadas é do Laboratório de Biodiversidade Molecular e Conservação (LabBMC) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenado pelos professores Pedro Galetti Junior e Patrícia de Freitas.

O espaço sedia o Projeto Genoma do Mico-Leão-Preto, que conta com vários colaboradores do Brasil e do exterior para caracterizar o genoma completo do mico-leão-preto. Há quatro espécies de mico-leão, que são encontradas na Mata Atlântica dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Paraná, porém todas estão na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza. A destruição da Mata Atlântica é uma das principais causas de ameaça a essas espécies.

“A partir de dados genômicos, podemos estudar a relação entre espécies e a biodiversidade oculta”, relata a docente Patrícia de Freitas. É importante frisar que o LabBMC realiza, ainda, trabalhos de análise forense com a Polícia Ambiental do Estado de São Paulo e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), possibilitando a identificação de espécies provenientes de tráfico e caça ilegal de animais silvestres.