USP: estudo analisa formas para mensurar níveis de hormônios do estresse

Iniciativa de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto conta com o apoio da Fapesp

ter, 07/08/2018 - 14h06 | Do Portal do Governo

Um trabalho conduzido pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo (USP) investiga novos métodos para medir os hormônios do estresse no plasma sanguíneo.

Vale destacar que pessoas expostas ao estresse crônico costumam apresentar níveis sanguíneos elevados do hormônio cortisol, substância com a função de preparar o corpo para lidar com situações desafiadoras. Assim, é possível aumentar a frequência cardíaca e os níveis de açúcar no sangue, por exemplo.

Segundo especialistas, esse estado de alerta constante pode contribuir, ao longo do tempo, para o desenvolvimento de doenças metabólicas e psiquiátricas. Desse modo, entender a participação do cortisol e de um de seus principais metabólitos (o 11-DHC) no desenvolvimento de depressão é o objetivo de uma linha de pesquisa coordenada pela professora Lúcia Helena Faccioli, da FCFRP.

Hormônios

É importante frisar que o grupo desenvolveu um novo método baseado em espectrometria de massas para dosar com precisão no plasma sanguíneo de animais e de humanos o nível de seis hormônios esteroides: cortisol, cortisona, corticosterona, progesterona, aldosterona e 11-DHC.

“Todas essas substâncias são mediadores lipídicos envolvidos em diversas patologias, entre elas, a depressão. Mas, para entender como isso tudo é regulado, precisávamos de uma metodologia mais simples e precisa para medir os níveis desses hormônios tanto no sangue como nos tecidos afetados”, explica a docente.

De acordo com a pesquisadora, atualmente, a maneira mais comum de dosar os hormônios esteroides no plasma sanguíneo são os kits com reagentes capazes de reconhecer a substância de interesse. Contudo, para cada um dos hormônios, é necessário um kit diferente, com o reagente específico.

“Não são raros os casos de reação cruzada com esse tipo de teste. Além disso, para o metabólito 11-DHC, que é um dos focos da nossa pesquisa, não havia nenhum método disponível para fazer a medição”, acrescenta Lúcia Helena Faccioli.

“A vantagem do novo método é que, além dos mediadores lipídicos de interesse para nossa pesquisa, o procedimento também quantifica outros hormônios esteroides presentes na mesma mostra. Essa ferramenta poderá ser usada por outros grupos interessados em estudar a influência desses mediadores em diversos tipos de doença e processos infecciosos”, completa a professora.

Monitoramento

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o grupo da USP desenvolveu, durante o pós-doutorado de Ana Paula Ferranti Peti, uma técnica de monitoramento de reações múltiplas em alta resolução, usando o espectrômetro de massas, um equipamento capaz de separar e identificar substâncias com base no peso molecular.

“Avaliamos como os compostos se comportam quimicamente e criamos uma forma de detecção na qual eles são reconhecidos pela sua massa e pela massa de uma porção da sua molécula, após sofrer um processo de fragmentação. Assim, quando o equipamento reconhece a molécula íntegra e o seu fragmento, um sinal é registrado”, ressalta a pesquisadora.

Os resultados da pesquisa foram publicados no Journal of Mass Spectrometry, com destaque na capa da revista. Para validar a nova metodologia, os cientistas realizaram experimentos com uma linhagem de camundongos altamente suscetível ao estresse. Os animais foram submetidos a um protocolo muito usado em laboratório para criar uma condição de estresse crônico.

Como esperado, o teste revelou que o nível de corticosterona no plasma dos roedores submetidos ao protocolo estava 4,5 vezes maior que o do grupo controle, que não foi estressado, após 14 dias. A substância para os camundongos equivale ao cortisol para os humanos, ou seja, é um marcador de estresse, como destaca a docente.