A vista proporcionada pelo 8º andar, no setor de geriatria, é surpreendente. Mas, sentada à cama, segurando sem firmeza um copo de leite, dona Vicentina tem o olhar distante. Sob os cuidados de Mônica Sarmento Terra, parece não se importar com a presença de estranhos na sala e repete, a cada momento, o desejo de rever seus animais de estimação.
No andar de cima, vítima de um aneurisma cerebral, está a lituana Salomeja, que não conversa, mas já obteve alta. Ela recebe, na hora do lanche, os afagos de Marli Fazzolari.
Mônica e Marli fazem parte de um contigente de cerca de 120 pessoas (mais ou menos 90 ativas) que, no mínimo uma vez por semana, e por pelo menos três horas, dá alimentação, conversa, lê e fornece apoio moral a pacientes como dona Vicentina, dona Salomeja e tantos outros. Elas integram a Associação dos Voluntários do Hospital do Servidor Público Estadual (Avohspe), entidade juridicamente constituída e criada em junho de 1996.
Casal 20
O trabalho desenvolvido pelos voluntários é exclusivamente social. “Não atendemos nada diretamente ligado à Medicina. Não se mede, por exemplo, pressão, não fazemos curativos, nada disso”, afirma a presidente da Avohspe, Therezinha Lemos. A atuação dos voluntários se dá nas enfermarias (de geriatria, ortopedia, cirurgia geral, entre outras), além de prestarem atendimento na fisioterapia e no laboratório, onde organizam filas e distribuem senhas às mais de 800 pessoas atendidas diariamente.
A maioria dos voluntários é composta por pessoas acima de 60 anos, com predominância das mulheres (mais de 90%). Em geral, são funcionários públicos, aposentados e donas de casa. Dona Luzia D’Arcadia Fonseca, por exemplo, vem duas vezes por semana de São Bernardo do Campo, num trajeto que leva duas horas. É voluntária também no coral do Iamspe, onde canta para os doentes. Com o marido Manoel Batista Fonseca, também voluntário, forma o “Casal 20” da Avohspe, apelido dado pelo colegas.
Faltas
Os jovens representam de 10 a 15 % do voluntariado, mas praticamente não ficam mais que um ano, segundo Therezinha. Eles procuram a associação achando que é uma porta de entrada, por exemplo, para um emprego ou um estágio. Quando percebem que não é assim, muitas vezes vão embora.
Para ser voluntário, a Avoshpe exige que o candidato seja maior de 18 anos e tenha certificado de iniciação ao voluntariado, emitido pelo Centro do Voluntariado de São Paulo. Após inscrever-se, o candidato passa por treinamento específico, constituído por palestras sobre o trabalho da Avohspe e, numa segundo momento, por uma parte prática. “Iniciamos falando sobre as áreas em que vamos trabalhar e, na medida do possível, levamos os voluntários, em grupos, para conhecer as enfermarias. Depois, a pessoa decide com que áreas se identifica, e também estipula em que dias e horários pode vir”, explica Marli Fazzolari, vice-presidente da Avohspe.
A Avohspe mantém voluntários no HSPE todos os dias, das 7 às 18 horas. O normal é um plantão por semana, e o voluntário não pode ter mais de quatro faltas seguidas ou dez intercaladas durante o ano, a não ser com justificação.
Bazares
Uma das principais dificuldades enfrentadas pela associação é a permanência dos voluntários. Naoko Tashibana, Sueli Z. de Lima, Maria Rossi, Attilia F. Bizzetto, e a própria Therezinha são algumas das voluntárias mais antigas. Mas isso é raridade. A rotatividade nesse tipo de trabalho é muito grande.
Para se manter, a Avohspe realiza dois bazares anuais (em maio e dezembro), vendendo produtos confeccionados pelos voluntários. Além do trabalho de rotina, a associação também organiza comemorações, como as do Dia das Mães, dos Pais e Natal, em que presenteia os internos. Colabora ainda em eventos organizados pelo HSPE, como Dia do Idoso, Semana da Criança e Natal.
SERVIÇO
Informações sobre o trabalho da Avohspe:
Rua Pedro de Toledo, 1.800 – 1º andar – sala 166 ou
Tel. (11) 5088-8238
Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial
(AM)
