Atividades culturais da Febem estão em adaptação de Dom Quixote

Montagem tem 150 internos como intérpretes

qua, 28/11/2001 - 17h31 | Do Portal do Governo


Quando a diretora e coordenadora de Projetos de Teatro na Febem, Valéria Di Pietro, pegou em mão a peça “Num Lugar de La Mancha – Amores e Aventuras de Dom Quixote” não hesitou em procurar o autor, Mario Garcia-Guillén, para uma parceria muito especial.

Ela viu no texto – uma adaptação do consagrado “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes – todas as possibilidades de inserir as atividades culturais desenvolvidas pela Febem para os internos de São Paulo.

“Eu pensei em Dom Quixote pelo idealismo do personagem, que fala de justiça e tem um projeto de vida, valores em que esses jovens precisam acreditar para mudar o próprio destino. E a adaptação do Guillén está preciosa”, diz a diretora da peça, que será exibida às 21 horas no Memorial da América Latina nesta quinta-feira, dia 29.

O espetáculo é gratuito e encerra um fórum promovido pelo Governo do Estado sobre os novos caminhos para a juventude.

Para o autor da adaptação de Cervantes, contribuir com o projeto está sendo uma experiência singular e uma grande emoção. “Estou me sentindo um pouco protagonista, porque meu texto vem servindo realmente para algo importante e transformador”, observou Guillén, que também é responsável pela letra de cinco das sete músicas do espetáculo.

Espanhol radicado no Brasil há 44 anos, ele comenta que nunca soube o resultado ou a reação das pessoas diante dos seus inúmeros trabalhos, entre peças, adaptações e contos. “Penso que meus textos não tinham nenhum valor, e agora um deles tem, porque está de alguma forma ajudando estes jovens.”

A observação de Guillén tem fundamento. A primeira montagem da peça, feita no ano passado, contava com 136 adolescentes. Dois deles estão enveredando pela área teatral e a maioria do grupo tem mostrando mudança de postura e conduta, baseada sobretudo na auto-estima.

Quem atesta as mudanças é a própria diretora, que desde 1990 vem adaptando textos clássicos do teatro para motivar a transformação na vida dos internos da instituição. “A função de um arte-educador é mudar a linguagem e a realidade dos internos. Por isso, nunca perco de vista este objetivo no meu trabalho pela Febem.”

A montagem deste ano conta com nada menos que 150 participantes, todos internos de unidades da Febem na Capital e Região Metropolitana, como Tatuapé, Raposo Tavares, Parada de Taipas, Itaquaquecetuba, Franco da Rocha, Mooca e Brás. Na peça, a diretora Valéria Di Pietro inseriu nos sonhos de Dom Quixote, atividades culturais desenvolvidas pela instituição. Entre elas estão ciranda, dança de rua, maculelê, capoeira e teatro de fantoches.

Exibição Internacional

O sucesso de “Num Lugar de La Mancha” já se reflete no exterior. O autor Mário Garcia Guillén, que acaba de volta do festival Ibero-Americano de Teatro de Cadiz (Espanha), informou que a organização do evento fez um convite informal ao grupo de teatro da Febem. A intenção é montar o espetáculo na próxima edição do festival, a 19ª, que será realizada em outubro de 2002.

“O convite vai ser formalizado em agosto do próximo ano e a organização do evento se responsabiliza pela estadia e as despesas de todos os integrantes”, comentou Guillén. Caso o convite tenha aprovação judicial, a pendência ficará somente com a obtenção das passagens para o grupo.

“Para nós da Febem, o que mais nos orgulha é que estamos saindo das páginas policiais e começando a freqüentar as páginas de cultura e de esportes dos jornais”, comentou o presidente da instituição, Saulo de Castro Abreu Filho.

Gislene Lima


Fotos f, c – Menores ensaiando a peça.
Foto a – Mário Garcia Guillén, autor de ‘Num Lugar de La Mancha”.
Foto c – Presidente da Febem, Saulo de Castro Abreu Filho.