Skate ajuda Fundação CASA a reinserir adolescentes na sociedade

Interno da Grande São Paulo têm aulas do esporte uma vez por semana

sex, 17/07/2009 - 12h00 | Do Portal do Governo

O adolescente Eduardo*, de 17 anos, aproveitou a tarde da última quarta-feira, 15, para treinar novas manobras em uma moderna pista de skate localizada em Moema na zona sul de São Paulo. Acompanhado de um professor, ele e alguns colegas da mesma faixa etária ouviram instruções e dicas, comemoraram cada movimento novo, falaram sobre as disciplinas da escola e discutiram qual profissão vão seguir depois do colégio.

A sequência de fatos seria um fato corriqueiro para um jovem de classe média com a idade de Eduardo, sobretudo em julho, quando os estudantes estão em férias escolares. Entretanto o adolescente e os colegas são internos da Unidade de Internação Ipê da Fundação CASA, órgão ligado à Secretaria Estadual da Justiça e Defesa da Cidadania responsável pela aplicação de medidas socioeducativas nos jovens. Eles trocaram a quadra poliesportiva (onde praticam o esporte) e os muros da instituição por pistas projetadas especialmente para o esporte.

A ida até a Ultra Skate Park – um centro de treinamentos de skate em Moema – é uma espécie de prêmio oferecido aos internos que apresentam bom comportamento, se empenham nos estudos e participam de cursos na entidade – no dia-a-dia da CASA, os adolescentes frequentam a escola das 7h às 12h, têm várias refeições, fazem cursos profissionalizantes e de extensão das 13h às 17h e ainda participam de atividades culturais até as 21h, quando vão dormir.

A unidade Ipê mantém uma programação variada que inclui aulas escolares, cursos técnicos e atividades esportivas, de lazer e de cultura. Na instituição, os adolescentes contam com cursos profissionalizantes como produção de velas, pizzaiolo, informática, mecânica, salgadeiro, doceiro e grafite. Atividades culturais como ping-pong, teatro, percussão e noções de cinema completam a rotina dos internos. “Quero sair [da internação], arrumar um emprego e voltar a estudar. Afinal terei uma família para sustentar”, diz o jovem Eduardo, que deve deixar a Fundação CASA em setembro e ver o primeiro filho nascer em outubro.

A ideia de levar os adolescentes para fora da unidade de internação partiu de Sandro “Testinha” Soares, praticante do esporte há 16 anos e professor de skate da Fundação CASA desde 2000. “Acho que o skate imita a vida porque você sempre leva alguns tombos. Ao cair, é preciso se levantar, avaliar onde errou e tentar de novo. Esse esporte é capaz de romper barreiras, independentemente da classe social dos praticantes”, afirma.

Segundo “Testinha”, no começo do projeto, houve uma considerável dificuldade para encontrar um local apropriado para a prática do esporte na capital. “Sair da unidade, nunca foi problema. No início, o obstáculo estava em achar alguém que emprestasse um lugar adequado”, lembra.

A pista usada pelos internos da CASA é a única com formato de “piscina” do Brasil. Pequenos azulejos, mosaicos, luzes aquáticas, escadas e degraus compõem a decoração e viram obstáculos para os skatistas. Por lá, já passaram ícones do esporte como Lincoln Ueda e Bob Burnquist. O local pertence ao empresário Cristiano Mateus, também skatista profissional. “Sou amigo do Testinha e quando ele me explicou que tinha esse projeto, topei na hora”, disse Mateus, praticante do esporte há 23 anos.

A visita da Unidade Ipê da Fundação CASA à pista foi a primeira de uma série de aulas ministradas por Testinha que vai se estender até o dia 5 de agosto. Na próxima quarta-feira, 22, será a vez dos adolescentes da Unidade de Taipas de testar o local. Na sequência, no dia 29, os internos da unidade Cereja I, de Ferraz de Vasconcelos, experimentam a pista. Por fim, sete dias depois, a unidade Cereja II, também de Ferraz de Vasconcelos, encerra as visitas à academia.

*Nome fictício

Do Portal do Governo de São Paulo