Responsabilidade Social
Tânia Nogueira Alvares, de São Paulo
Por meio de parcerias, a primeira dama do estado de São Paulo, Maria Lúcia Alckmin, tem conseguido multiplicar a amplitude de atuação do Fundo Social de Solidariedade do governo estadual, que preside há dois anos. Com um modesto orçamento anual da ordem de R$ 6 milhões – metade proveniente de dotação orçamentária e metade de leilões de produtos inservíveis, como cartuchos de impressoras vazios -, ela implementou onze programas de apoio à comunidade carente.
Todos projetos contaram com a ajuda de uma diversificada lista de participantes em que constam entidades como o Senai, o Senac e o Sebrae, associações de classe, de bairros, líderes comunitários e empresas do setor privado. Entre elas, o Banco Santander/Banespa, a gráfica Interprint, a Natura, o Grupo Pão de Açúcar, a Siemens e a Construtora Camargo Corrêa.
‘Sou uma articuladora das ações na área social,’ disse. O foco principal está em programas na área de educação e na geração de renda e emprego, hoje implantados em todos os 645 municípios do estado. A estratégia para essa rápida e abrangente reprodução dos projetos amparados pelo Fundo está na formação de multiplicadores.
A iniciativa privada tem papel fundamental na viabilização desses programas. ‘A contribuição mais recente, feita pelo Banco Safra, vai permitir instalar padarias artesanais em 1 mil escolas públicas a partir de fevereiro’, disse. A contribuição não é em dinheiro, mas em kits formados por forno, batedeira, liqüidificador, balança, assadeiras e botijões de gás.
O projeto de padarias artesanais é a menina dos olhos de Maria Lúcia. Ela se emociona ao falar do efeito transformador do programa, já instalado em 1,7 mil entidades cadastradas na capital e no interior, em unidades da Febem, assentamentos agrícolas, conjuntos habitacionais e até penitenciárias. A próxima meta é implantar o programa em mais de 5 mil escolas.
Além de ser um instrumento de geração de renda, o trabalho de capacitação de multiplicadores do processo de fabricação de pães artesanais envolve noções de higiene, de saúde, de cidadania e de ética, conceitos disseminados junto às comunidades carentes. Por tabela, o projeto resulta em um aumento sensível da auto-estima, um sentimento raro em populações que vivenciam as mais diferentes carências no dia-a-dia, disse a primeira dama.
É com o projeto de padarias artesanais que o Fundo Social começou a entrar nas favelas. Já são 21 os núcleos beneficiados, através de associações dos moradores locais, número modesto diante das mais de 2 mil favelas existentes na cidade.
A presidente do Fundo Social exemplifica com o resultado verificado nas 526 escolas capacitadas em 2003 para produzir pães: ‘Mais de 1,3 mil pessoas foram treinadas como multiplicadoras e distribuem 23 mil pães à comunidade local.’
O sucesso das padarias tem sido tão grande que, em algumas localidades, elas estão se transformando em microempresas ou em cooperativas. Para isso, Maria Lúcia fechou parceria com o Sebrae que está capacitando os líderes dessas iniciativas na formatação da empresa e em sua gestão. E ampliou o leque de opções de produtos – antes limitados a pão de cenoura, de beterraba, de batata e de ervas, para 20 tipos de alimentos à base de mandioca, entre pão de queijo, nhoque, empadas e tortas.
A primeira dama exibe com orgulho a resposta da população às suas campanhas. Na do agasalho, o volume aumentou de 550 mil peças em 2001, para 2,2 milhões em 2002 e mais de 7 milhões de peças no ano passado. ‘Todas em boas condições de uso, algumas até novas.’ Outra campanha, a Semana da Solidariedade tem estimulado a reflexão sobre cidadania. Em 2003, a semana foi dedicada aos idosos que vivem em asilos, que contaram com a visita de crianças e a reforma das instalações com a ajuda de empresas e da comunidade.
O Fundo Social também tem estimulado a participação dos jovens em ações junto às comunidades carentes através do Universidade Cidadã, programa que exige a articulação de secretarias e diversos órgãos públicos na viabilização de projetos para reduzir as desigualdades sociais e regionais.
Ela citou a ação realizada por 17 alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), que ajudaram uma comunidade quilombola de Cananéia a dar novos usos para as ostras que cultivam, organizando uma padaria artesanal que faz pizza de ostra e peças e roupas com as conchas.
A primeira dama tem obtido autorização para transformar dívidas de empresas com o governo estadual em projetos para as comunidades carentes. Uma dívida de R$ 40 milhões da indústria Estrela resultou na doação de milhares de brinquedos para a criação de 12 mil Casas de Brinquedo, em sua maioria mantidas por entidades sociais cadastradas no Fundo Social.
A mesma estratégia foi usada para resgatar a dívida de ICMS da Editora Melhoramentos, que pagou parte em livros. Tecidos, material de construção, alimentos, TVs, vídeos e DVDs são outros produtos destinados a diferentes projetos.
Há nove anos no Fundo Social, a princípio como voluntária, a primeira dama pretende lançar um livro que vai contar suas experiências nas comunidades carentes.