SP anuncia R$ 5,3 milhões para obras de igreja histórica

Secretaria da Cultura investe no restauro da Igreja das Chagas do Seraphico Pai São Francisco

qua, 24/02/2010 - 14h20 | Do Portal do Governo

O Secretário da Cultura de São Paulo, João Sayad, e o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, anunciaram nesta quarta-feira, 24, o início das obras de restauro da Igreja das Chagas do Seraphico Pai São Francisco, localizada no Largo São Francisco, na capital paulista.

Viabilizadas por meio de parceria entre o Governo do Estado e a Arquidiocese de São Paulo, as obras de restauro terão recursos de R$ R$ 5,3 milhões e vão envolver, prioritariamente, a cobertura da igreja, seus ambientes internos e o desenvolvimento do restauro da fachada frontal e projetos básicos de restauro das fachadas restantes. A conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2011.

A Igreja foi inaugurada em 1788 e é um dos mais importantes remanescentes do século XVIII paulista, em estilo barroco-rococó. A autoria do projeto de construção da Ordem Terceira é atribuída a Frei Galvão.

Em seu interior, estão alguns objetos raros, como o painel de Nossa Senhora da Conceição, de 1722, uma das “jóias” do barroco paulista, vários altares do século XVIII e XIX e restos mortais do Brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar – fundador e patrono da Polícia Militar de São Paulo e marido da Marquesa de Santos, morto em 1857; Genebra de Souza Queirós – ligada ao Barão de Sousa Queirós, morta em 1855; Antonio da Silva Prado, o Barão de Iguape (1875), pai de Veridiana da Silva Prado, entre outros.

As obras de restauro da Igreja, tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) em 1982, serão executadas pela Concrejato e gerenciadas pela FormArte.

A restauração

De acordo com o Decreto Estadual nº 13.426 de 16 de março de 1979, a responsabilidade pela preservação da igreja, tombada pelo Condephaat, era da própria Ordem e não do Estado. Em 6 de outubro 2006, o Decreto Estadual nº 51.159 passou para a Secretaria de Estado da Cultura e para a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo o dever de elaborar e executar um projeto de restauro.

Em 2008, a Secretaria da Cultura deu início ao trabalho emergencial de descupinização contratando o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado (IPT) de São Paulo, que indicou quais madeiras poderiam ser reaproveitadas na fase de restauro. O prazo para término deste serviço é julho de 2010.

Paralelo a estas medidas, os arquitetos Walter Luis Fragoni e Teresa Epitácio da UPPH – Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura – desenvolveram um projeto básico de restauro que prevê, principalmente, a recuperação geral das coberturas e seus ambientes internos. Este projeto foi aprovado pelo Condephaat em 5 de outubro de 2009, e pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) no dia 1 de dezembro de 2009.

A primeira fase do trabalho envolve o desenvolvimento do projeto executivo relativo à cobertura bem como sua execução. Também abrange limpeza e catalogação de toda a documentação pertencente à Irmandade, incluindo paramentos, peças litúrgicas e imagens integrantes dos altares.

Os arcos de madeira que estruturam o corpo mais elevado do telhado serão mantidos e reforçados, a escada do corredor lateral esquerdo será removida e outra escada que fica ao fundo do mesmo corredor será substituída. O que se propõe é a substituição das estruturas existentes de madeira por peças metálicas, já que o madeiramento existente não é original.

Para as laterais da igreja está prevista a substituição das coberturas por estruturas leves de aço protegidas por vidros. Na lateral esquerda, vista pelo Largo São Francisco, existe uma calha comum a ambos os telhados das Ordens Primeira e Terceira, e a nova estrutura metálica proporcionará melhorias na captação da águas pluviais, garantido também melhor iluminação e ventilação.

Outro destaque do projeto é a acessibilidade, por meio da implantação de rampas metálicas e uma plataforma elevatória para pessoas com necessidades especiais, além de novos equipamentos como sanitários e copa. Estes espaços demandarão o afastamento das paredes de taipa pela adoção de alvenaria seca (dry wall), necessária para as instalações de água, eletricidade e esgoto.

Criação da Ordem Terceira de São Francisco

A Ordem Terceira de São Francisco foi criada em São Paulo em 1641, pelo Frei Francisco de Coimbra. Em 1727 tem início a trajetória da Ordem, quando sua capela – de 1676 – tornou-se o centro do que havia de mais representativo na época. Foi uma associação economicamente expressiva entre a metade dos séculos 18 e boa parte do 19, e da qual fizeram parte homens decisivos da vida da capitania e província. A importância do espaço da Igreja pode ser medida pelo fato de lá terem sido enterrados o Padre Diogo Feijó (que não se encontra mais lá), o Brigadeiro Luis Antonio e Antonio da Silva Prado (Barão de Iguape), entre outros.

A capela da Ordem Terceira começou pequena e, em 1689 – 42 anos após a inauguração do convento, concluiu as primeiras estruturas, unida por um arco à nave da igreja da Ordem Primeira.

O estudo da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura revelou escritos do monge franciscano Frei Adalberto Ortman, em que ele afirma não haver “documentos que falem de como a Ordem Terceira tomou posse dos terrenos, que veio a ocupar desde a construção de sua capela e que hoje constituem seus bens imóveis”. Mas, ele menciona documentos de 1793, que atestam a transferência de mais terrenos ao convento da OT “para que esta pudesse reconstruir, em maiores proporções, a sua igreja”.

Assim, a inauguração da nova igreja ocorreu em 11 de setembro de 1788. Acredita-se que a construção deva ter recebido “valores substanciosos por parte de seus irmãos”, diz o estudo da UPPH. E isto em razão não só de sua arquitetura, em harmonia com a igreja da Ordem Primeira, mas, principalmente, pelas alfaias, pinturas e douração do templo. Sabe-se também que a maior parte da planta final foi obra de Frei Galvão, da Ordem Franciscana, o primeiro arquiteto paulista, que presidiu a Ordem Terceira por vários anos.

Da Secretaria da Cultura