USP, 70 anos

Folha de S. Paulo - Artigo - Sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

sex, 23/01/2004 - 10h31 | Do Portal do Governo

ADOLPHO JOSÉ MELFI

A Universidade de São Paulo completa 70 anos no próximo domingo. Trata-se de uma data duplamente significativa para a universidade, pois além de festejarmos seu aniversário, estaremos igualmente comemorando os 450 anos de São Paulo, cidade que nos acolheu e acompanhou nosso crescimento.

Se a importância das universidades é um fato indiscutível, porque desde a Idade Média representam os grandes núcleos formadores de pessoal qualificado para a sociedade, a criação da USP, em particular, no ano de 1934, constitui um marco relevante para a evolução cultural, científica e tecnológica do Estado de São Paulo e do país.

Não podemos esquecer que, além de ter sido efetivamente a primeira universidade do país, sua concepção obedeceu a um ambicioso projeto político e científico-cultural. O projeto político – São Paulo vivia a frustração e a humilhação de um Estado derrotado na Revolução de 32 – ficava perfeitamente definido nas palavras de um de seus fundadores: ‘Que maior monumento poderíamos erguer aos que haviam consentido no sacrifício supremo para preservar contra o vandalismo que acabava de aviltar a obra de nossos maiores, das bandeiras à Independência e da Regência à República, do que a universidade?’. Por outro lado, o projeto científico-cultural encontrava-se explícito no decreto de sua criação, no qual, entre suas finalidades, está: ‘Promover, pela pesquisa, o progresso da ciência; transmitir, pelo ensino, conhecimentos que enriqueçam ou desenvolvam o espírito ou sejam úteis à vida; formar especialistas, em todos os ramos de cultura, e técnicos e profissionais em todas as profissões de base científica ou artística; e realizar a obra social de vulgarização das ciências, das letras e das artes, por meio de cursos sintéticos, conferências, palestras, difusão pelo rádio, filmes científicos e congêneres’.

Nesse ato de fundação se encontram todos os germens do que viria a ser a USP e, não menos verdade, do que seria, a partir daí, o paradigma do ensino superior no Brasil, no qual ensino, pesquisa e extensão passariam a constituir os três pilares que sustentam a vida de toda universidade digna desse nome.

Para realizar esses objetivos, a USP se organizou com as escolas profissionais já existentes – Faculdade de Direito, Escola Politécnica, Faculdade de Medicina, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Faculdade de Medicina Veterinária, Faculdade de Farmácia e Odontologia e Instituto de Educação – e com uma unidade recém-criada, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que seria o núcleo central e a célula mater da nova universidade, onde seriam ministradas as disciplinas básicas para formar os futuros quadros científicos do país.

A universidade teve o mérito de iniciar uma nova fase no desenvolvimento científico e cultural do Brasil e foi, juntamente com alguns poucos institutos públicos de pesquisa existentes, a mola propulsora que levou o país a organizar seu sistema de ciência e tecnologia. Podemos nos orgulhar de suas raízes e das lutas travadas em prol do desenvolvimento da ciência e da cultura e por continuar fiel à proposta de ser uma universidade pública de qualidade.

Hoje a USP representa o maior conjunto educacional e de investigação do país, formado por 37 unidades de ensino e pesquisa, às quais se associam seis institutos especializados, quatro hospitais e seis museus. São oferecidos 189 cursos de graduação, freqüentados por 42.554 alunos, e 519 cursos de mestrado e doutorado, com 30.313 estudantes matriculados. É o maior centro de ensino de pós-graduação do hemisfério sul, responsável pela formação de 31% dos doutores titulados anualmente no país.

Apesar desses números expressivos, a USP continua crescendo, tanto no ensino de graduação como no de pós-graduação. Na graduação, um programa de expansão, iniciado em 1999, permitiu ampliar em 50% o número de cursos oferecidos, com a criação de novas opções necessárias para o atendimento das demandas crescentes da sociedade. Acompanhando esse crescimento, houve um aumento substancial do número de vagas, que saltou de 7.345 em 2001 para 10.047, computadas as que serão criadas no final do ano com a implantação do novo campus na Zona Leste.

Na pesquisa, a USP ocupa uma posição de vanguarda. Em 2002, seus docentes publicaram 23.550 artigos científicos, representando mais de 25% da produção científica nacional. De cada 250 descobertas importantes desenvolvidas no mundo, uma é feita na USP. Destacam-se, por exemplo, os trabalhos do Centro de Genoma Humano, o isolamento da ilhotas pancreáticas, os avanços no campo da terapia fotodinâmica, o desenvolvimento de vacinas contra a tuberculose e a diarréia, o desenvolvimento de equipamentos e estabelecimento de modelos de otimização da perfuração petrolífera em águas profundas, as conquistas no campo da produção vegetal e animal, entre outras.

Não seria demais ressaltar também o papel social da universidade, por meio de programas assistenciais, culturais e artísticos desenvolvidos pelos órgãos ligados à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, como o Centro Maria Antônia, a Estação Ciência, as orquestras sinfônica e de câmara, os museus etc.

Essa é pois a USP de 2004, jovem e dinâmica como quando de sua criação em 1934, representando, sem sombra de dúvida, o maior patrimônio científico, cultural e artístico de São Paulo.

Adolpho José Melfi, 66, é reitor da Universidade de São Paulo.