Governador José Serra discursa na sede do PSDB em Pernambuco

Queria aqui dar meu abraço a tantos amigos, companheiros aqui presentes, e me congratular com o PSDB de Pernambuco pela homenagem à Ruth. No momento que ela morreu nós verificamos […]

seg, 16/03/2009 - 23h00 | Do Portal do Governo

Queria aqui dar meu abraço a tantos amigos, companheiros aqui presentes, e me congratular com o PSDB de Pernambuco pela homenagem à Ruth.

No momento que ela morreu nós verificamos o seguinte: que um País não se caracteriza, não é avaliado apenas pelos grandes homens e mulheres que nele vivem, mas também pelos homens e mulheres que pode homenagear, pelo tamanho deles.

Na verdade, o desaparecimento da Ruth mostrou isso. Mostrou a grandeza que tem um País que pode homenagear uma pessoa do tamanho dela. Foi, realmente, um fenômeno incrível. E, como o Tasso dizia, aquelas virtudes dela, de repente, foram homenageadas por todo o Brasil.

É raro isso, no momento em que essas virtudes escasseiam na vida pública. A discrição, o decoro, o conteúdo, a substância, o engajamento responsável… Ela representou tudo isso. E nós vimos o Brasil inteiro reconhecer: “Puxa, nós temos alguém… tínhamos alguém como ela aqui!”. Portanto, homenageá-la também nos engrandeceu, ao País, ao partido e, agora, ao PSDB de Pernambuco.

Eu devo dizer, pessoalmente, que tive uma dívida enorme com a Ruth, ao longo de toda a minha vida pública. Porque era uma pessoa com quem eu conversava muito. Levava, também, muito pito dela. E algumas decisões importantes que eu tomei na vida como, por exemplo, aceitar ser ministro da Saúde sem saber aplicar uma injeção – …pior ainda: eu fico enjoado, me dá tontura quando eu vejo aplicar uma injeção… – em grande medida foi por influência dela.

Ela teve um papel que foi além do exemplo, nos aspectos da personalidade dela que nós citávamos aqui – mas também um papel objetivo. A rede de proteção social que o Brasil tem hoje, como o Aécio mencionou, como o Tasso mencionou, como outros mencionaram, veio do governo Fernando Henrique. E a Ruth foi a principal inspiradora dessa rede de proteção, de uma outra maneira de se encarar o enfrentamento do problema da pobreza, que não tem sido seguido ao pé da letra nos últimos anos. Mas o que foi feito, em grande parte, foi baseado naquela construção da qual ela foi uma das idealizadoras fundamentais. Digo isso com todo o conhecimento que me permitiu a convivência próxima com o governo, e com ela, naquele período.

Bem… eu tenho certeza de que se a Ruth fosse viva estava aqui, dando um pito. Não um pito bravo… Mas em tudo aquilo que achava que o nosso partido fazia errado. Tem uma coisa que nós fazemos errado, continuamos fazendo errado, que é a questão da comunicação. Eu não me excluo da responsabilidade disso.

Eu, outro dia, disse… É um paralelo já conhecido, mas é engraçado e vale a pena repetir… Nós temos o complexo da pata. A pata, mulher do pato. Ela põe um ovo enorme, nutritivo, é o melhor ovo que existe, e fica quietinha. A galinha põe um ovo pequenininho, muito menos nutritivo que o da pata, fica cacarejando, e todo mundo olha. De alguma maneira, o PSDB faz a sua comunicação na base da pata, e não da galinha. E este é um problema que nós temos. E é um problema em torno do qual a gente tem que meditar bastante, pensar bastante em como fazer essa comunicação para o povo, para o resto do Brasil. Porque as pessoas, em última análise, sabem o que está acontecendo através da comunicação, porque podem saber o que está acontecendo na sua vida… Mas o que está acontecendo em todo o resto depende muito disso. Inclusive as expectativas com relação ao futuro.

A estratégia de trabalhar só com comunicação tem seus limites. Nós estamos vendo isso na questão da crise, atualmente. É uma crise que veio de fora, todo mundo sabe, mas é uma crise que não precisava ter o impacto que teve no Brasil. Nós tínhamos vários fatores que nos defendiam da crise. Não por obra de um governo – por situação objetiva do Brasil. Por exemplo: nós não exportamos tanto, como proporção daquilo que é produzido no Brasil. Portanto, essa contração do comércio internacional não tem o mesmo impacto aqui que tem no Chile ou na China.

Havia vários fatores… Os bancos estavam… O sistema financeiro estava sólido por causa de algo que nós fizemos, com um desgaste infinito. Inclusive eu, que fui um dos que teve pessoalmente… Com o Proer que, de alguma maneira, solidificou o sistema financeiro brasileiro e… vários outros fatores. Mas o fato é que a crise chegou, tivemos a segunda maior quebra de bolsa do mundo depois da Rússia, a maior desvalorização da moeda e a segunda contração, diminuição do PIB, ou seja, da produção, segundo os dados recentes estão mostrando. Por quê? Porque substituiu-se muita ação concreta por palavras. Como foi o caso, por exemplo, da atuação em relação ao sistema financeiro, do Banco Central, dos juros, do crédito.

Numa economia em que falta crédito – e essa crise é uma crise de crédito – o crucial teria sido atuar firmemente nessa direção. E nós não fizemos isso, e continuamos, até hoje, com a maior taxa de juros do mundo, inteiramente na contramão de todo o mundo… Todo o mundo, desesperadamente, adotando aquelas medidas que a gente sabe que são as únicas possíveis, mas nós não fizemos isso.

Como disse o Aécio, é pouco provável que na eleição do ano que vem nós tenhamos uma situação de bonança. Nós vamos estar numa situação complicada, provavelmente. Não é o que eu desejo, não é o que ninguém aqui deseja. Aliás, se tem uma característica do PSDB – e eu posso falar isso sem nada de gabolice – é não jogar no quanto pior, melhor. Nós não sabemos jogar no quanto pior, melhor – não é? Nós não sabemos fazer… “Não, vamos piorar para a gente poder faturar…” A gente não sabe fazer isso. De vez em quando… “Mas, por que é que vocês não fazem isso, botam para quebrar, etc?…” Eu falo: mas tucano não sabe fazer isso.

Portanto, não estou falando com essa perspectiva, mas é provável que tenhamos um quadro difícil. E então, ele exige em esforço redobrado. Nós temos que analisar, temos que diagnosticar, temos que propor e temos que mobilizar. Porque se não mobilizarmos e não soubermos chegar ao nosso povo, nas diferentes regiões do país, não vai adiantar nada ter a razão. Ter a razão não basta, é preciso mostrar que se tem razão.

A Judite disse que nós temos que ter um só coração, um só sentimento. E eu acrescentaria: uma só voz, no Brasil inteiro, levando a nossa mensagem de reconstrução – …tem muita coisa que foi desconstruída… – e apontando para o futuro. Eu tenho certeza que nós vamos ter essa força. Um sentimento, um coração e uma só voz no Brasil inteiro.

Eu vim aqui a Pernambuco convidado pelo Sérgio Guerra e pelo Aécio. Eu não estava com essa programação na cabeça. Eu tinha, inclusive, que ir a outro Estado. No final, eu vim. Mas foi para manifestar minha confiança na unidade, porque a unidade já existe no propósito, existe na intenção e existe no nosso comportamento. Agora, nós temos que batalhar por ela. Unidade se reconstrói a cada dia, especialmente quando tem muita gente investindo para quebrar a nossa unidade.

Tudo o que interessa (aplausos)… Tudo o que interessa aos adversários, nesse momento, é precisamente aquilo que nós temos, e temos que continuar preservando, que é a nossa unidade. Um sentimento, um coração e uma voz. Temos capacidade para formular, temos capacidade para diagnosticar, temos capacidade para propor e temos experiência de governo. De governo nacional, de governo estadual e de governo local. Nós temos muita experiência… experiência reconhecida pela população.
Se vocês olharem… Pega o governo de Minas, tem um índice de aprovação, já vão seis anos – não é, Aécio? – de quanto? Pode falar, não tenha vergonha… Mas, enfim… O índice de aprovação deve ser de 70, 80, 90… Mas ninguém tem uma aprovação durante tanto tempo sem ter uma obra sólida por traz. É uma experiência, experiência de boa gestão, experiência política também… Porque não se faz boa gestão sem boa política.

