SP avalia trem para integrar aeroportos

Folha de S. Paulo - 18/9/2003

qui, 18/09/2003 - 9h46 | Do Portal do Governo

Espanha patrocina novo estudo de viabilidade econômica sobre linha que ligaria a capital paulista a Campinas

Alencar Izidoro, da reportagem local


Folha de S. Paulo – Quinta-feira, 18 de setembro de 2003

O governo da Espanha vai patrocinar um novo estudo de viabilidade para a construção de uma linha de trem rápido para ligar as regiões de São Paulo e Campinas.

A intenção é verificar as expectativas de demanda e tarifa que atrairiam a participação da iniciativa privada na construção total ou parcial do empreendimento -que já foi alvo de diversos estudos nos últimos 25 anos.

O Estado quer avaliar a implantação de um trem que seria utilizado tanto no transporte de passageiros como no de cargas, com velocidade média de 150 km/h, fazendo uma parada em Jundiaí.

Ele serviria como alternativa para atrair usuários do sistema rodoviário Anhanguera-Bandeirantes e para aliviar os vôos na região metropolitana de São Paulo.

O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, diz que, para ser atrativa, a viagem não poderia durar mais de 50 minutos e a tarifa deveria ficar em torno de U$ 8 a U$ 10 (de R$ 24 a R$ 30). O projeto estudado há quase um ano pela pasta prevê que a linha poderia interligar os aeroportos de Viracopos, em Campinas, e Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), com passagem na estação Barra Funda do Metrô.

Ela se uniria ao Expresso Aeroporto -projeto da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que estabelece uma ligação da Barra Funda a Guarulhos e cuja licitação deve ser lançada nas próximas semanas.

Segundo Laurindo Junqueira, assessor da secretaria responsável por contatar os governos europeus sobre esse projeto, dados da UITP (associação internacional de transportes públicos) apontam haver 62 ligações rápidas de trem ou metrô ligando aeroportos a regiões centrais no mundo inteiro. Há ainda 116 linhas planejadas -cinco na América do Sul.

Interesse

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) vai assinar hoje, em Campinas, a parceria com os espanhóis para a viabilização do estudo, que vai durar oito meses e custará 300 mil euros (aproximadamente R$ 1 milhão). A data coincide com os cem anos de uma viagem de trem feita por Santos Dumont (1873-1932) à região para a colocação de uma pedra no monumento-túmulo do compositor Carlos Gomes (1836-1896).

A Espanha tem interesse na obra porque ela poderia alavancar potenciais áreas de investimentos do país, segundo Fernandes. Em 1997, a espanhola Renfe chegou a doar 48 composições a São Paulo, numa operação polêmica porque, em seguida, ela foi contratada para reformá-las.

Os últimos estudos envolvendo a ligação Campinas-São Paulo foram feitos no final dos anos 90, com a participação do governo federal e de um grupo alemão. Ela não foi considerada atrativa.

A nova tentativa faz duas mudanças principais para viabilizar a obra: não abrange a extensão ao Rio de Janeiro, como era previsto antes, e estabelece uma velocidade inferior à dos trens rápidos europeus. O último estudo, diz Junqueira, considerava velocidades de 300 km/h a 530 km/h.

Essas mudanças, na avaliação de Fernandes, poderiam levar à redução de custo da ligação de U$ 2,3 bilhões para U$ 700 milhões. A obra, se for feita, deve durar de três a quatro anos. A Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) já demonstrou interesse em participar.

O secretário também diz que não há intenção de aproveitar uma linha abandonada já existente entre as duas regiões por dois motivos: ela tem muitas curvas, não sendo compatível para um trem a 150 km/h; ela pára em Francisco Morato e, de lá para São Paulo, não haveria como utilizar a linha metropolitana em operação.

No pedido da verba do estudo ao governo espanhol, Junqueira cita que a área entre os dois municípios concentra 79% do PIB (Produto Interno Bruto) estadual e 28% do PIB brasileiro. Ele prevê uma ‘situação crítica de fluidez’ nesse eixo rodoviário nos próximos anos e destaca a importância do trem rápido no transporte de cargas de alto valor agregado e pequeno tamanho -que são alvo de roubos nas estradas.