A polícia no caminho certo

Jornal da Tarde - 27/5/2002

seg, 27/05/2002 - 12h52 | Do Portal do Governo

Depois de uma meticulosa investigação realizada em sigilo nos últimos quatro meses, a Polícia Civil de São Paulo prendeu 18 pessoas, entre as quais três advogados, identificou 41 chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e desativou 32 centrais telefônicas clandestinas. Ao mesmo tempo, a Polícia Militar revistou 15 prisões, onde apreendeu 159 celulares, 98 papelotes de cocaína, 309 trouxinhas de maconha, 12 pedras de crack, 498 estiletes e 44 facas. O governo vai transferir, de início, 25 chefões do PCC para a Penitenciária de Presidente Bernardes, primeiro presídio de segurança máxima com bloqueador de ligações de celular.

As características dessa megaoperação contra o PCC, que recebeu um duro golpe do qual vai ser difícil se recuperar, vêm demonstrar que a Polícia passou mesmo à ofensiva, depois de muito tempo acuada, e reúne hoje condições de organização e planejamento para enfrentar com êxito os bandidos. Para a população, apavorada com o aumento constante da criminalidade, com medo de sair às ruas, essa é uma boa notícia que, desanimada, ela já não esperava mais.

‘Nosso objetivo foi desmantelar o PCC’, afirma o secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu. Se agora as autoridades conseguirem evitar a fuga dos chefões do crime organizado, o objetivo será realmente alcançado e a operação terá um enorme efeito de dissuasão sobre todas as organizações criminosas.

Os segredos do êxito da ação foram o bom planejamento e o investimento feito em informação, comprovadamente muito mais eficiente do que a força bruta, à qual as autoridades costumavam dar prioridade quando se viam acuadas pelos bandidos e pela pressão da opinião pública. Com autorização da Justiça, para evitar que chicanas jurídicas anulem os efeitos positivos da operação, a polícia grampeou mais de cem telefones celulares de bandidos, advogados, parentes e amigos dos presos suspeitos de envolvimento em crimes. Foram cerca de 470 horas de conversas gravadas, com informações que permitiram esclarecer crimes, desvendar o organograma do PCC e sua maneira de agir e identificar seus líderes. Dessa maneira, a arma do celular serviu pela primeira vez à lei e contra os bandidos.

A primeira lição a ser tirada da operação é a da necessidade de investir cada vez mais em informação, porque só quando é orientada por ela a ação policial é capaz de produzir bons resultados, como mostra o exemplo das polícias mais eficientes do mundo. A segunda, que é preciso – agora que o PCC foi desarticulado – instalar o mais rapidamente possível bloqueadores de celulares em todos os presídios, para evitar que ele se reorganize.

A terceira, que não é mais possível tolerar a ação de maus advogados, que usam suas prerrogativas profissionais para disfarçar sua cumplicidade com os criminosos que defendem. A revista dos advogados, antes da visita a seus clientes, deve ser obrigatória, pois só os maus profissionais a temem. Não se justifica, por nenhum ponto de vista que se queira analisar o fato, a resistência da OAB à medida. Os únicos que ganham com ela são os criminosos.

Editorial