Biotecnologia: Biofábrica produzirá espécies estéreis da mosca-da-fruta

Trabalho está sendo desenvolvido pelo Instituto de Biociências da USP

ter, 27/05/2003 - 10h46 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Antonio Carlos Quinto

A mosca-do-mediterrâneo (Ceratitis capitata) que se cuide. Em abril de 2004, na cidade de Juazeiro, Bahia, começam as obras de adaptação da primeira biofábrica brasileira, a Moscamed Brasil. A ‘indústria’ produzirá machos estéreis da espécie que, ao copularem com as fêmeas, transferirão a elas espermatozóides inviáveis impedindo a reprodução. O inseto ataca grande variedade de frutas tropicais, subtropicais e temperadas, como a manga, a uva e a goiaba, entre outras, em todo o País, causando um prejuízo anual entre R$ 150 e R$ 200 milhões anuais.

Segundo o professor Aldo Malavasi, do Laboratório de Moscas-de-Frutas do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, que preside a Moscamed Brasil, o objetivo é realizar uma ‘supressão populacional do inseto’. Para tanto, a Moscamed já tem estabelecidas parcerias estratégicas com organizações nacionais e internacionais, como a Embrapa, a Secretaria da Agricultura da Bahia e de outros estados do Nordeste, e a Agência Internacional de Energia Atômica das Nações Unidas. Além disso, existe também um plano de cooperação com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Em Juazeiro, na área de 60 mil m2 onde será instalada a Moscamed, já existem cinco galpões com cerca de 5 mil m2. O complexo foi definitivamente cedido à Organização Social em janeiro de 2003. ‘Estamos agora em busca de recursos junto aos órgãos federais e setoriais, Finep e ministérios da Agricultura e Integração Nacional’, conta Malavasi. Ele informa que, até 2005, quando a Moscamed estará em pleno funcionamento, deverão ser investidos cerca de R$ 17 milhões.

Machos estéreis

A ‘fabricação’ dos machos estéreis da espécie será feita por meio da captação de ovos que são depositados pelo inseto em gaiolas (compartimentos específicos). ‘Em seguida são reunidos num recipiente com água, onde serão recolhidos. A expectativa é que se colete cerca de 1,5 litros de ovos, diariamente’, diz o professor. Após atingirem o estágio de larva, tornando-se pupas, são irradiadas em fontes de cobalto e marcadas com corante. Neste processo, somente os ‘ovos machos’ sobreviverão, já que as fêmeas acabam morrendo com um tratamento em calor de 40 graus centígrados.

Já adultos e esterilizados, os machos serão liberados na natureza por avião ou caminhões refrigerados, diretamente nas áreas de plantio, após terem sido entregues nos centros de distribuição. Malavasi acredita que a Moscamed possa liberar semanalmente cerca de 200 milhões de machos, um número, segundo ele, suficiente para a supressão populacional nas áreas de fruticultura.

Além da mosca-do-mediterrâneo, a Moscamed também atuará sobre a lagarta da macieira (Cydia pomonella), praga que ataca as rosáceas, como maçã, pêra e ameixa, principalmente em plantações da região Sul do Brasil. ‘Neste caso, pretendemos erradicar a Cydia’, explica Malavasi. As lagartas estéreis serão produzidas em Juazeiro por uma questão de biossegurança. Devido ao clima quente, elas não conseguem sobreviver naquela região.

A mosca-do-mediterrâneo foi introduzida no Brasil no final do século 19 e a lagarta da macieira, que já está nas Américas há cerca de 30 anos, chegou ao País em meados de 1996. ‘Trata-se de uma incidência ainda recente, por isso não haverá nenhum tipo de desequilíbrio em sua erradicação total’, diz o professor.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br

V.C.