USP: Critérios de escolha dos livros didáticos são alvo de estudo

Seis cidades foram escolhidas para participar do estudo

ter, 18/05/2004 - 20h07 | Do Portal do Governo

A escolha de um livro didático por um professor não ocorre somente pela leitura de resenha ou pela indicação dos colegas. Pesquisa de Luiz Caldeira Brant de Tolentino-Neto, da Escola do Futuro da USP, mostra que os professores desejam manusear a publicação, analisar a qualidade de impressão das imagens, verificar o grau de dificuldade dos textos e exercícios e não se satisfazem apenas com o guia de livros oferecido pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Cultura e Educação (MEC).

‘O objetivo do trabalho foi o de conhecer os critérios do processo de escolha dos livros didáticos, que ocorre de três em três anos, por professores de 1ª a 4ª séries’, conta Tolentino-Neto. ‘A avaliação dos livros, realizada desde 1996, é refinada a cada edição do Programa, porém o impacto do PNLD a quem ele se destina, ou seja, aos professores, é pouco estudado’, explica o pesquisador que defendeu mestrado na Faculdade de Educação (FE) da USP.

Seis cidades foram escolhidas para participar do estudo: Palmas (TO), Petrolina (PE), Santa Maria (RS), São Paulo (SP) Campos dos Goytacazes (RJ) e Belém (PA). Nestes locais, escolas públicas municipais e estaduais foram selecionadas e, delas, foram entrevistados docentes lecionando para a 4ª série e que já tivessem escolhido livros para o ano letivo.

Uma das principais reclamações dos professores quanto ao PNLD, é a de que o Guia dos livros didáticos só chegava à escola, pouco tempo antes do prazo final para a escolha. Assim, os professores acabavam tendo que ‘disputar’ o volume e tinham pouco tempo para refletir. ‘Em uma das escolas, o Guia enfeitava a estante da sala do coordenador e não ficava disponível para os docentes. Além disso, muitos professores desconhecem o processo, que tem pouca divulgação do MEC’, afirma o pesquisador.

Segundo ele, este problema foi parcialmente solucionado pelo Ministério, que passou a enviar o Guia com maior antecedência. Alguns exemplares do material também foram reservados para as Secretarias de Ensino, que podem repassar para as escolas que solicitarem. Outra mudança foi a segmentação do Guia em quatro volumes, o que facilita sua utilização por todos os professores da escola.

Denúncias

Antes de saírem a campo, Tolentino-Neto e sua equipe já tinham tomado contato com denúncias de que em certas localidades a escolha poderia ser tendenciosa. Em uma das cidades, que optou por escolher os mesmos livros para todas as escolas, foi constada a pressão de três editoras dominantes.

‘A Secretaria de Ensino do Município organizou um evento em um ginásio de esportes e as editoras expuseram seus livros. O Guia do MEC oferecia 36 opções e, no entanto, os professores só conheceram três ou quatro publicações: as do catálogo dessas editoras’, conta. Segundo Tolentino-Neto, os docentes tendem a fazer a escolha entre os livros que manuseiam e analisam pessoalmente.

Outro problema encontrado na pesquisa de campo foi uma versão do Guia do MEC contendo somente as publicações do catálogo de uma editora. ‘Nessa tentativa da editora de se aproveitar, às vezes, os professores confundiam os dois guias’, explica.

Apesar da pressão editorial, em Belém, onde havia promessas de benefícios (como melhoramento da quadra de esportes) se a escola optasse por determinado livro didático, os docentes não foram persuadidos. ‘Esta cidade tem um projeto pedagógico construído pelos próprios professores. Então, o dinheiro oferecido não foi capaz de mudar a concepção de ensino’, comenta.

Na época da pesquisa, São Paulo era o único estado que optou por receber o dinheiro do MEC e por realizar o processo de compra por sua conta. ‘Isso, somado a um lapso de calendário com a escolha dos demais estados brasileiros, levava o São Paulo a escolher livros de qualidade inferior, muitas vezes mal avaliados pelo programa PNLD’, explica Tolentino-Neto. ‘O processo mudou e, hoje, se aproxima do calendário do resto do Brasil. Não há mais compra de material excluído’, diz.

Este ano deve ocorrer a escolha de livros didáticos para 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental. No PNLD de 2004 o governo adquiriu 120 milhões de livros, ao custo de R$575 milhões. Foram atendidos 32 milhões de estudantes e 154 mil escolas, por este que é o maior programa de distribuição de livros do mundo.

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