USP e Sesc promovem leitura dramática de obra de Nelson Rodrigues

Com entrada gratuita, atividade sobre a peça ‘Vestido de Noiva’ será realizada em São Paulo no próximo sábado (25)

sex, 24/08/2018 - 10h08 | Do Portal do Governo

No próximo sábado (25), o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, na capital paulista, recebe a leitura dramática da peça “Vestido de Noiva”, escrita por Nelson Rodrigues (1912-1980). A iniciativa, agendada para 14h30, ocorre em parceria com o Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Universidade de São Paulo (USP), ligado à Escola de Comunicações e Artes (ECA).

Após a apresentação, será realizado um debate, com participação do diretor Marco Antonio Braz, referência na encenação e no estudo de Nelson Rodrigues, e da professora Elizabeth Azevedo, do Departamento de Artes Cênicas da ECA.

“Normalmente levamos uma pessoa da academia e alguém de teatro. Assim, o público ouve e debate também as visões de um acadêmico e de um artista”, destaca o coordenador do projeto e diretor de algumas apresentações, Roberto Ascar.

Narrativa

Vale lembrar que a leitura foi apresentada pela primeira vez em 1943 e tem como característica a divisão da dramaturgia em três planos de narrativa: realidade, alucinação e memória. No mundo real, Alaíde, uma moça da elite carioca, é atropelada e levada ao hospital entre a vida e a morte, ficando inconsciente.

Nesse momento, surgem dois outros planos, revelando os delírios da protagonista enquanto está desacordada e os acontecimentos que antecederam o acidente. A história foi escolhida para ser encenada no projeto devido às grandes inovações que introduz no teatro, principalmente em termos de roteiro.

“Vestido de Noiva é um marco. Muitos pesquisadores pontuam essa peça como o início do teatro moderno no Brasil”, avalia o vice-coordenador geral do Obcom, Walter de Sousa. A grande novidade está no modo como Nelson Rodrigues trabalhou os três planos narrativos. “As histórias vão se alternando, mas não são três atos. Elas se misturam”, lembra Roberto Ascar.

O projeto “Liberdade em Cena” nasceu a partir do acervo Miroel Silveira, que pertence ao Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo e reúne uma série de documentos sobre a censura no teatro paulista entre os anos de 1926 a 1968. Com cerca de 6 mil textos censurados por completo ou cortados, ele só começou a ser devidamente estudado no começo do século XXI, quando a professora da ECA Maria Cristina Castilho Costa, coordenadora geral do Obcom, ficou responsável pelos registros, iniciando uma pesquisa sobre eles.

Projeto

A parceria com o Sesc, através do projeto “Censura em Cena”, surgiu em 2016. “A iniciativa visava à leitura interpretada de doze textos proibidos pela censura, desde Getúlio Vargas até o fim da ditadura militar”, conta Roberto Ascar.

Na sequência, o “Liberdade em Cena” foi colocado em prática, destacando peças que, apesar de terem passado pelos censores, foram liberadas e posteriormente fizeram história nos teatros brasileiros. Só neste ano, Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, Morte e Vida Severina, baseado no poema de João Cabral de Melo Neto, e Gota d’Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes, já foram apresentadas.

A ideia é fazer a leitura dramática desses textos, mas com o roteiro sendo lido pelos atores, em vez de decorados. De acordo com Walter de Sousa, um dos grandes desafios é explicar como os autores conseguiram passar seus textos pelos censores.

Com entrada gratuita, a leitura dramática de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, será realizada na Rua Dr. Plínio Barreto, 285, na Bela Vista, em São Paulo. As inscrições devem ser feitas no site do Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc.