Terapia associada à medicação auxilia fumantes a largarem o vício

Tese de doutorado comprovou que a prática rendeu bons resultados, melhores até que os constantes da literatura médica

ter, 07/08/2007 - 16h18 | Do Portal do Governo

Os fumantes tornaram-se minoria no mundo. A cada dia vêem seu espaço reduzido em restaurantes, trabalho e em outros locais fechados que antes permitiam a fumaça do cigarro. O problema, para eles, é também abandonar o vício. Pensando nisso, a psicóloga Silvia Maria Cury Ismael ofereceu aos pacientes terapia associada à medicação, que rendeu bons resultados, melhores até que os constantes da literatura médica.

A terapia semanal foi posta em prática no Hospital do Coração, em São Paulo, durante seis semanas, e envolveu 61 pacientes, de 30 a 55 anos, divididos em grupos de cinco a dez pessoas. Nada menos do que 93,4% dessas pessoas pararam de fumar.

É considerado ex-fumante quem permanece no mínimo um ano longe do cigarro. Após 12 meses da terapia e consumo de medicamento, 49,7% largaram o vício definitivamente e 50,24% recaíram. Esses números são superiores aos conseguidos por métodos tradicionais; em geral 30% param de fumar e 75% voltam. 

Esse trabalho está na tese de doutorado Efetividade da terapia cognitiva comportamental na terapêutica do tabagista, que Silvia defendeu no mês de abril na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

O que diferencia a terapia de Silvia das demais é a abordagem da “cognição do fumante”. Ou seja, ela discutiu com o grupo questões emocionais e comportamentais associadas a crenças erradas: “O tabagista acha que sem fumar não consegue pensar nem obter prazer em certas atividades”.Medo de engordar – Apenas aplicar a técnica de controle de comportamento e incentivar o paciente a evitar locais com presença de tabagistas não é suficiente. “Só isso não indica que a pessoa vá parar”, diz. Ela explica que sua terapia aborda problemas psíquicos e estimula o paciente a não adotar comportamentos quase automáticos, como fumar quando fica estressado ou ansioso: “O fumante tem a falsa impressão de que o ato vai aliviar seus sentimentos”.

Nas conversas, a psicóloga trabalha com esses equívocos e mostra a importância de deixar de fumar e descobrir outras formas de enfrentar essas questões. É comum, entre as mulheres, o medo de engordar quando param de fumar. Porém, cigarro não emagrece, ressalva a psicóloga acrescentando que depois das tragadas a pessoa reduz a ansiedade e, conseqüentemente, o apetite. “Como não sente paladar, a comida é menos atrativa”, reforça. Quem compensa a falta do tabaco com a alimentação para se sentir melhor, engorda.

Ganhar quatro ou cinco quilos depois da suspensão do fumo é normal, informa Silvia, que aconselha a prática de esportes, caminhadas e alimentação saudável. O estudo conclui que o principal motivo de recaída, geralmente após cinco meses do tratamento, associa-se ao estresse (77% dos casos), seguido de ansiedade (19%). Pulmão limpo – Silvia atua na terapia com fumantes desde 1992. Trabalha no Hospital do Coração e há anos adota a terapia cognitivo-comportamental para tratar pacientes e funcionários. O técnico em eletrônica Marco Aurélio Gaspar, 34 anos, é ex-fumante há quase três anos. Participou da terapia da psicóloga em setembro de 2004: “O que me entusiasmou foram os benefícios e a qualidade de vida que adquiriria se largasse o vício. A doutora Silvia disse que, se parasse, depois de certo tempo meu pulmão e respiração seriam iguais aos dos não-fumantes. E diminuiria o risco do infarto”.

Gaspar também considerou o nascimento do filho naquela época: “Eu não queria que o pequeno tivesse meu exemplo de tabagista”. E outra: ficou assustado quando seus dedos começaram a formigar e lembrou que o sintoma poderia ser de doença que atinge somente os viciados em cigarro.

Conta que estava determinado a parar. Ver outras pessoas do grupo suspendendo a dependência também ajudou. “Vontade de tragar ainda tenho, mas passa rápido”, diz. Nesse momento, bebe água ou escova os dentes. Conta que seu olfato, paladar e respiração melhoraram.

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Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial