Programa de moradia indígena

Diário de S. Paulo - Sexta-feira, 14 de maio de 2004

sex, 14/05/2004 - 9h32 | Do Portal do Governo

Mariano Rocha

Falar que os índios estão em condições melhores que no passado seria uma ironia diante das grandes dificuldades que muitos deles enfrentam nos dias atuais. Mas, em Boracéia, na divisa de São Sebastião com Bertioga, no litoral norte de São Paulo, 320 guaranis da Reserva do Rio Silveira não têm do que reclamar. Beneficiados com o programa de moradia indígena, elaborado pelo poder público e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), 78 famílias já moram em um núcleo habitacional formado nas terras indígenas dentro da Serra do Mar. São 59 casas de 60 metros quadrados cada, feits de madeira e cobertas com piaçava (palha especial), construídas de acordo com as necessidades e a cultura dos guaranis.

Diferente de um passado recente, os índios contam com toda infra-estrutura e saneamento básico que uma família precisa para viver dignamente, como banheiro, água encanada e luz elétrica. O projeto é pioneiro no Brasil e custou R$ 1,5 milhão. Outras reservas do litoral paulista serão beneficiadas. ‘Antes, eles moravam em casas de madeira sem qualquer infra-estrutura e higiene, o que causava aumento de verminoses na aldeia’, explica Márcio Alvin, chefe do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Boracéia. Além das moradias, as famílias ainda contam com um posto médico, uma clínica odontológica, agentes de saúde e um motorista. ‘Todos são bem assistidos e a mortalidade zerou na reserva’, destaca Alvin. Mas, como sobreviver sem os costumes da caça, pesca e colheita de frutas? Segundo o técnico da Funai, as famílias vivem do artesanato e da venda de mudas de plantas ornamentais. Na reserva existem viveiros de mudas que são comercializadas para melhorar a qualidade de vida dos índios. ‘Ganhamos dignidade’, fala Wera Rete, de 27 anos, responsável por um dos viveiros.

A educação dos guaranis também é prioridade. Na reserva, uma escola de ensino fundamental batizada de ‘nhembóé á porâ’, que significa lugar onde se aprende coisas boas, é mantida para a educação e preservação dos costumes e da cultura indígenas. A freqüência dos 104 alunos é garantida. Além das aulas de guarani, língua portuguesa, ciências e outras disciplinas, eles aprendem informática numa sala com computadores de última geração. ‘Todos na escola recebem atividades para construção da cidadania plena, mas prioriza-se a cultura guarani, por isso eles têm aulas com professores indígenas também’, ressalta o diretor da escola, Marcelo de Oliveira, de 29 anos.

Preservação das reservas na Baixada

A formação de reservas indígenas na Baixada Santista aconteceu de acordo com a vontade dos guaranis. Atualmente, vivem nas encostas da Serra do Mar, no litoral paulista, cerca de 2.500 índios, divididos em 16 aldeias. De acordo com informações da Funai, eles ocupam desde o litoral sul de São Paulo até o norte do estado do Rio de Janeiro.

O chefe do posto da Funai, Márcio Alvin, explicou que as comunidades indígenas estão preocupadas com o desmatamento da Serra do Mar e, por essa razão, estão desenvolvendo o projeto de reflorestamento da Mata Atlântica, iniciativa que foi premiada pela Fundação Getúlio Vargas em 2002. ‘Além das plantas ornamentais, os guaranis têm priorizado o plantio de palmito pupunha e outras espécies nativas da Serra do Mar’, conta Alvin.

Outro fator importante que deve ser preservado, segundo ele, é a religião dos índios porqu está vinculada às crenças. ‘Na escola, todos são obrigados a manter os hábitos alimentares, estudar e participar dos rituais religiosos e comemorativos da comunidade. O mais importante deles acontece em janeiro e é o batismo, quando o pajé escolhe os nomes das crianças.’

O gerente regional da CDHU, Raul Christiano Sanches, informou que se forem firmadas parcerias com as prefeituras a meta é construir, a partir deste ano, mais 111 moradias indígenas na Baixada Santista. Serão 46 em Mongaguá (13 na aldeia Itaóca e 33 em Aguapeú), 35 em Itanhaém (aldeia do Rio Branco) e 30 em Peruíbe (aldeia Bananal).

Serviço – As visitas às reservas dos guaranis são monitoradas e devem ser agendadas. Tel. (0xx12) 3867-6310.