O Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo está selecionando crianças entre seis e 13 anos que sofrem de enurese – falta de controle da urina – para uma pesquisa inédita no Brasil. Os especialistas estão analisando portadores de enurese que também apresentem sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Em muitos casos em que há a ocorrência das duas anomalias, os pais acabam se preocupando mais com os sintomas do TDAH, deixando de lado o problema da enurese”, conta a psicóloga Carolina Ribeiro Bezerra de Sousa.
Crianças com o TDAH apresentam sintomas como impaciência, não conseguem esperar a vez, não conseguem prestar atenção por muito tempo e agem de forma impulsiva. Estudo inédito no País está sendo desenvolvido dentro do Projeto Enurese. Segundo a psicóloga, de acordo com a literatura, 30% das crianças que têm TDAH também sofrem de enurese.
Contudo, em seu estudo de mestrado que vem realizando no IP, Carolina se deparou com números diferentes: “Desde que iniciamos o acompanhamento de cerca de 300 casos, constatamos a prevalência em apenas 6%, cerca de 12 casos”, relata. Esse índice revela a desconsideração da queixa de enurese tanto pelos pais como por profissionais de saúde quando ele vem acompanhado pelo TDAH.
A pesquisa é desenvolvida no Departamento de Psicologia Clínica do instituto, sob a orientação da professora Edwiges Ferreira Silvares, coordenadora do Projeto Enurese do IP. A psicóloga vem acompanhando os casos em seu estudo desde 2008 e conta que está na fase final das avaliações. A pesquisa é realizada em parceria com o Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
“Selecionamos crianças atendidas no ambulatório do IPq, portadoras de TDAH e que tenham eventualmente enurese. Também atendemos no próprio Instituto de Psicologia, no Projeto Enurese, que faz parte do Laboratório de Terapia Comportamental do Departamento de Psicologia Clínica”, diz.
A pesquisa de Carolina deverá ser concluída neste ano. Para tanto, os pesquisadores ainda necessitam de crianças que tenham os dois sintomas para serem submetidas ao tratamento.
Encontros mensais
A professora Edwiges, coordenadora do Projeto Enurese do Instituto de Psicologia, afirma que o atendimento das crianças com os dois sintomas é feito em dois encontros mensais. De acordo com estudos anteriores, o tratamento de crianças enuréticas com problemas de comportamento é mais demorado. “No entanto, o que verificamos até o momento é que o tempo da terapia é equivalente ao das crianças que têm apenas enurese”, afirma a educadora.
Segundo ela, nos casos atendidos pelo Projeto Enurese de crianças com os dois sintomas, a média de sucesso é de cerca de 50%. “Isso nos indica que o TDAH não tem influência na demora do tratamento”, avalia.
Da Agência Imprensa Oficial e da USP
