USP homenageia socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz pelo centenário

Docente liderou diversas atividades na história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da instituição

qui, 06/09/2018 - 9h48 | Do Portal do Governo

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) promoveu, em 27 de agosto, a mesa-redonda “A contribuição de Maria Isaura Pereira de Queiroz para a Sociologia brasileira”. O evento ocorreu em homenagem ao centenário de nascimento da docente, celebrado no dia 26 de agosto.

Vale destacar que a iniciativa teve organização do Centro de Estudos Rurais e Urbanos (CERU), da FFLCH, espaço do qual a socióloga foi uma das fundadoras e diretora-presidente diversas vezes. Inicialmente, os organizadores apresentaram um trecho do vídeo da cerimônia de outorga do título de professora emérita, para mostrar aos presentes um pouco do discurso da docente na ocasião.

Na ocasião, Maria Isaura Pereira de Queiroz destacou que, quando resolveu entrar na Faculdade de Filosofia, foi considerada uma “menina desobediente”, pois em 1946, ano do ingresso dela, esse não era o caminho mais comum a ser trilhado por uma mulher.

Realizações

A atividade seria coordenada pela professora titular sênior do Departamento de Sociologia da FFLCH Eva Alterman Blay, que não pode comparecer por motivos de saúde e foi representada pela filha Silvia Alterman Blay. Ela leu uma carta escrita pela mãe, na qual contava um pouco da relação com a homenageada. “Você não foi minha professora, mas mais do que outra me orientou e corrigiu meus trabalhos, sem pedir nada em troca”, destacou a docente na carta.

A diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, e professora do Departamento de Sociologia, ressaltou que, apesar de não ter sido aluna da homenageada, conviveu com ela em muitos momentos, como no grupo de estudos de Sociologia da Cultura, além de ter lido suas obras.

Maria Arminda do Nascimento Arruda lembrou que a docente era rigorosa, não gostava de amadorismos e a maneira mais eficaz de pensar a trajetória dela é abordando as obras e realizações. Para a diretora, a homenageada, e ex-aluna de Roger Bastide, é uma das professoras mais destacadas da FFLCH. “A sua obra discute a modernidade do Brasil e olha as injustiças que produz este movimento. A tensão entre rural e urbano marca as suas análises”, avalia.

“Ela não apenas foi e é uma socióloga de envergadura, porém uma pioneira que abriu caminho para as gerações seguintes, permitindo que as próximas pudessem encontrar um caminho melhor, no campo que ainda é muito difícil para nós, mulheres”, afirma a diretora.

Consagração

A professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Olga Rodrigues de Moraes Von Simson foi aluna da homenageada na FFLCH na graduação e orientanda tanto no mestrado quanto no doutorado.

“Maria Isaura é uma pesquisadora consagrada, não só no nosso País, mas na França”, salienta a docente. Ela recordou que a homenageada transitou por várias áreas da Sociologia, dedicando-se inicialmente à Sociologia da Religião, passando para setores mais específicas dos estudos rurais, entre outros.

A docente da Unicamp fez questão de destacar o papel importante que Maria Isaura desempenhou na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), além da consolidação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para as Ciências Humanas, ao alcançar patamar semelhantes às Biológicas e Exatas.

Ainda no evento, a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Glaucia Kruse Villas Bôas afirmou que a trajetória de Maria Isaura se confunde com a da Sociologia no Brasil. A orientanda de Maria Isaura no doutorado ressalta que a professora comentava como foi difícil publicar livros, pois somente os homens tinham oportunidades naquele período. “Aprendi muito com Maria Isaura, mais do que podia ter aprendido com outra pessoa. Suas temáticas a diferem dos sociólogos de sua época”, resume.

Trajetória

Maria Isaura ingressou no curso de Ciências Sociais da então Faculdade Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), atual FFLCH, em março de 1946, terminando a Licenciatura em 1949. Depois, foi nomeada auxiliar de ensino da Cadeira de Sociologia I, dirigida pelo professor Roger Bastide, na qual trabalhou no período de 1950 a 1955. Em 1951, obteve bolsa do Governo Francês para cursar a École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales, Universidade de Paris, permanecendo até 1953.

Ela se diplomou em maio de 1956, com tese aprovada por banca composta pelos professores Roger Bastide (orientador), Claude Lévi-Strauss e Gabriel Le Bras. Em maio de 1956, regressou ao Brasil, mas continuou seu trabalho na França e, na FFLCH, lecionou até 1982, quando se aposentou.

Sua obra se divide em pelo menos três campos temáticos: análises sobre a reforma e a revolução por meio dos movimentos religiosos, messiânicos e do mandonismo na política; os estudos rurais, com análise do campesinato brasileiro a partir da definição de grupos rústicos; e os estudos sobre a cultura brasileira, com destaque para as histórias de vida, relações de gênero e o carnaval.