Temos muito o que apontar nessa área, do que veio do nosso Governo Federal, do que temos nos Estados, do que temos de gestão da Prefeitura. Aqui mesmo temos o ex-prefeito de Vitória, o Luiz Paulo, o ex-prefeito de João Pessoa, o Cícero, que fizeram administrações exemplares. Aqui tem o Albano Franco, um grande palanqueiro. Vocês pensam que ele é quietinho assim, é? Conversa… O Albano, no palanque, é infernal… para o adversário. A experiência do Tasso… Ele não vai me levar mal, quando alguém disse… o José Aníbal disse: “Ninguém foi três anos governador”. Eu falei: e ainda pode ser mais. Não estou fazendo nenhuma sugestão a ele.

Aliás, ele implicou… Eu até uma hora me consolei e falei: “Minha mãe pensava, minha mulher pensa, minha filha e minha neta, que eu tenho uma cara razoável, um rosto razoável, que eu não preciso fazer”. Na hora eu me confortei com isso. Falei: bom, pelo menos tem elas três que…. Heim? Porque do Aécio ele falou do sotaque, da coisa… De mim ele falou do rosto.

Queria dar aqui o meu abraço a todos e a todas. Eu tenho um afeto especial por Pernambuco. Tem três Estados onde eu aprendi a fazer política. Eu comecei na política estudantil, mas em São Paulo. Em São Paulo, agora vá lá, mas naquela época não se sabia fazer política de jeito nenhum. Ainda não se aprendeu muito, mas naquela época era quase nada.

Eu aprendi em três Estados: no Rio, em Minas e em Pernambuco. Verdade… Foram os lugares em que eu mais estive presente e as pessoas com que eu mais convivi nos anos 60, quando era líder estudantil. Com alguns amigos muito próximos. Eu aprendi a fazer política com eles. Aprendi também, pelo mal e pelo bem, a ser um político nacional, que é o que eu sou todo o tempo, mesmo que esteja enfiado na última biboca do interior de São Paulo.

Eu tenho sempre essa visão, que me foi facilitada também por um fator perverso da minha história – que foi o exílio prolongado, de praticamente 14 anos, que me fez sempre olhar o Brasil como um todo. Quando a gente está fora, não tem jeito. E quando está fora obrigado, forçado, muito mais ainda. Tem a visão de conjunto do nosso País. Inclusive, tem como referência outros países, os seus problemas confrontados com os nossos e vê, realmente, que nós só não fomos mais para frente por nós. Não estou dizendo dos que estão aqui, mas por nossa responsabilidade.
Aliás, o Brasil, nos últimos anos, nessa bonança tremenda da economia internacional, cresceu menos do que a América Latina… Cresceu menos. Nós não aproveitamos a bonança, tudo aquilo que podia ser aproveitado. Na verdade, por responsabilidade do próprio País. Não é por causa do imperialismo, não é por causa disso, daquilo. É por responsabilidade nossa.

Outro dia, alguém me mandou um e-mail, uma pessoa muito inteligente, ironizando o PSDB. Dizendo que o PSDB tem uma vocação para culpa, que o PT não tem nenhuma, podem fazer o que quiserem porque estão devendo para eles, o País está devendo. Nós temos o contrário e, às vezes, nós sentimos culpa até pelos erros do governo do PT. Chegamos até a esse exagero. Não nos conformamos com coisas mal feitas, em vez de aplaudi-las imaginando faturá-las.

Pois bem. Vamos transformar esse sentimento positivo em relação ao Brasil… Porque quem sente culpa por algo que está acontecendo é porque acha que poderia consertar… Vamos transformar isso em energia, em mobilização, em entusiasmo. E, se Deus quiser, nós vamos voltar ao Governo, não pelo nosso bem, não por nenhum dos que aqui estão, mas pelo bem do nosso povo.

Muito obrigado!