Cetesb é referência de socorro a emergências químicas na AL

Setor da empresa atua há 31 anos para reduzir danos causados por acidentes

qua, 04/02/2009 - 11h04 | Do Portal do Governo

Acidente na Rodovia dos Imigrantes no dia 16 de janeiro causou a emissão de névoa tóxica na altura do município de Diadema. Em função disso, além dos bombeiros, policiais rodoviários, civis e responsáveis pela estrada e pela carga, foi acionada a equipe do Setor de Operações de Emergência da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que completou 31 anos de funcionamento no dia 9 do mês passado. Essa equipe é chamada para intervir em situações que representam riscos ao meio ambiente, decorrentes de acidentes ou de atividades com substâncias químicas no Estado.

Na ocorrência da Imigrantes, uma carreta-tanque com 32 mil litros de ácido clorídrico, produto corrosivo, colidiu com a traseira de um caminhão. Embora o produto não tenha vazado, um incêndio o deixou em contato com a atmosfera, provocando a reação química responsável pelo vapor. Na operação de socorro, os técnicos da Cetesb monitoraram, orientaram e fiscalizaram os procedimentos, que envolveram a aplicação de neblina d’água para dissolver a névoa. Posteriormente, neutralização e remoção do resíduo formado, que é corrosivo. “Nossa função é atuar emergencialmente para minimizar danos ambientais, mas normalmente na orientação, pois a responsabilidade da execução é do agente poluidor”, explica o gerente da Divisão de Gerenciamento de Riscos, Edson Haddad.

Tragédia ecológica – O Setor de Operações de Emergência socorre, em média, 450 acidentes por ano, em todo o Estado. Dispõe, para isso, de equipe formada por 22 técnicos, distribuídos entre os trabalhos de campo (13), da central de atendimento e monitoramento, com atendimento 24 horas (6), e administrativos (3). Os recursos materiais abrangem seis viaturas, sendo três na capital e três no interior, dotadas de equipamentos para monitoramento ambiental do solo, da água e do ar, além de roupas de proteção química e térmica, entre outros.

Do total de ocorrências atendidas, cerca de 50% estão relacionadas ao acidente com transporte de carga perigosa, a maior parte em rodovias, e de líquidos inflamáveis, como gasolina, álcool e diesel, além de gases como amônia e GLP (gás natural). Em seguida aparecem os chamados de postos de gasolina (10%) e, em terceiro, os da indústria (8%). Mas até 1983 esse quadro era bem diferente. Os atendimentos tinham por finalidade básica atender derramamento de petróleo no mar. A própria criação do Setor reporta a uma grande tragédia ecológica com vazamento de óleo no mar, ocorrida em São Sebastião, em janeiro de 1978. O navio-tanque N/T Brazilian Marina chocou-se com uma rocha submersa e ocasionou a dispersão de 6 mil toneladas de petróleo, devido ao rasgo no casco de um dos tanques de armazenamento.

O acidente levou à contaminação de praticamente todas as praias da região e deixou evidente a falta de uma instituição preparada para enfrentar os efeitos de acontecimentos desse tipo no Brasil. Os procedimentos de emergência não foram suficientes para conter a mancha de óleo, que chegou ao Rio de Janeiro. O primeiro grande acidente envolvendo vazamento de petróleo foi também o último caso do tipo sem atendimento especializado no Estado de São Paulo. A partir disso, a agência ambiental paulista estruturou o serviço de atendimento a emergências químicas a tal ponto que se tornou referência para a América Latina e Caribe.

O preparo mais intenso para isso se deu a partir do início da década de 1990, quando um técnico da empresa foi enviado aos Estados Unidos para treinamento e contato com a atuação nesse segmento em vários Estados daquele país. “Adquirimos um bom nível de preparação e uma estrutura que não é encontrada em nenhum outro órgão na América Latina. Além disso, possuímos mais de R$ 1 milhão em equipamentos, o que é um grande investimento”, ressalta Edson Haddad.

O atendimento especializado da Cetesb é o único certificado como Centro Colaborador em Prevenção, Preparação e Respostas às Emergências Químicas da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), órgão da Organização Mundial de Saúde. Dessa forma, presta apoio aos outros países, além de oferecer cursos teóricos e práticos para a implementação das ações nacionais e regionais, referentes aos preparativos para o atendimento aos casos de emergências e de desastres nos países das Américas. Auxilia, ainda, outros Estados brasileiros, com suporte técnico a distância, e administra a Rede de Emergências Químicas para América Latina e Caribe, a Requilac, formada por 446 técnicos que trabalham no setor em vários países para a troca de informações.

Rodovias – A exemplo do serviço desenvolvido para o socorro de acidentes com petróleo, também houve em 1983 um caso que marcou o início do atendimento em rodovias. Um vazamento de 400 toneladas de produtos químicos de armazenamento clandestino em Porto Feliz, com graves consequências. “Por causa dele, os cursos d’água da região estão contaminados até hoje”, conta o biólogo do Setor, Carlos Ferreira Lopes.

