Para preencher as lacunas da nossa memória artística

O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 15 de abril de 2004

qui, 15/04/2004 - 9h18 | Do Portal do Governo

Os livros da série ‘Aplauso’ trazem perfis de gente de cinema, teatro e televisão

Luiz Zanin Oricchio

País sem memória. Esta, uma das frases recorrentes a respeito do Brasil, parece ser desmentida de vez em quando. Por exemplo, quando ocorre uma iniciativa como a coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado, que pretende perfilar os grandes nomes do teatro, do cinema e da TV brasileiros.

Com epicentro em São Paulo, mas não exclusivamente paulista, a coleção, coordenada pelo crítico Rubens Ewald Filho, já tem seus primeiros títulos na boca do forno. São livros em formato de bolso, biografando nomes como Carlos Reichenbach (escrito por Marcelo Lyra), Ugo Giorgetti (Rosane Pavam), Anselmo Duarte (Luiz Carlos Merten, crítico do Caderno 2), Irene Ravache (Tânia Carvalho), João Batista de Andrade (Maria do Rosário Caetano, colaboradora do Estado), Cleide Yáconis (Vilmar Ledesma).

Esses primeiros volumes serão lançados no dia 21 na Sala São Paulo. Com tiragem inicial de 3 mil exemplares e custo a partir de R$ 9 cada um, os livros também serão distribuídos pelas bibliotecas universitárias.

Na coletiva de apresentação da coleção, o presidente da Imprensa Oficial do Estado, Hubert Alquéres, disse que a idéia era lançar livros com informações que corriam o risco de se perderem por falta de interesse das editoras comerciais ou falta de uma política de valorização das artes e dos artistas patrícios.

Como os livros deveriam ser produzidos rapidamente, escolheu-se o formato preferencial do depoimento em primeira pessoa, explicou Rubens Ewald Filho.

‘A idéia geral é a de uma master class escrita, com o biografado contando sua vida, formação, seu método de trabalho, o que fez e o que deixou de fazer.’ Para escrever os livros, foram convocados jornalistas experientes, todos tarimbados na arte de entrevistar e transcrever em texto os depoimentos dos criadores. O que se terá, com essa coleção, será um mapeamento da prática artística nacional, filtrada pelas vozes dos seus criadores. Nesse sentido, a coleção é diferente da homóloga Perfis do Rio, textos em terceira pessoa, com autores escrevendo sobre os perfilados, e portanto mais opinativos.

Esse será o formato preferencial, mas não exclusivo, da coleção Aplauso.

Conviverá com alguns projetos especiais como Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte, pesquisa iconográfica do ator realizada pela também atriz Nydia Licia.

O jornalista Álvaro Moya escreve não sobre uma pessoa, mas sobre uma emissora de televisão, a Excelsior. No volume sobre o antigo canal 9, Moya fala de sua experiência na construção da TV e recolhe depoimentos de algumas das principais figuras do canal, como Daniel Filho, Manoel Carlos e Carlos Manga. ‘É meu livro mais político’, diz Moya, conhecido autor de volumes sobre histórias em quadrinhos. Político, porque tentará apresentar as razões pelas quais a TV Excelsior não pôde dar certo no País.

A coleção, lançada e viabilizada em ritmo acelerado, pretende continuar no mesmo pique. Assim, além desses lançamentos, já se anunciam os próximos títulos, com perfis de gente como Carlos Coimbra, Reginaldo Faria, Carla Camurati, Guilherme de Almeida Prado e Fernando Meirelles, entre outros.

Haverá ainda espaço para a publicação de roteiros históricos como o de O Caçador de Diamantes, de Vittorio Capellaro, comentado pelo professor de História de Cinema da Faap Máximo Barro; O Caso dos Irmãos Naves, de Luís Sérgio Person, e Dois Córregos, de Carlos Reichenbach.