Infocentros mudam vida dos ‘sem-computador’

O Estado de S. Paulo - 10/5/2002

sex, 10/05/2002 - 10h34 | Do Portal do Governo

Espaços trazem lazer, oportunidades de estudo, emprego e integração social à periferia

Cega desde a infância, a baiana Auri Luís Siqueira, de 59 anos, experimentou uma revolução em sua vida depois que começou a freqüentar o Infocentro Piraporinha, na zona sul de São Paulo. Com ajuda da monitora Marli Pereira, de 35, descrita como ‘um anjo bom’, a moradora de Sapopemba, na zona leste, foi alfabetizada em braile. ‘Ouvia dizer que deficientes tinham direitos, mas não sabia como chegar a eles’, conta Auri.

Antes tímida e assustada, ela agora estuda braile, faz natação, ginástica e dança. ‘Às vezes, nem acredito que tudo isso está acontecendo comigo.’ E luta para conseguir uma máquina de escrever especial, que custa R$ 1.200, valor muito acima de suas possibilidades. Auri recebe R$ 87,00 por mês de aposentadoria.

Os Infocentros – centros de informática criados pelo Acessa São Paulo em bairros da periferia – também abriram as portas para Marcelo Tiago Arcanjo de Brito, de 14 anos, o mais novo campeão municipal de xadrez. O garoto aprendeu a jogar por computador no centro comunitário da Vila Conceição, em Guaianases, zona leste, onde funciona outra unidade mantida pelo Estado com parceria da sociedade.

De família humilde, Marcelo não se assustou com o xadrez, esporte olímpico praticado por pessoas tidas como muito inteligentes, em geral de classes mais favorecidas. Aluno do segundo ano do ensino médio em uma escola pública, ele faz parte de um grupo liderado pelo professor de história Claudemir da Silva Vieira, que dá aulas para jovens da região.

O xadrez acabou virando febre no bairro de periferia e hoje é praticado por vários meninos. O esporte deu a eles um benefício adicional: melhorou o desempenho escolar de todo o grupo.

Com a vitória no campeonato municipal, Marcelo, que ainda trabalha entregando panfletos nos semáforos, ganhou o primeiro tabuleiro de sua vida, um troféu e uma medalha. ‘Meu sonho é ser como o Mequinho (o brasileiro Henrique Mecking), campeão mundial de xadrez.’

Assim como Auri e Marcelo, várias pessoas descobriram como usar a rede mundial para garantir mais qualidade de vida. As aulas são dadas por monitores formados pela Escola do Futuro, da Universidade de São Paulo (USP). Todos são moradores dos próprios bairros atendidos.

Trabalho – Os infocentros também estão sendo utilizados para ajudar no estudo e até na busca por emprego. Alunos de baixa renda do Jardim São Luís, no extremo da zona sul, se preparam para disputar os vestibulares com apoio de textos da rede e de professores voluntários.

Moradores de Itaquera, na zona leste, por sua vez, conseguiram trabalho nos portais específicos. Há ainda casos de pessoas que aprenderam a ler pela Internet.

A procura pelos 51 infocentros da cidade – que fazem uma média de 500 mil atendimentos mensais – é tanta que o governo pensa em aumentar para 60 o número de unidades na Capital até julho. Segundo o coordenador do programa, Fernando Guarnieri, no interior do Estado haverá a mesma quantidade de instalações, o que deverá ajudar a popularizar a Internet, com um total de 3 milhões de atendimentos. Atualmente, 20% dos paulistas têm acesso à rede mundial. Desses, só 2% são de classes populares, público-alvo dos infocentros.

Moacir Assunção