Segundo o técnico, foi a gravidade da ocorrência que despertou o interesse em chamar o órgão ambiental para acompanhar os atendimentos em estrada. “Nós temos condições para avaliar os aspectos de contaminação do solo, da água e do ar, a fim de garantir a segurança no socorro e minimizar efeitos”, explica Lopes.

Mas a conscientização sobre a importância do trabalho como um todo só veio nos anos 1990. Lopes destaca que, nos primeiros dez anos da atuação, a maior parte das instituições não se dava conta da sua necessidade. Mais uma vez, foi um acidente de grandes proporções que mudou o panorama. A explosão no Osasco Praia Shopping, em 2006, teve grande cobertura da mídia e fez com que o atendimento da Cetesb ganhasse visibilidade.

O acionamento pode ser feito tanto por instituições como diretamente pela população. O Centro de Controle de Desastres e Emergências Químicas recebe chamados, faz a primeira triagem e abre ocorrências durante 24 horas, por meio de dois números telefônicos e das várias agências ambientais estrategicamente localizadas por todo o Estado. O Setor oferece também um site, com manual composto por 800 produtos químicos, em português, estatísticas e relatos de acidentes, além de orientações e informações sobre o serviço.

Equipe em ação

No momento da nossa entrevista, entra um chamado. A solicitação de atendimento chegou por intermédio da Agência Ambiental de Santo Amaro, que foi acionada diretamente por um residente, como classifica a equipe. A reclamação foi de forte cheiro de gás, que exalava do ralo e da pia.

No Centro, o técnico de plantão, Pedro Tomé, diz que procura apurar ao máximo as informações para abrir o Registro de Ocorrência Química (REQ). Segundo o técnico, já houve 21 deles neste ano. Com os dados coletados, a equipe tem condições de antecipar algumas possibilidades. “Como não há rede de gás no bairro, provavelmente o problema se refere ao mau uso de botijões”, avalia Tomé.

Depois disso, a viatura é encaminhada para o local. “Saem sempre três homens em cada carro”, explica Carlos Lopes, no comando do Setor. Trata-se de um caso mais simples, que também recebe atendimento. Apesar disso, a viatura sai com todo o equipamento. Entre eles estão o explosímetro (usado para detectar e medir a concentração de substâncias inflamáveis), GPS (para orientação espacial) e um multidetector, capaz de determinar a concentração de cinco produtos diferentes.

Outra ocorrência em andamento revela mais uma frente de atuação do Setor: a busca de soluções para descartes clandestinos de substâncias tóxicas. É uma situação complexa, já que normalmente não pode ser detectado o responsável. A que está em questão foi denunciada por um transeunte, que sentiu o cheiro forte do resíduo químico lançado no barranco de uma estrada, na zona sul da capital. Com aspecto de uma borra, o despejo ocupou 400 metros quadrados de área.

A ação emergencial abrangeu a cobertura com uma lona, para minimizar o odor, e a coleta de amostra para análise. Após a caracterização, será definido o destino da substância: incineração ou aterro industrial. “Nesses casos, não temos como responsabilizar o agente poluidor. A não ser quando podemos rastrear a origem”, observa Haddad. Ele destaca que além do produto in natura, muitas vezes o descarte é de recipientes contaminados, como galões e tambores. E que é muito comum a população reaproveitá-los para armazenar água, antes que possam ser recolhidos. “Isso pode ser muito perigoso”, alerta o técnico.

Resíduos perigosos

Os resíduos químicos, tanto líquidos como sólidos, ou produtos químicos descartados muitas vezes em função de roubo de carga, apresentam como principais riscos a corrosividade, inflamabilidade, liberação de  compostos orgânicos voláteis (COV) e reatividade com água, podendo provocar explosão, desprendimento de chamas ou de calor, formação de compostos, misturas, vapores ou gases perigosos.

Esses resíduos, normalmente dispostos diretamente sobre o solo e em margens de córregos e represas, podem infiltrar-se no solo provocando a contaminação do meio, incluindo, em determinadas situações, o lençol freático. Essa situação torna-se mais grave quando os resíduos são enterrados em terrenos baldios, em áreas periféricas dos grandes centros, e que somente são descobertos mediante denúncias da população ou quando são percebidos apenas os seus efeitos, como, por exemplo, a redução da qualidade da água, os danos sofridos pela vegetação. Ou, em casos mais graves, o surgimento de doenças ou mesmo a contaminação de pessoas e animais.

Dependendo da sua natureza química, os resíduos envolvidos causam a contaminação do ar provocando incômodos às populações vizinhas. Essa situação se agrava quando alguns resíduos são queimados, o que torna mais difícil a extinção do fogo por parte do corpo de bombeiros. Nesses casos, é necessário investigar ainda o destino das águas utilizadas no combate ao incêndio.

Serviço

Solicitações de atendimento a emergências químicas podem ser feitas pelos telefones 0800-113560 e 3133 4000. Mais informações, no site www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/emergencia.asp

Simone de Marco – Da Agência Imprensa Oficial