Skate imita a vida

Cerca de 100 adolescentes praticam o esporte em três unidades da Fundação Casa

qua, 01/08/2007 - 10h24 | Do Portal do Governo

O projeto Skate na Frundação Casa está presente nas unidades Itaquera, Complexo Raposo Tavares e Internato Feminino Parada de Taipas. Cerca de 100 adolescentes praticam o esporte na instituição. Recentemente, com o nome de Skate nas Férias, o projeto passou a desenvolver atividades no período do recesso escolar. A programação substituiu as aulas semanais por visitas e apresentações de skatistas convidados.

A idéia de ensinar aos jovens internos essa modalidade esportiva partiu do skatista Sandro Soares, idealizador do Skate na Casa. O projeto foi implantado, efetivamente, na instituição em 2004.

Em 2000, Sandro trabalhava no Complexo do Tatuapé como voluntário ensinando aos internos o que sabia. Foi nessa época, durante uma apresentação ocorrida na unidade, onde entrou como bicão – alusão ao fato de não ter o seu nome escrito na lista dos convidados – que ele teve a idéia de desenvolver um projeto, que resolveu chamar de Skate imita a vida. 

Pedagogia própria

Para Sandro a grande importância do projeto – a exemplo de um skatista que repete diversas vezes uma manobra arriscada até conseguir ultrapassar um obstáculo – é ensinar ao adolescente nunca fraquejar diante dos problemas que possam surgir em sua vida. “Desenvolvi uma pedagogia para ensinar aos jovens, em situação de risco, valores que ajudam a superar as dificuldades que quase todos nós temos de enfrentar”, explica Sandro.

Para atingir o objetivo, nas aulas ele utiliza caixas customizadas. Elas representam obstáculos a serem ultrapassados pelos alunos. Em cada caixa, Sandro coloca uma palavra que define os problemas vividos por esses jovens – solidão, inveja, preconceito, drogas, violência – e representam situações de risco a serem superadas. “O menino salta os obstáculos e as meninas desviam”, conta o skatista.

Para as internas, Sandro usa cones com os mesmos dizeres: “Ao fazerem zigue-zagues em volta dos cones, com o skate, as garotas aprendem a desviar dos obstáculos que possam surgir em suas vidas. Então, isso tudo serve como um trabalho de prevenção”, afirma.

Incentivo ao estudo

O skatista também ensina aos alunos, por meio desse esporte, a importância de se dedicarem aos estudos: “Faço um paralelo, comparando os obstáculos com elementos da física, matéria que geralmente é considerada complicada pelos estudantes. Quanto à nomenclatura dada às manobras feitas com o skate, faço com que percebam que é importante aprender inglês. Dessa forma, eles passam a gostar mais dessas disciplinas”, exemplifica.

De terça a sexta-feira, Sandro dá aulas nas unidades da Fundação Casa: os garotos têm uma aula semanal e as meninas do Internato Feminino de Parada de Taipas, duas vezes na semana.

Para dar às aulas um ritmo mais alegre, são organizados campeonatos internos e apresentações com skatistas renomados. Nessas ocasiões, num bate-papo informal, os internos têm a oportunidade de fazer perguntas e conversar com os atletas que procuram deixar uma mensagem positiva por meio de suas experiências com o esporte.

Com a ajuda de empresas parceiras do projeto, como a Chilli Beans, a Stand Up e a Drop Dead, sempre presentes nas apresentações e nos campeonatos internos, Sandro consegue recursos para a montagem das rampas e obstáculos. Essas empresas também oferecem roupas e doam acessórios de segurança e, em alguns casos, chegam a pagar inscrições nos campeonatos locais para os alunos que se destacam no skate. No caso da Chilli Beans, alguns dos internos chegam a receber uma ajuda de custo como incentivo para continuarem a se dedicar ao esporte. “Esse tipo de ajuda é muito importante. É uma oportunidade que esses parceiros oferecem aos garotos, quando deixam a instituição”, alegra-se Sandro.

Reconhecimento

Ano a ano, o projeto Skate na Casa vem despertando o interesse da sociedade. Em 2005, chegou a ser premiado na categoria social e, de acordo com Sandro, os convites de interessados em conhecer a iniciativa, em diversos localidades do País, não param de chegar. “Estive no Rio de Janeiro, no Ceará e em Minas Gerais apresentando o Skate na Casa. Tem muita gente interessada no projeto. Para que essas pessoas conheçam trabalho realizado, encaminho um tape com uma matéria que a TV Globo fez comigo”, conta Sandro.

Recentemente, pelas mãos de um antigo voluntário, o projeto atravessou o oceano para desembarcar na Califórnia (EUA). “Esse voluntário me pediu permissão para, nos mesmos moldes do projeto, dar aulas a filhos de latino-americanos que se encontram em situação de risco”, informa Sandro.

Como explicar o sucesso da iniciativa? A resposta de Sandro é simples: “Vim de família humilde, nasci na periferia de São Paulo. Então comparo minha vida à desses garotos. No fundo, minha intenção não é formar atletas, quero primeiro formar cidadãos.