Os seqüenciamentos dos genomas do parasita causador da malária, o Plasmodium falciparum , publicado da revista britânica Nature de 3 de outubro, e do mosquito que o transmite, o Anopheles gambiae , que saiu na norte-americana Science no dia seguinte, inauguram uma nova era na parasitologia. No dia 2, para anunciar os resultados, as duas revistas promoveram uma teleconferência internacional, da qual participou a Pesquisa FAPESP , e os especialistas dos dois projetos ressaltaram que a divulgação das duas seqüências de bases do DNA deve acelerar o desenvolvimento de ferramentas para o controle da malária, que todo ano mata mais de 1 milhão de pessoas, embora a solução definitiva ainda possa estar longe.
‘Esse é apenas o começo e quem afirmar que a vacina contra a malária sai em dois anos estará mentindo’, comenta Hernando Del Portillo, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). ‘Agora temos informações para todos trabalharem 24 horas por dia em busca de soluções que poderão salvar milhões de pessoas’, acrescenta Carlos Morel, diretor do programa para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR) da Organização Mundial da Saúde (OMS), que coordenou a formação do consórcio de seqüenciamento do mosquito Anopheles .
O genoma do P. falciparum consiste em 23 milhões de pares de bases, que formam cerca de 5.300 genes distribuídos em 14 cromossomos. Já se descobriu, por exemplo, que o cromossomo número 5 apresenta uma alta proporção de genes diretamente envolvidos no funcionamento de estruturas chamadas apicoplastos, responsáveis pela síntese de substâncias vitais ao metabolismo do plasmódio. Também se confirmou a localização dos genes variant antigen : relacionados com a habilidade do parasita em driblar o sistema de defesa dos outros organismos, eles aparecem em todas as pontas (telômeros) dos cromossomos do protozoário. Já o genoma do Anopheles gambiae , detalhado na Science , com 278 milhões de pares de bases, encontra-se distribuído em cerca de 14 mil genes. No total, as duas revistas divulgaram 30 artigos sobre o tema – um deles, inclusive, apresentou uma visão das proteínas produzidas ao longo do ciclo de vida do plasmódio.